Brasília: sonhos e esperanças

Simone Furquim Guimarães

Trazemos hoje o tema da celebração de Brasília, que será no dia 21 de abril, fazendo memória do sonho de nossos pais e avós, que migraram para cá, o Distrito Federal, onde habita a diversidade. Em consonância com este tema, recordemos que a trajetória do povo de Deus foi, essencialmente, em busca por uma terra que “mana leite e mel”, ou seja, que possa realizar os sonhos e esperanças de uma vida justa.

E quando o povo de Israel foi exilado e escravizado na Babilônia, o sonho e esperança era o de retornar a sua cidade Jerusalém. Neste sonho, vislumbravam uma cidade santa. Santa porque a cidade tornava-se modelo de convivência e justiça para todas as pessoas. Esse sonho era animado pelo profeta Isaías. No capítulo 65, 17-25, Isaías revela ao povo o que Deus lhe disse e relata sua visão de um Novo Céu e uma nova Terra. Ele vai dizer que nesta cidade transparece a alegria, não há choro nem lamentação, não há mortalidade infantil, nem morte prematura, não há exploração do trabalho do agricultor e do operário da construção civil. Nesta cidade não há conflito de gerações, não há violência. Nesta cidade, Deus se faz mais presente. Este modo de viver e de conviver é tão bom, que as pessoas esquecem o sofrimento que tiveram, para construí-lo com a ajuda de Deus: “Com efeito, criarei novos céus e nova terra; as coisas de outrora não serão lembradas, nem tornarão a vir ao coração” (Is 65,17).

No segundo testamento, depois de 70 anos da morte e ressurreição de Jesus, as primeiras comunidades cristãs viviam num ambiente de muita opressão e escravidão, perseguição, exclusão e morte pelo império romano. A situação era dramática. Diante desse desalento, João, no livro do apocalipse, resgata a profecia de Isaías sobre o Novo Céu e Nova Terra, como sendo a Jerusalém, cidade santa. Havia a necessidade de criar no povo sofrido, desacreditado e sem esperança, uma nova consciência para que pudesse recuperar a capacidade de sonhar com uma nova sociedade, criar novas utopias que animem a resistência diante das situações de opressão.

Fazer de nossa cidade novo céu e nova terra, cidade santa, onde mana leite e mel. Este sonho e esperança são de todos nós. Nesse período de quarentena, não teremos festa nas ruas de Brasília, mas pode ser um momento propício para pensarmos um modelo de cidade, de sociedade mais fraterna, solidária, que respeita a diversidade e o meio ambiente. Pensemos em construir um mundo possível e habitável para nós, para nossos filhos e nossas gerações futuras.


Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).


Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.

Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.

Imagem: Ligia de Medeiros — Azulejo dos cruzamentos

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