Deus ou o dinheiro
Simone Furquim Guimarães
A leitura do Evangelho proposta pela igreja hoje é Lc 16,9-15. É uma conclusão crítica que Jesus faz sobre o administrador desonesto da parábola do texto anterior (Lc 16,1-8), que furtou o dinheiro do patrão para garantir seu futuro. Também é uma provocação para refletirmos como lidamos com o dinheiro.
Jesus critica aquele que vive do dinheiro injusto/iníquo, aquele que valoriza mais o dinheiro do que as pessoas. O dinheiro passa a ser o “senhor” de sua vida, por isso, o Evangelho coloca-o com inicial maiúscula: Dinheiro. Isto reflete na lógica do acúmulo, do enriquecimento injusto, do lucro pela exploração. É a lógica do projeto político que prega que “devemos cortar na carne” o orçamento para os serviços essenciais, como a saúde, educação, segurança, moradia; bem como “fazer o sacrifício”, ao perder os direitos adquiridos, como a previdência social, direitos trabalhistas.
Esta é a lógica da produção capitalista e neoliberal, em que tudo vira mercadoria e começa a se pensar como se podem obter lucros até mesmo com direitos fundamentais das pessoas.
Jesus critica a lógica do sistema que prega que para ser feliz, realizado, a pessoa tem de “ter” os bens materiais. Prega o “deus mercado”. O mercado tem até sentimento. Quantas vezes ouvimos nos noticiários que “o mercado está nervoso”. Quem é esse mercado? “Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro” (v.13).
O evangelista fala que os fariseus são amigos do dinheiro e zombam do ensinamento de Jesus. Por isso, Jesus foi mais enfático com eles: “Vós sois os que passam por justos diante dos homens, mas Deus conhece os corações; o que é elevado para os homens, é abominável diante de Deus” (v.15). Deus sabe bem a origem do dinheiro da “caridade” que está sendo feita para se passar por “justo”. Esse dinheiro da “caridade” é abominável para Deus. Jesus sabe que a origem da riqueza de muitos é às custas do acúmulo, do lucro, que é adquirido da exploração das pessoas e do meio ambiente, da geração de pobreza e miséria no mundo. Jesus abomina o dinheiro iníquo porque gera desigualdade social, gera fome e injustiça.
Certamente, há muitos ricos (grandes empresas, grande mídia, latifundiários, multinacionais etc.) que gostam de fazer “obras de caridade”, passando-se por justos. Quem tem o dinheiro de origem iníqua, não está preocupado com a justiça socioambiental, com as desigualdades econômicas, com a fome e a miséria, com a exploração dos seres humanos e da natureza. Tudo isso é abominável para Deus.
Que aprendamos com o Evangelho a servir a Deus e não ao “Dinheiro”; aprendamos a viver a lógica do Reino (que é a partilha) e não a lógica do sistema capitalista consumista e individualista. Do sistema que enaltece o “ter” explorando os seres humanos e meio ambiente.
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Coração aberto (Lc 2,41-51) – Ignatiana
Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).
Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.
Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.
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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.