Irmã Dorothy
Simone Furquim Guimarães
A leitura do Evangelho hoje é Mc 8,1-10. Trata da narrativa da multiplicação de 7 pães e alguns peixinhos. O milagre acontece na região dos pagãos, chamada Decápole. Esta é a segunda narrativa sobre a multiplicação dos pães. Enquanto a primeira multiplicação aconteceu junto aos judeus (Mc 6,31-44), esta segunda é feita para os pagãos.
Interessante observar nesse conjunto de narrativas, que Jesus faz missão na região dos pagãos: ele vê, ouve e tem compaixão. Isto acontece logo após a conversa que ele teve com a mulher Siro Fenícia, no cap. 7,24-30. Esta mulher é uma pagã, ou seja, não pertence ao judaísmo, é estrangeira. Ela despertou a compreensão em Jesus (que é um judeu), que todos e todas são filhos de Deus e merecem o mesmo tratamento. Depois desta conversa, Jesus amplia seu olhar para a universalidade da salvação de Deus. Agora os pagãos não são reduzidos a comer as migalhas que caem da mesa dos filhos do Reino. Agora eles pertencem à festa do Reino e se alimentam do banquete igualmente e com fartura (sobram 07 cestos).
A leitura diz que Jesus teve compaixão dos pagãos daquela região. Era uma grande multidão de famintos: “Não tem nada para comer”. Jesus tem compaixão dos pobres; não são judeus, porém são igualmente injustiçados pelo sistema político e social daquele tempo. A leitura nos provoca a reconhecer a universalização da salvação, o respeito e diálogo fraterno e amoroso com as diversidades humana, assim como fez nosso mestre, Jesus de Nazaré.
Hoje, recordemos também da vida e luta de uma grande discípula do Nazareno. Hoje completa 17 anos do assassinato de irmã Dorothy Stang, que rompeu as fronteiras e muros dos templos, atravessou para outras margens, viu, ouviu a injustiça social contra os indígenas do Pará, região da Amazônia; teve compaixão dos campesinos e das campesinas, e ali promoveu a sua “multiplicação dos pães”. Ou seja, sua atividade missionária promoveu emprego, renda e dignidade com projetos de desenvolvimento sustentável para os trabalhadores rurais, além de minimizar os conflitos fundiários daquela região.
Assim como nosso Mestre de Nazaré, irmã Dorothy assumiu sua vida e sua luta pelos empobrecidos. Sua frase célebre deve ressoar em nós e em nossas ações cristãs:
Não vou fugir e nem abandonar a luta desses agricultores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor numa terra onde possam viver e produzir com dignidade sem devastar”.
Ir. Dorothy Stang

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Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).
Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.
Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatina.
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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.