A viúva, uma mulher sem nome

Simone Furquim Guimarães

A leitura do Evangelho hoje é Mc 12,38-44. O texto aponta para o gesto da viúva que oferta no cofre do Templo duas moedinhas que não valiam quase nada e era tudo aquilo que ela possuía para viver (cf.  vv.42 e 44).

É importante perceber em todo contexto das narrativas dos capítulos 12 e 13 de Marcos, que Jesus estava no Templo, em Jerusalém, e travou vários discursos com seus opositores (as autoridades religiosas e políticas) sobre a questão da salvação. E nos versículos que antecede ao texto de hoje, Jesus critica e adverte sobre a exploração desses religiosos “que devoram as casas das viúvas” (Mc 12,40); fazendo, assim, referência à exploração econômica que leva a desigualdade social e o empobrecimento, sobretudo das pessoas mais socialmente fragilizadas.

A viúva, uma mulher sem nome, fazia parte da categoria social de pessoas que, segundo a Lei (cf. Dt 10,18), Israel deve fazer justiça e proteger. Mas no tempo de Jesus essa lei não era mais cumprida pelos judeus.

Jesus, o verdadeiro pão partilhado, denuncia que no centro do poder político e religioso (na cidade de Jerusalém) está faltando pão para as viúvas, para as categorias sociais marginalizadas daquele tempo.

É neste contexto de conflito em torno do Templo e das autoridades religiosas que se exaltam e exploram as pessoas, Jesus aponta a figura da mulher como exemplo verdadeiro de demonstração de fé e de doação. Jesus usa o exemplo dessa mulher para ensinar a multidão e os discípulos. A viúva pobre é a chave de leitura para compreender o Reino de Deus: no Reino de Deus não pode haver desigualdades sociais.

É importante compreender que, ao citar a viúva como exemplo de salvação, Jesus quis denunciar as injustiças sociais e as explorações econômicas que levavam as pessoas à miséria: enquanto houver “doutores da lei” esbanjando riquezas materiais, haverá pessoas (e sobretudo, mulheres viúvas) passando fome.

Ao reler esta narrativa, no contexto de nossa realidade, deveríamos estar atentos às desigualdades sociais; e, assim como Jesus, também denunciar: qual tem sido a opção preferencial das igrejas cristãs? como os cristãos/ãs estão agindo em relação ao próximo empobrecido?


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Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).


Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.

Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.

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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.

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