Amor incondicional

Simone Furquim Guimarães

A leitura de hoje é Mc 10,13-16. O Evangelista Marcos narra para sua comunidade que os discípulos de Jesus impediram as crianças de se aproximar dele e as repreendiam. Vendo isto, Jesus se aborreceu e disse:

Deixai vir a mim as crianças.  Não as proibais, porque o Reino de Deus é dos que são como as crianças. Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele.

Em seguida, Jesus fez um gesto impensável para a religião do seu tempo: “Então, abraçou-as (crianças) e abençoou-as, impondo as mãos sobre elas”.

Na leitura anterior (cf. Mc 9,33-37), Jesus colocou uma criança no centro da roda de conversa e a abraçou como gesto fundamental para quem quer estar em Seu Seguimento: “abraçando a criança, disse-lhes: ‘Aquele que receber uma destas crianças por causa do meu nome, a mim recebe; e aquele que me recebe, não é a mim que recebe, mas sim àquele que me enviou’” (Mc 9,37).

Por quê Jesus defende as crianças e também aqueles que são como crianças (os conhecidos como pequeninos)?

No tempo de Jesus de Nazaré, as crianças, as mulheres, os doentes, os economicamente pobres eram pessoas humilhadas, excluídas da comunidade religiosa por muitas vezes serem consideradas impuras. Os preceitos religiosos afastavam as crianças do sagrado porque consideravam-nas impuras, junto com suas mães. Se a mãe está “impura”, por causa do ciclo biológico (menarca, pós-parto, por exemplo), impura também está a criança. Os discípulos, que eram judeus, conheciam esses preceitos, por isso não queriam que as crianças se aproximassem de Jesus. Mas Jesus rompe com o rigorismo da Lei e anuncia a Boa Nova: abraça e abençoa as crianças.

O Evangelho de Marcos nos ensina que o Reino (o projeto de Deus) é identificado como sendo uma criança. Isto porque a criança simboliza o modelo de simplicidade e humildade, de pureza, coração aberto e amor incondicional. Abraçar e abençoar a criança significa abraçar o projeto de Deus e consagrar sua vida para construir os sinais do Reino aqui mesmo neste mundo. Por isso, a Bem Aventurança que Jesus proclama para as crianças e para aqueles/las que são como as crianças é a vivência do Reino de Deus no presente, neste mundo. Ele diz: O Reino de Deus é dos que são como elas”.

Importante, então, compreendermos que, se a religião judaica discriminava as crianças; Jesus faz o contrário: ele acolhe e desconstrói e rompe com um dogmatismo que exclui as pessoas da comunidade.

Iluminados pela chamada de atenção do Evangelho, perguntemos: quem são os pequeninos/as que repreendemos e excluímos da comunidade hoje? 

Que possamos aprender com Jesus a romper os preconceitos, os rigorismos que causam exclusão. E possamos amar e cuidar da Vida, das pessoas em suas diversidades, como amamos e cuidamos de nossas crianças: que seja um amor incondicional, amor materno e paterno; do Bem Querer e do Bem Viver. Amém!


Ouça no Podcast Ignatiana [link]

Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).


Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.

Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.

Sábado da 7ª semana do Tempo Comum, ano B

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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.

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