Silêncio desarmado, então Jesus disse à mulher «Filha, nem eu te condeno…»
Joana Eleuthério *
“Depois do chamado à conversão, do chamado à misericórdia e ao perdão, eis o chamado a viver de pé e a ter confiança no futuro. […] Quando a miséria encontra a misericórdia, a vida ressurge e há uma promessa de futuro, apesar do passado sombrio de nossas vidas.” (Raymond Gravel)
Naquela noite, Jesus, uma vez mais,
subiu para o monte das Oliveiras
a sós, para conversar com o Pai.
De manhãzinha, desceu para
o Templo, onde a multidão
sedenta esperava por Ele,
que logo foi cercado.
Com a autoridade de filho
amoroso e obediente subiu
para pregar como o enviado
para aliviar os que estavam
sedentos e cansados.
—Todos tinham os olhos fixos Nele. (Lucas 4, 20)
Logo foi interrompido,
Os mestres da lei e fariseus
arrastavam uma mulher cabisbaixa
e esfarrapada: ‘Ela pecou, Mestre!’
Exaltados e gananciosos
de justiça: ‘Segundo Moisés …’
Jesus parou de falar para escutar
Colocaram a mulher no meio de todos.
— ‘Ela deve ser apedrejada até à morte!’
No centro, a mulher tremia … De pé.
Silencioso, Jesus sentou-se
na poeira diante dela
e começou a escrever no chão.
— Não esmagará a cana quebrada,
e nem apagará o pavio fumegante … (Mateus 12:20)
Para experimentar Jesus
e o acusarem, interrogavam:
— ‘Que dizes tu?’
Jesus continuou a escrever no chão.
Mas insistiam com indelicadeza.
O Nazareno ergueu-se.
— ‘Atire-lhe a primeira pedra
quem de vocês não tiver pecado.’
— “Eu não vim para julgar o mundo,
mas para salvá-lo” (Jo 12,47).
Jesus inclinou-se e escrevia no pó…
O mais velho de todos
saiu resmungando.
Todos se olharam e olharam
Jesus inclinado ainda escrevendo.
Mais um saiu, os outros o acompanharam.
Já não havia mais ninguém ali.
Apenas a mulher, ainda de cabeça baixa,
nem via o que estava acontecendo.
—Jesus estava de pé e clamava: “Se alguém tiver
sede, venha a mim e beba.” (João 7, 37)
Silêncio total…
A compaixão é a coragem de descer
ao fundo da nossa humanidade.
Jesus se levantou, só Ele
e a mulher no pátio silencioso.
— ‘Levante seus olhos, mulher…
Onde estão todos os outros?’
Ela balbuciou: ‘Senhor, todos se foram.’
— ‘Não te condenaram, nem eu.
Vá para o amor junto dos seus …’
— Como o Pai me amou, também eu vos amei
a vós; permanecei no meu amor. (João 15:9)
* Joana Eleuthério é graduada em Letras. servidora pública aposentada da Secretaria de Estado de Planejamento, Orçamento e Gestão do Distrito Federal.
Imagem: Cristo e a mulher pecadora — Vasily Polenov. 1888. The State Russian Museum.
Poesia Compaixão Evangelho segundo Lucas Mulher Perdão Poesia
Joana Eleuthério Visualizar tudo →
Caminhante sem nenhuma linearidade e com variados interesses – uma buscadora incansável.