Por que Deus quis ser Trindade?

Joana Eleuthério

(Colocando-me diante de um Mistério Gigantesco – um recolho de textos orantes)

Desde toda a eternidade o Pai envia o Filho, que voltando ao Pai envia o Espírito. Deus, portanto, está acima de nós (Pai), ao nosso lado caminhando conosco (Filho) e dentro de nós, inspirando-nos e guiando-nos para o serviço e o amor aos irmãos (Espírito Santo).

Maria Clara L. Bingemer

Ficamos assim sabendo que o fundamento de tudo
o que existe não é solidão, mas “sociedade” …
E por que temos a Trindade e não a Dualidade?
Uma dupla – Pai e Filho – não bastaria?
Por que este terceiro – um Espírito tão difícil de se perceber?
—Uma dupla seria mais facilmente uma “sociedade” fechada…
Um buscando-se sempre no olhar do outro—um narcisismo duplicado.
Só um terceiro, para destruir os muros desta prisão, abrindo-se ao infinito.
No casal humano, por exemplo, o filho é a unidade do pai e da mãe.
Na falta do filho, os laços sociais e a amizade podem preencher esta função de superação.
Mas Deus é a superação de Si mesmo: por isso é chamado de Criador.
—Exatamente por isso, é a tríade ‘Pai, Filho e Espírito’ que gera a vida
O fato de criar é derramar-se; por ser essa santa efusão, Ele se derrama em nós.
A conclusão ética: só alcançamos a verdade do nosso ser, a imagem e semelhança de Deus, e só podemos participar da “natureza divina”,
pelos laços do amor que nos une aos outros.

Marcel Domergue (1922-2015), sacerdote jesuíta francês

A Santíssima Trindade é a comunhão do Pai e do Filho e do Espírito Santo: uma única vida divina, mas vivida na koinonía, na sinfonia de sujeitos de um amor único, o ágape (cf. 1Jo 4, 8.16: “Deus é amor”).

Enzo Bianchi

Assim, precisamos defini-lo como relação, dom, partilha, comunicação, intercâmbio, comunhão. A única maneira de alcançar a totalidade é necessariamente três pessoas em Deus, porque o Amor tem isto de particular: é preciso que exista um terceiro: “O meu mandamento é este: amem-se uns aos outros, assim como eu amei vocês” (Jo 15,12). O Amor não volta àquele que ama; se dá a outro, daí seu crescimento e a sua fecundidade. Também, o Amor não se fusiona; ele estabelece uma relação interpessoal. É o que faz dizer ao padre francês Léon Paillot: “Deus, nosso Deus é essencialmente relação, intercâmbio. Mas é preciso uma terceira pessoa para que todos os Eus se tornem um Nós”.

“Deus, na Bíblia, tende ao descentramento de si próprio, e é o Espírito que é o operador. Ele é a fecundidade operacional de Deus, a sua feminidade e a sua maternidade. A feminidade, ela própria, é experiência de Deus”. E Gérard Sindt acrescenta: “Quando se fala de pessoas em Deus, é sempre o Espírito que é o mais difícil de atingir. Ele representa aqui a terceira pessoa, isto é, nós”. Nós estamos envolvidos, portanto, do mistério de Deus, da Trindade. Também, para que haja comunhão, é preciso três pessoas; se não houvesse mais do que duas, seria simplesmente uma relação. Assim, o Espírito assegura a fecundidade do Amor do Pai ao seu Filho que o partilha conosco.

Raymond Gravel

Trindade não é uma verdade para crer, mas uma presença a ser acolhida, uma experiência a ser vivida. Uma profunda experiência da mensagem cristã será sempre uma aproximação ao mistério Trinitário.

Padre Adroaldo Palaoro

Tudo o que “sabemos” da Trindade pode ser um estorvo para viver sua presença vivificadora em nós. Calar sobre Deus, é sempre mais exato que falar. Dizem os orientais: “Se tua palavra não é melhor que o silêncio, cala-te”. O decisivo é viver o Mistério da Trindade a partir da adoração e da partilha fraterna.

Padre Adroaldo

Só quando se intui, a partir da fé, que Deus é só Amor e se descobre fascinado que não pode ser outra coisa senão Amor presente e palpitante no mais fundo da nossa vida, começa a crescer livre no nosso coração a confiança num Deus Trindade de que o único, que sabemos por Jesus, e que não pode senão amar-nos.

José Antonio Pagola

Voltando à pergunta inicial que foi rezada por mim (mas ainda continuarei rezando), sinto-me feliz por compreender um pouco mais desse mistério inquietante, que me faz lembrar da criancinha na praia que deu uma lição a Sto. Agostinho, que dedicava muitas das suas horas indagando sobre o mistério da Trindade. O santo viu uma criança tirando, com uma colherzinha, a água do mar para encher um buraquinho na praia. O Santo aproximou para observar melhor, quando a criança levantou os olhos e o surpreendeu dizendo:  “É mais fácil para mim transportar a água do mar para encher este buraquinho do que a tua razão compreender a beleza do inescrutável mistério da Santíssima Trindade.”

— Matéria para rezar em profundo silêncio … Escutar e sentir.

Brasília, 25 de março de 2022


Joana Eleuthério é graduada em Letras. Servidora pública aposentada da Secretaria de Estado de Economia do Distrito Federal – Escola de Governo do Distrito Federal (EGOV).
Inaciana, avó e mãe, caminha pelas estradas de Jesus, de Santo Inácio e de Santa Teresa de Ávila, por onde tem se inserido na Comunidade do Centro Cultural Brasília (CCB/Jesuítas). Muito grata pela caminhada realizada até aqui.

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Caminhante sem nenhuma linearidade e com variados interesses – uma buscadora incansável.

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