A experiência de Deus na vida cotidiana
Alexandra Amaral
Iluminada pelo Espírito Santo de Deus, peço que o Senhor me conduza a partilhar algumas das minhas experiências nos EE (Exercícios Espirituais). Através das propostas de Santo Inácio vamos juntos fazer uma pequena peregrinação na minha experiência de vida.
Falar da própria “Vida”… Essa em ação com a dimensão do “VERBO ENCARNADO”… A princípio parece fácil, mas ouvir as ressonâncias interiores me causa grande provocação, então, de maneira tranquila e sincera, gostaria de fazer essa partilha que tem como inspiração o memorial de vida para admissão do processo da EFOE (Escola de Formação de Orientação Espiritual), por mim concluído em 2021.
A minha história com os EE teve início há mais ou menos 33 anos, na Casa de Retiros Santo André, em São José do Rio Preto. Eu sempre fui muito atuante e desejosa de conhecer esse Cristo que se fez homem, além do que era participado para nós “naqueles tempos”…, fazia retiro com a Legião de Maria, quando nos foram dados alguns pontos sobre a contemplação. Mas foi quando conheci uma hoje amiga de comunidade, Sueli Merighi, no curso de Teologia para Leigos e pedi para que me ensinasse a rezar como eles rezavam… Iniciei os EE em etapas e depois fui convidada para uma pré-comunidade, que hoje é a Comunidade Peregrino da Regional São Paulo da CVX.
Os Exercícios me contagiaram e, mais ou menos 19 anos atrás, eu já vivia a experiência dos EE na minha vida, não mais conseguia tomar as decisões sem rezar antes. Eu tinha feito mais que um retiro de oito dias, mas nunca tivera a oportunidade de fazê-los no Mosteiro de Itaici. Sempre com muito desejo, mas não conseguia conciliar meu trabalho com as datas deles. Tinha a facilidade de participar dos retiros aqui, em São José do Rio Preto, então não me atentava a outra possibilidade. Mas em uma reunião que eu estava em São Paulo soube que o retiro anual da CVX seria em Itaici, e um dos membros me ajudou financeiramente para que eu pudesse fazer. Além disso, uma amiga que residia nas proximidades de Mirassol, onde moro, também faria o retiro – a querida Gilmara, que também faz parte da CVX. Assim, me inscrevi e fui…
Naquele retiro, cujo orientador foi o querido e saudoso padre Herreros, SJ, iniciava-se uma experiência significativa do quanto o amor de Deus está sempre presente na minha vida. Meu acompanhante espiritual foi o querido Lacerda, sendo que eu já tinha experiência de acompanhamento espiritual antes: a Irmã Ana Maria (Irmã de Santo André).
Eu nunca tinha saído dos lugares de oração que já conhecia (Casa, Colégio e Igrejas) e pude saborear pela primeira vez a busca de outro lugar para rezar, que eu só conhecia por imagens ou relatos. A princípio senti algumas resistências com o lugar desconhecido, mas não resistência a quem encontraria na oração, pois estava aberta e desejosa para que acontecesse. Mas não foi no primeiro, tão pouco no segundo ou terceiro dia… Eu me colocava prontamente para a experiência do dia, as celebrações sempre significativas, tudo colaborava. Eu ainda me encontrava em recuperação de uma cirurgia do túnel do carpo (como não estava trabalhando, por ter feito a cirurgia, aproveitei a data do retiro) e a minha mão direita estava imobilizada, mesmo no silêncio tive prontamente alguns auxílios… Meu quarto era quase do lado da Capela da Santíssima Trindade… muitos dos meus momentos de oração foram feitos nesse lugar…
O lugar maravilhoso, as colocações, todo espaço era um convite para a oração… Com a orientação que tivera, no terceiro dia minhas resistências foram se distanciando, eu rezava a Encarnação, e sempre essa contemplação mexia muito comigo: alguns anos antes eu havia perdido um bebê, em uma gestação de quase nove meses, e todas as vezes que rezava o texto as lembranças vinham… Com alguns sentimentos e apelos, algumas resistências, mas os sentimentos estavam diferentes dos dias anteriores e me fizeram sentir paz e gratidão a Deus por estar na confiança d´Ele.

Foi então que encontrei, na Capela da Santíssima Trindade, o apelo de Deus que tanto desejava sentir…
No dia anterior eu tinha conhecido a Capela do Espírito Santo e partilhei com o acompanhante, que pediu que eu fizesse uma repetição, me esclareceu muitas coisas acerca das angústias e todo esse movimento interno que estava vivenciando. Foi então que encontrei, na Capela da Santíssima Trindade, o apelo de Deus que tanto desejava sentir, experimentar e escutar, e foi tornando-se consolação, senti muita paz interior, que me inundava de alegria, e me encorajava. Eu confiava na ação de Deus na minha vida, como prosseguir? Buscar? Como dar continuidade às experiências? Foi tudo muito rico e, até o término do retiro de oito dias, tive sentimentos de paz, alegria e confiança em Deus.
Eu sei que é ação de Deus na minha vida porque me ajudou a formar a família que tenho hoje e, mesmo com uma segunda gestação conturbada, tenho a minha filha, a Maria Sofia, de 10 anos e meio, que me ensina todos os dias a ser agradecida a Deus. Meu marido Jaime José, que sempre oportuniza para que eu possa dar continuidade na vida de oração, não me privando de um retiro anual. Foi depois desse retiro que tive a certeza, através da oração, que o Senhor me chamava para ser família.
No mesmo retiro em “como continuar”, foram oferecidas ao grupo algumas sugestões, dentre elas o Voluntariado no Anchietanum. Então terminei o retiro de oito dias, retornei a Mirassol e voltei em uma jornada de quinze dias em São Paulo para colocar em ação a experiência de oração. Fiquei ajudando a Casa São Martinho, que atende moradores de rua: foram dias de muita riqueza e consolação.
A minha Comunidade CVX sempre esteve atenta à missão que eu participava. Fiz muitos outros retiros, oferecidos pela CVX e por Itaici, todos com suas experiências incontáveis. Em 2019, tive a oportunidade de fazer uma viagem à Terra Santa, pensei em todo o contexto da viagem de Inácio e, orientada pela Irmã Maria Cacilda, antes da viagem, rezei todos os lugares onde eu passaria em Jerusalém…
A experiência em Jerusalém é riquíssima: estar no local onde ocorreram todos os acontecimentos que precederam a história da nossa religião. Fui à peregrinação com um grupo de 36 pessoas, o nosso diretor espiritual foi o meu pároco. Iniciamos pela Itália, visitamos o Vaticano, tivemos a experiência do Ângelus com o Papa Francisco e o encerramento do Sínodo da Amazônia, sentimentos de devoção. Visitamos as Basílicas principais onde também celebramos a eucaristia diariamente. Em uma das visitas do dia, em alguns dos lugares foi possível um tempo de oração, estava com adrenalina a mil, vi a “riqueza” do Sagrado e o Profano perpetuarem o tempo… Cássia, Assis, enfim sem detalhar muito. Estar no local real onde pessoas que foram apaixonadas pelo Cristo caminharam, sofreram, mas tiveram e deixaram a experiência de fé para outras pessoas foi fascinante ou, no linguajar inaciano, foram sentimentos de profunda consolação. A voz de Deus ecoa nessas ruas e vielas, me transportei para os lugares, contemplava e imaginava o que acontecera ao longo dos séculos, a contribuição que deixaram para o mundo cristão e não cristão, é tudo indescritível… Partimos para Jerusalém e agora literalmente posso falar, como o salmista, “visitei a casa do meu Senhor!”…
Sempre desejei muito essa viagem e ela estava na programação do meu cinquentenário de vida, que se deu no ano de 2020 (ainda bem que aconteceu no fim de 2019, antes da pandemia), mas Deus providenciou e tudo aconteceu com muita oração e discernimento, ainda mais porque fui sozinha: meu marido e minha mãe se disponibilizaram para ficar com a minha pequena. Vivenciei as consolações diárias de cada local visitado, agradecida a Deus por ter experimentado anteriormente em minha vida, rezado e contemplado nas orações esses lugares que agora me transmitem com muito mais intensidade a experiência do amor de Deus, penso que terei a oportunidade um dia detalhar. As celebrações, desde o dia que voltei, já têm outro sabor.
Acredito que é um pouco tudo isso, os EE fazem parte da vida cotidiana e sempre, na oração pessoal, me auxiliam para eu continuar a fazer um bom discernimento e me ajudam ser a presença de Cristo no mundo. Agradeço a comunhão da minha comunidade CVX… e a oportunidade de ouvir as pessoas, durante e após o período de confinamento, me fez ser mais agradecida e ter a certeza que a oração nos transforma e nos transporta para a experiência com o Cristo Jesus. Como diz a oração de Santo Inácio:
Tudo o que tenho e possuo, vós me deste com amor. Todos os dons que me destes com gratidão vos devolvo, disponde deles Senhor, segundo a vossa vontade… isso me basta nada mais quero pedir. Amém.
Alexandra Amaral é leiga, pertencente à Comunidade de Vida Cristã (CVX), comunidade Peregrino, Mirassol (SP).
Imagem: Claudio Pastro — Os três anjos no Mambré, 1990. Capela da Santíssima Trindade, Itaici, Indaiatuba (SP).
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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.
Nossa!!! Você citou tanta gente querida! Saudades do padre Herreros, Sueli, Gilmara, Lacerda, Ir. Ana Maria, Ir Cacilda. Obrigada por compartilhar tantos momentos significativos! Fé e Vida Peregrina!
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