Simone Furquim Guimarães

A leitura do Evangelho hoje é Jo 15,18-21. Segundo o evangelista João, Jesus discursa para seus discípulos, dizendo: “Se o mundo vos odeia, sabei que primeiro odiou a mim. Se fôsseis do mundo, o mundo gostaria daquilo que lhe pertence. Mas, porque não sois do mundo, porque eu vos escolhi e apartei do mundo, o mundo por isso vos odeia”.

Qual o sentido de “mundo” aqui neste texto?

É importante entender o sentido desta palavra “mundo” porque, muitas vezes é lido e interpretado para afirmar que os fiéis cristãos não devem misturar a religião com as atividades sociais, “das coisas do mundo”. Este tipo de interpretação legitima a ideia de que a igreja deve estar tão somente a serviço da pregação do Evangelho, porque as atividades do mundo são profanas e sujas, e que somente Deus, no templo, e a instituição religiosa é sagrada e que tudo o que é mundano (do mundo) é profano e sujo.

Mas não é disso que Jesus está se referindo. Neste texto do Evangelho, o sentido de “mundo” que Jesus está se referindo diz respeito aos poderes do império romano, bem como das lideranças religiosas judaicas que o rejeitaram. Portanto, aqui neste texto de João, não ser do “mundo”, significa não se alinhar aos poderes que perseguiram e mataram Jesus.

Lembremos sempre que Jesus foi perseguido e assassinado porque ele foi uma pessoa extremamente comprometida com a sua realidade “no mundo”, com as periferias existenciais do seu tempo e levava para elas ensinamentos de construção de um mundo mais justo e de igualdade. Lembremos que a atitude de Jesus era política e estava engajada neste mundo, as narrativas sobre o Nazareno se passam, a maior parte do tempo, no meio da multidão, do lado de fora das igrejas (sinagogas ou templos). Portanto, Jesus foi um peregrino do mundo. Lembremos que o maior mandamento é amar a Deus e o próximo como a ti mesmo. Isso é exigente, isso é contrário à propaganda que “mundo” do poder econômico oferece. Por isso, a palavra “odiar” é melhor traduzia por “rejeitar”.

Hoje, vimos essa rejeição chegar às raias da covardia dentro do sistema social e econômico: são as extremas desigualdades sociais. Quando missionários cristãos se dedicam a acolher e dar comida aos pobres, esses grupos do poder os aclamam de “santos”; mas quando esses mesmos missionários, buscam conscientizar os pobres a questionar por quê estão passando fome, por quê não têm abrigo e trabalho; daí, esses poderosos os condenam de estar promovendo o “comunismo”. Esta foi a crítica evangélica do memorável arcebispo do Ceará, Dom Hélder Câmara.

Mas, se esses missionários são rejeitados, então eles estão no caminho certo, pois “Se fossem do mundo – da ganância, do individualismo e consumismo – este mundo gostaria e aplaudiria seus pensamentos; pois sabemos que os poderes sociais e econômicos gostam da Igreja enquanto ela se curva a seus interesses e os legitima. Mas quando a Igreja segue efetivamente os ensinamentos de Jesus, esse “mundo” a rejeita, sobretudo, quando a Igreja toma partido e se coloca ao lado dos oprimidos, quando se mobiliza em defesa pela democracia, em defesa dos direitos humanos para todos/as.

Se perseguiram Jesus, perseguirão também os que são seus.  Mas, Jesus hoje exorta aos seus: Coragem! Eu venci o mundo!

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Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).

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Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.

Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.

Ano C — Sábado — 5ª semana da Páscoa

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