Pe. Manuel E. Iglesias, SJ

Alegria é a primeira experiência das discípulas e discípulos de Jesus ressuscitado. É um fato significativo e que merece a nossa atenção.
Trata-se, evidentemente, de uma alegria profunda.
O que é alegria? Não é fácil explicar com palavras. Diríamos que é um dom, um presente recebido de graça e, portanto, algo sempre inesperado e surpreendente. Sendo um dom, não se compra com dinheiro, nem se conquista apenas com esforço.
A alegria anda muito próximo da paz. No fundo, intuímos que o segredo da alegria brota do Amor. Acreditamos que o Deus de amor quer a nossa felicidade.
Você é uma pessoa feliz e alegre?
Cada um de nós vai dar a sua resposta, mais ou menos tranquila, dependendo do momento atual em que vivemos.
Dias atrás tive oportunidade de tratar com um grupo sobre este assunto, em relação à nossa fé.
Refletimos os cristãos, nos próprios rostos, a alegria de Deus?
A imagem que temos de Deus e de Jesus é alegre?
O grupo estudou um belo artigo que abordava a diferença ente perfeição e santidade, dom de Deus, com a perfeição, qualidade humana e fruto do nosso esforço. Reside aí a frustração do perfeccionista que levamos, que não aceita ter defeitos e limites, é o seu próprio juiz e conta exclusivamente consigo mesmo.
O perfeccionista dialoga com um código de normas e não com Alguém que o ama gratuitamente.
Já a santidade está relacionada com o amor misericordioso.
Trata-se, pois de abrir-se para o amor.
Santidade é a recusa de ser o próprio juiz, deixando o juízo para Alguém que nos ama e vela por nós com amor. Daí que a santidade é humilde, confiante e alegre.
Contrariamente ao perfeccionista que pensa só poder ser amado se for digno, o santo aceita ser amado na indignidade e acolhe um amor que lhe é oferecido gratuitamente. É este amor que o transforma e contagia tornando-o, também, capaz de amar.
Foi Jesus uma pessoa feliz e alegre? Seria interessante buscar nos evangelhos as vezes que Jesus fala em felicidade e alegria e, ainda, as vezes em que Jesus as deixa transparecer para nós.
Há um texto que sempre me chamou a atenção (Atos 20,35), quando Paulo atribui a Jesus umas palavras que não aparecem no evangelho:
“Há mais felicidade em dar do que receber”.
Ora, Jesus é todo Ele dom do Pai para a humanidade, dom total de amor. Se a fonte de felicidade é ser Dom para os outros, Jesus é a Palavra que nos está revelando o segredo da verdadeira alegria!
Quando pensei em escrever sobre este tema, dois fatos vieram confirmar o que estou tentando exprimir. Li numa carta que um jovem espanhol passou suas férias na China, convidado por um velho jesuíta de 88 anos que cuidava de leprosos. O jovem ficou impressionado, à primeira vista, com o sorriso do missionário, que transmitia muita paz, felicidade e parecia não deixar de repetir:
“Não há maior felicidade que fazer os outros felizes”.
Fui acompanhar um encontro de jovens aqui em Brasília. O jovem dirigente que me deu carona parecia cansado. Quando comentei isto, ele logo respondeu:
“Mas vale a pena pela alegria de ver tantos jovens felizes”.
Quem sabe, o tema para o próximo retiro de Carnaval poderia ser: “A alegria do Evangelho”.
Topam?

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IGLESIAS, Manuel E. Informativo “Companhia”, nº28, julho 2002, Centro Cultural de Brasília.

Textos selecionados de Padre Iglesias

Obras publicadas

Nota: Esta expressão “Alegria do Evangelho”, proposta por Pe. Iglesias neste texto, é também adotada pelo Papa Francisco em sua exortação apostólica Evangelii gaudium, na inauguração de seu ministério petrino em 2013.

Espiritualidade cristã Padre Manuel Eduardo Iglesias