Sexta-feira da 2ª semana da Páscoa

Retiro Pascal 2024

12 de abril de 2024

Atos dos Apóstolos 5,34-42
Salmo 26(27),1.4.13-14 “Ao Senhor eu peço apenas uma coisa: habitar no santuário do Senhor”.
João 6,1-15 – “A partilha é o grande milagre”

Pedido da graça

“Senhor, dá-me a graça de entrar nesta comunhão de vida Contigo e ter uma generosidade tão grande como a deste menino que dá sem se preocupar com investimentos ou resultados”.

Pistas para a oração

A presença do Ressuscitado no meio de sua Igreja se dá pelos sacramentos. Toda missa que celebramos, revivemos o mistério pascal na sua inteireza. Deus é bom, seu Filho, nosso Salvador e sua promessa é de que nunca estaremos sós. Por isso, toda Eucaristia é possibilidade de reavivar a entrega de Jesus na Cruz e sua Ressurreição na manhã do domingo.

O Evangelho de João não nos apresenta um texto que mostre “a instituição da Eucaristia” ao modo dos Evangelhos Sinópticos. João preferiu dar ênfase no derradeiro banquete de Jesus com seus discípulos ao ensinamento do Amor, exemplificado pelo serviço humilde de lavar os pés com a explicitação: “sereis felizes se o praticardes”.

No entanto, João não deixa de apresentar a Eucaristia. Vai fazê-lo de um modo muito próprio e deslocado na sua narrativa. Aliás, vai dedicar um longo capítulo, o sexto, a descortinar o mistério do pão descido do céu.

Neste dia, nossa oração se faz em torno da multiplicação dos pães no Evangelho de João (capítulo 6,1-15). Os banquetes tiveram uma importância fundamental na pregação do Reino de Deus. Tantas vezes Jesus comeu com pecadores para lhes mostrar a predileção do Pai em salvar os que estão perdidos e curar os que estão doentes. No Evangelho de João, o Cristo que vemos promovendo a multiplicação dos pães, mais que nos outros evangelhos, é revelado como o Senhor da História e de quem se percebe o protagonismo e a iniciativa. Logo na abertura, no primeiro versículo, o evangelista nos diz que Jesus perguntou para o discípulo como alimentar aquela multidão que vinha ao seu encontro, mas Ele já sabia o que devia fazer. Talvez, portanto, a pergunta ao discípulo fosse para envolvê-lo na ação, ensinar-lhe a confiança e revelar sua divindade.

Nos coloquemos na cena e reparemos os detalhes que são próprios ao Evangelista João. Filipe e André são os discípulos nomeados no diálogo com Jesus. Ambos demonstram a incapacidade humana de resolver a questão da fome apenas com os recursos da racionalidade. O primeiro vai, calcula o dinheiro necessário e, na pequena fortuna, parece naufragar no seu desânimo: “nem 200 denários seriam suficientes para dar um pedaço mínimo a tanta gente”. André até aponta para uma pequena luz – uns poucos alimentos na mão de um menino – mas no seu saber iluminado, duvida: “o que é isso para tanta gente”.

Jesus olhará a generosidade. Só no Evangelho de João aparece este menino (ou rapaz, conforme a tradução da Bíblia). E talvez seja com ele que a gente tenha de identificar na nossa oração. Tão pouco… e nas mãos de Jesus é tratado como dom precioso dado pelo Pai: tomou, deu graças ao Pai, celebrou a Eucaristia. Não houvesse esse menino com sua atitude de oferecimento não ocorreria o sinal, ou Jesus teria de buscar outro modo. O menino é fundamental na perspectiva joanina a respeito da Eucaristia e nós podemos entrar nesta cena a partir deste coração bondoso e generoso, capaz de partilhar. Ah! Este é o segredo: partilha é um dos apelidos da Eucaristia.

Na oração

Tome consciência de que está na presença de Deus e marque seu corpo, fervorosamente, com o sinal da cruz. Respire fundo e diz para si mesmo(a) “Meu Senhor e meu Deus, eis-me aqui para este encontro Contigo. Que todo o meu ser, meus desejos, pensamentos e imaginação estejam voltados unicamente para te amar e servir neste tempo precioso de encontro. Concede-me, Senhor, esta atenção necessária e este coração voltado para sua vontade”.

Lembre a história e crie na imaginação. Jesus, na montanha, vê a multidão que se aproxima e pergunta a seu discípulo como poderiam alimentar tanta gente. O discípulo, Filipe, diz ser necessário muito dinheiro. André apresenta um menino com alguns alimentos, mas se pergunta que fazer com tão pouco. Jesus valoriza o pouco e a generosidade do menino e o sinal do Reino acontece, alimentando a todos e sobrando com fartura.

Pede a graça deste tempo pascal: “Senhor, dá-me a graça de entrar nesta comunhão de vida Contigo e ter uma generosidade tão grande como a deste menino que dá sem se preocupar com investimentos ou resultados”.

Pontos.

Leia o texto de Jo 6,1-15.

Com a imaginação, veja a montanha, lugar de encontro com o Senhor. Jesus e seus discípulos e a grande multidão que vem até Jesus. Ouvir as palavras: as palavras da provocação: “como podemos alimentar essa gente?” – as palavras da razão e do raciocínio indiferente: “nem se tivéssemos… poderíamos.” – as palavras do raciocínio indiferente e desconfiado: “que é isso pra tanta gente”. Palavras de agradecimento e da confiança no Pai: “abençoou… e distribuiu.”

Perceba Jesus em seu ofício de Embaixador de Deus. Ele toma a iniciativa e provoca seus discípulos, mas Ele tem o poder de conduzir os acontecimentos. Acolhe o pouco que a generosidade do mais pequeno oferece. Abençoa. Distribui. Celebra a Eucaristia com aquela multidão. Perceber a dificuldade do discípulo, nosso representante nesta cena, não conseguir ir além daquilo que a inteligência aponta. Perceber a generosidade do menino, modelo a que somos chamados, oferecendo o pouco sem pensar nos resultados futuros de seu investimento. Perceber a multidão que vem a Jesus e por Ele é acolhido com uma grande festa.

Saborear esta comunhão com o Senhor e no Senhor. Ajude a distribuir os alimentos. Coma dos alimentos que nos é oferecido nesta cena tão bonita: pão e peixe.

Onde encontrar sabor e gosto, permanece. Não tenha pressa de ir adiante. Parou o fervor, volta ao itinerário e caminho propostos.

Colóquio: fale com o Senhor sobre seu desejo de viver esta grande generosidade que é sinal da presença de Deus pelo seu Espírito em seu coração. Peça e agradeça conforme te fala o Senhor. Escute o que o Senhor te diz. Apresente ao Senhor seu desejo sincero e verdadeiro de conhece-lo, amá-lo e segui-lo.

Colóquio em poesia – para mais saborear esse encontro…

Para ver-Te eternamente Vivo
tenho que aprender a enxergar além
como Tu enxergas
Ao olhar para a fome da multidão
e ver o pouco que tenho
meu instinto de autoproteção
ainda me conduz
a me proteger
a despedir
a reter
Mas Tu vês com o coração
sentes compaixão
superas os impasses
Tu me fazes voltar o olhar
para o Menino
que sempre está ao meu lado
lembrando-me
daquele pequenino que eu já fui
e que ainda vive em mim
Só abraçando esta Criança
que ainda não se rendeu
à matemática limitada dos adultos
posso aprender contigo
o dom generoso
o olhar para o Alto
a confiança na força
da aliança entre
a ação de graças e a partilha
Filho do Céu
ensina-me
este olhar
esta infância
esta entrega total
que sacia toda fome e sede
de Vida em plenitude

Francys Silvestrini Adão SJ

Retiro Pascal

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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.

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