Terça-feira da 2ª semana da Páscoa

Retiro Pascal 2024

9 de abril de 2024

Atos dos Apóstolos 4,32-37
Salmo 92(93) Reina o Senhor, revestiu-se de esplendor.
João 3,7b-15 – “A vida nova brota de Jesus”

Pedido da graça

“Senhor, não deixe que minha soberba e orgulho me afastem de Ti, mas me ajude a experimentar a força do seu Espírito que me traz a consolação de sua Páscoa e me faz renascer”.

Pistas para a oração

A liturgia retoma o elenco de leituras próprias do Tempo da Páscoa. Neste dia, nos apresenta um trecho do encontro de Nicodemos e Jesus. O relato do encontro de Nicodemos e Jesus se encontra no Evangelho de João, capítulo 3, 1-21 e depois nos versículos 31-36. A liturgia seguiu a compreensão de que estes últimos versículos (31-36) se referem ao tema principal do capítulo 3 do Evangelho de João e por isso os coloca na sequência da do elenco dos Evangelhos lidos nas celebrações desta segunda semana da páscoa.

Ao celebrarmos no dia de ontem a Solenidade da Anunciação, a organização litúrgica teve de deixar fora o início do encontro entre Nicodemos e Jesus. Com isso, devemos tomar todo o conjunto dos versículos que narram a catequese dada a Nicodemos. Desse modo podemos saborear melhor o contexto em que este diálogo se desenvolve, podemos rezar começando desde o primeiro versículo, dividindo em três dias todo o conteúdo deste acontecimento.

Quem é Nicodemos? Ele é membro do partido dos fariseus, ocupando “alto cargo”, um doutor da lei, estudioso das Escrituras. Ele busca a Deus com sinceridade e por isso foi tocado pela mensagem de Jesus. É um homem honesto e aberto ao diálogo. Nicodemos chama a Jesus de Rabi, portanto reconhece sua autoridade. Nicodemos não é um homem fechado, mas, pelo contrário, aberto ao outro e capaz de reconhecer em Jesus o direito à palavra e ao ensino. Nicodemos ouviu o ensino de Jesus e deixou-se questionar pela sua novidade. Respeita Jesus como igual, “mestre”, e como superior, “enviado de Deus” – como nos diz a Bíblia do Peregrino.

Durante a noite, Nicodemos procura por Jesus para ser esclarecido. Aliás, se este encontro começa na escuridão da noite, terminará na iluminação da luz que vem de Deus. O fato de buscar a Jesus durante a noite tanto pode significar a confusão de seu estado de espírito quanto o seu medo de ser tratado como discípulo de Jesus por seus pares.

O Evangelista João tem uma maneira de conduzir seu relato em diálogos nos quais Jesus desafia seus interlocutores a novos entendimentos. A dificuldade de compreensão não se dá simplesmente por falta de capacidade intelectual. A dificuldade de compreender aponta para um convite – por parte de Deus – a caminhar e aprofundar num processo de iniciação à fé cristã. “Nascer de novo” é o dom que nos é dado pelo batismo e pela experiência dos “santíssimos efeitos da Ressurreição do Cristo”. O evangelista encena um processo em que o interlocutor de Jesus tem de ir superando os níveis de compreensão, na superação de resistências, no acolhimento da revelação de Deus em Jesus. Ao fim, nós descobrimos que o conhecimento com o Senhor, de fato, é um dom dado por Jesus. Jesus, como enviado do Pai, quer oferecer a todos esse caminho de comunhão.

Se repararmos o conjunto do texto, isto é, do versículo 1 ao 21 e depois do 31 ao 36, vamos notar um enfoque trinitário. Dos versículos 1 ao 8, o protagonista é o Espírito. Ele é que, junto com a água, nos faz entrar no Reino de Deus. Ele é como o vento que sopra onde quer, sem que saibamos de onde vem ou para onde vai (a bem da verdade, sabemos sim, pois o evangelista ao usar essa expressão “de onde vem”, em geral está apontando para uma origem divina. O Espírito vem de Deus). Nascido do Espírito, entramos no Reino de Deus ao darmos crédito a quem veio do alto, portanto de Deus, – este Homem – Jesus. Isso é descrito nos versículos 10 ao 15. A conclusão da parte cristológica é o a referência ao Cristo Crucificado que, ao modo da serpente levantada por Moisés no deserto, atrai a si o olhar da humanidade. Olhando para o Cristo Crucificado seremos curados de nosso pecado e experimentamos sua vida nova e verdadeira. A terceira parte, o protagonista é o Pai que nos deu Jesus por seu amor ao mundo. O Pai não quer a perdição do ser humano, mas sua salvação que nos é dada pelo crer em Jesus.

O trecho isolado, versículos 31-36, podemos perceber uma visão trinitária em ação. “O Pai ama o Filho, confia-lhe tudo, dá-lhe o Espírito em plenitude, envia-o. O Filho, cheio do Espírito, dá testemunho do que viu e ouviu, coisas celestes.” (Bíblia do Peregrino)

Na oração

Tome consciência de que está na presença de Deus e marque seu corpo, fervorosamente, com o sinal da cruz. Respire fundo e diz para si mesmo(a) “Meu Senhor e meu Deus, eis-me aqui para este encontro Contigo. Que todo o meu ser, meus desejos, pensamentos e imaginação estejam voltados unicamente para te amar e servir neste tempo precioso de encontro. Concede-me, Senhor, esta atenção necessária e este coração voltado para sua vontade”.

Lembre a história e crie na imaginação. À noite, um dos chefes dos fariseus, Nicodemos, vem a Jesus e com Ele estabelece um diálogo.

Pede a graça deste tempo pascal: “Senhor, não deixe que minha soberba e orgulho me afastem de Ti, mas me ajude a experimentar a força do seu Espírito que me traz a consolação de sua Páscoa e me faz renascer”.

Pontos.

Leia o texto de Jo 3,1-15.

Com a imaginação, veja a casa em que Jesus costumeiramente se hospedava em Jerusalém. É noite.  Veja Nicodemos com suas dúvidas e preocupações e ao mesmo tempo com curiosidade e desejo de conhecer mais a Jesus. Sinta a boa acolhida de Jesus em sua missão de revelar o Pai. Saboreie a atmosfera de corações que superam diferenças em um diálogo tranquilo e esclarecedor.

Perceba Jesus em seu ofício de Embaixador de Deus. Acolhe e inspira.

Perceba Nicodemos em sua ânsia de conhecimento e ao mesmo tempo na humildade de buscar por Jesus e saber que Jesus vem de Deus.

Saboreie. Fique na presença de Jesus e de Nicodemos. Experimente o perfume do ambiente e da paz que se estabelece naquele lugar. Jesus, mestre e Senhor, ensina. Nicodemos, discípulo e buscador, segue Jesus com coração aberto.

Onde encontrar sabor e gosto, permanece. Não tenha pressa de ir adiante. Parou o fervor, volta ao itinerário e caminho propostos.

Colóquio: Coloque-se no lugar de Nicodemos e fale com o Senhor sobre todas as escuridões que tomam conta de seu coração; dialogue e peça conforme o Espírito fala em seu coração Escute o que o Senhor te diz.

Colóquio em poesia – para mais saborear esse encontro…

Segundo os critérios deste mundo
Chamam-me doutor
Mas para entrar em Teu Reino
Devo reconhecer meu não saber
E permanecer um aprendiz.
Segundo critérios deste mundo,
a alegria vem de honras e acúmulos,
mas para entrar no Teu Reino
devo tornar-me leve e livre
como o Vento e o Mistério.
Segundo os critérios deste mundo,
Busca-se crescer e não depender,
mas para entrar em Teu Reino
devo aceitar permanecer filho
na elevação e no abaixamento.
Sim, só Tu és Mestre da Vida Nova.
Sempre viveste como Ressuscitado
porque não retiveste nada para Ti.
Ensina-me aqui na terra
a inspirar e expirar
a receber e entregar
a morre e renascer.
Assim meu ser inteiro
pouco a pouco
será para os outros
um dom do Alto
um som do Teu Sopro
um pedacinho do Teu Céu.

Francys Silvestrini Adão SJ

Retiro Pascal

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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.

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