Luiz Fernando Krieger Merico

Em sua mensagem para a Jornada Mundial para a Paz em 2014, o papa Francisco começava reconhecendo que todos aspiramos a uma vida marcada pelo desejo de fraternidade. Essa profunda aspiração se vê frustrada no dia-a-dia pelos contínuos atentados contra os direitos humanos, contra vida, a dignidade e a liberdade das pessoas. O papa assinalava então, seis tarefas para exercitar a fraternidade. Seis tarefas para que os dons da fraternidade sejam postos em ação e sigam presentes. Essas tarefas já eram um núcleo básico da encíclica Fratelli Tutti.

A primeira tarefa é a construção da paz. Sermos pacifistas. A paz é obra da solidariedade, do desenvolvimento sustentável, de um progresso com bem-viver. Tendo claro que somos todos irmãos, devemos construir uma cultura de paz para substituir progressivamente a violência de nossa sociedade. E como somos violentos!! É impressionante a violência em todas as direções.

A segunda tarefa é a luta contra a pobreza. A ausência de fraternidade permite o aprofundamento e manutenção de uma desigualdade social que é escandalosa. Não podemos deixar que a pobreza e a pobreza extrema sejam coisas normais. Não são. Nos é que deixamos que sejam. É tarefa dos cristãos lutar contra as desigualdades sociais estruturais em nossa sociedade.

A terceira tarefa é a humanização da economia. A ânsia e ganância por lucros e enriquecimento acaba escondendo que a economia deve ser saudável e solidária, gerando bens e benefícios para todos e todas, que todos e todas estejam incluídos na construção de bens comuns.

A quarta tarefa é muito importante também: trata da abolição das guerras. Parece que há uma indiferença geral com os conflitos que geram gigantescos sofrimentos humanos. Por trás está sempre as empresas que produzem armas e querem vende-las, gerando lucro com a morte. Um cristão não pode, em nenhuma hipótese, ser a favor da existência de fábricas de armas e da venda de armas. No Brasil atual a venda de armas aumentou nos últimos anos, e, sem surpresa, os homicídios por armas de fogo. Temos que dizer um forte e direto NÃO às armas de fogo.

Como quinta tarefa o papa Francisco colocava a extinção da corrupção em todas as suas vertentes: econômica, jurídica, nas relação pessoais, na política. É trágica, em todos os lugares, a realidade dominada por grupos criminosos. A corrupção atua no sentido da exclusão, da miséria, da manutenção de privilégios… e tudo isto é contra a fraternidade universal.

Finalmente, um último exercício, é a proteção da natureza, que providencia a possibilidade da existência da vida, da sociedade e da própria economia. Sem uma natureza protegida, bem comum de propriedade da humanidade, não haverá água, energia, comida, habitação segura.

São exercícios, para serem exercitados. Finalizava o papa Francisco naquela oportunidade, que a fraternidade tem a necessidade de ser descoberta, amada, experimentada e anunciada. Fraternidade é para ser praticada. Como está nossa prática de fraternidade?   

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Luiz Fernando Krieger Merico é graduado em Geologia (UFPR), mestre em Análise Ambiental (UNESP), doutor em Geografia (USP), possui aperfeiçoamento no Schumacher College (Inglaterra) em Economia Ecológica. É autor do livro Mística do século XXI: Guia de Oração com as encíclicas Laudato Si’ e Fratelli Tutti (e-book).

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