Alegre-se, Maria! É Natal!

Joana Eleuthério

O sim de Maria revela a grandeza, a beleza e a responsabilidade das decisões da liberdade humana.

Pe. Adroaldo Palaoro, SJ

A jovenzinha estava perto da fornalha e iniciava o almoço. Como de costume cantava. A sua voz espalhava com suavidade o salmo 23 “O Senhor é meu pastor … ” De repente, a penumbra daquela cozinha tão simples iluminou-se com um grande clarão e uma luz brilhante invadiu tudo. Maria assustou-se. Da luz, que desapareceu, surgiu o anjo Gabriel, que lhe disse:

Alegre-se, Maria.
Você encontrou graça diante do Senhor.

Maria assustou-se ainda mais, sem entender o significado daquela saudação. O anjo tranquilizou-a: “Não temas, Maria. Você recebeu a graça de Deus para toda a sua vida. Você conceberá e dará a luz a um filho.” Então o anjo explicou-lhe tudo sobre a gestação do filho de Deus pela ação do Espírito Santo. O anjo ainda falou da gravidez de Isabel já na velhice, uma vez que “para Deus nada é impossível“. E Maria, depois de compreender tudo, colocou-se totalmente disponível para servir o Senhor.

Experimentei uma perplexidade positiva rezando e contemplando essa cena e também a sensibilidade e a coragem do sim de Maria e de José para contribuírem na concretização do maior mistério do cristianismo, quando Deus veio morar no meio de nós. Compreendi que Deus realmente tem um pendor especial pelos simples, pelos pequeninos e desprestigiados. Ele não enviou o seu anjo para o centro do mundo, mas para uma esquecida Nazaré de pobres agricultores e artesãos. Escolheu uma adolescente, filha de um casal já idoso e sem nenhum poder, e um pobre carpinteiro para formarem a família do Filho de Deus. Foi assim que a segunda pessoa da Santíssima Trindade fez morada no útero de Maria, então Jesus cresceu sob o olhar amoroso e o cuidado responsável de José.

Na contemplação, quando meditava especialmente o “Alegre-se, Maria“, experimentei a certeza de que todas as mães também foram tocadas pelo Anjo de Deus cada vez que optaram por ter um filho ou uma filha. Ao receber a confirmação da gravidez, entramos no estado de graça que nos acompanha os nove meses seguintes – é o momento que damos o nosso sim. Momento em que também assumimos o compromisso de amar, cuidar e educar cada filho ou filha que trazemos ao mundo.

E apesar das inúmeras dificuldades enfrentadas ao longo da vida, vamos tomando consciência das inúmeras bênçãos que vamos recebendo em família ao longo da nossa história. Então, vamos vendo os filhos crescerem valorizando a vida e a família e se tornando gente boa, gente confiável, sensível e humana. E tudo é graça.

Estamos aproximando do Natal, muitas famílias estarão tristes pelas vidas roubadas pela pandemia. E mesmo para quem não perdeu ninguém da família, o Natal não terá como ser como nos outros anos. Diante da ameaça da segunda onda, sabemos que devemos evitar aglomerações até que a vacina chegue e seja distribuída a todos, com a justiça que Jesus nos ensinou.

“As dificuldades e os sofrimentos não podem obscurecer a luz do Natal, que desperta uma alegria íntima que nada e ninguém pode tirar de nós.”, como disse o papa Francisco.

Não tem como negar que o Natal vai mesmo ser diferente para quem está respeitando as orientações sanitárias em relação ao contágio da Covid-19. Mas não precisa ser triste. Será um Natal mais fervoroso – na intimidade das pequenas famílias. Quem sabe, tudo isso não é mesmo o que Deus deseja de nós neste momento – ficar em casa, sem as loucuras das compras – presentes, ingredientes para as grandes ceias e bebidas sofisticadas?

Será um momento de renovar os “sins” de nossa trajetória familiar, momento de ver a riqueza que é a simplicidade da nossa pequena família, momento de dar graças, momento de olhar para a nossa família com o mesmo carinho que a SS. Trindade olha para toda a humanidade do nosso sofrido Planeta. Momento para abrir nosso coração e acolher o nascimento do Menino Deus em cada um de nós. O “sim de Maria” inspira-nos a dizer o nosso sim diariamente e também a dizer: Estou aqui, Senhor, para colaborar com o projeto que seu filho veio instalar no meio de nós; ajuda-me a escutar e a compreender qual é o meu pequeno papel na realização do sonho de Deus – convivência solidária, fraternidade humana, compaixão pelos pequeninos …

Queremos viver como Jesus nos recomendou, amando-nos uns aos outros como ele nos ama, cuida, cura e acolhe. E que sempre nos lembremos das palavras do papa no texto citado acima: “Todos juntos devemos trabalhar mais para ajudar a resolver este problema que não é fácil, nós devemos voltar à nossa vida cotidiana – o Natal passa.”

Portanto, depois do Natal, vamos voltar à vida familiar, ao trabalho e à rotina. Porém, voltaremos transformados, transformadas depois de tudo o que ouvimos e vimos. Voltaremos glorificando e louvando a Deus, nosso Pai por seu amor incondicional, pela sua imensa misericórdia. Devemos viver e falar disso, sobre tudo isso para todas as pessoas – as que fizerem parte do nosso caminho e as que não fizerem. Foi assim que Jesus nosso salvador fez, quando esteve no corpo de um homem comum, na simplicidade de Nazaré.

Sagrada Família, rogai por nós e protegei-nos! Amém.

Brasília, 21 de dezembro de 2020.


Joana Eleuthério é graduada em Letras. Servidora pública aposentada da Secretaria de Estado de Economia do Distrito Federal – Escola de Governo do Distrito Federal (EGOV).
Inaciana, avó e mãe, caminha pelas estradas de Jesus, de Santo Inácio e de Santa Teresa de Ávila, por onde tem se inserido na Comunidade do Centro Cultural Brasília (CCB/Jesuítas). Muito grata pela caminhada realizada até aqui.

Todos os textos de Joana [clique aqui]

Imagem: Carl Muller — Holy Family, séc. XIX. Harvard Art Museums/Fogg Museum.

Poesia

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Caminhante sem nenhuma linearidade e com variados interesses – uma buscadora incansável.

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