Luiz Fernando Krieger Merico

Volto a conversar sobre a contaminação por plásticos, que é um tema fundamental na encíclica Laudato Si’, abordado já em seu capítulo primeiro, onde o papa Francisco manifesta sua preocupação com os resíduos não degradáveis a sua poluição.

Com mais de 10 bilhões de toneladas de plástico produzidas desde a década de 1950, os estudos mostram que mais de 8 bilhões de toneladas são agora resíduos, que vão se transformando em microplásticos e chegando aos rios e oceanos. Praticamente em todas as amostras de placentas em mulheres e espermas nos homens se encontram microplásticos. Os microplásticos que chegam agora ao nosso corpo representam o consumo da década de 70 do século passado, quando o consumo de plástico era bem menor que o de hoje. Ou seja, futuramente chegarão muito mais microplásticos nos ecossistemas.  

A reciclagem do plástico é muito limitada, e corresponde de 7 a 9% nos melhores casos. Além da infraestrutura de reciclagem ser muito precária, há a dificuldade de que a indústria utiliza muitos tipos diferentes de plásticos, com milhares de componentes diferentes, o que impede um processo de reciclagem mais intenso. Além de simplificar os tipos de plástico, é preciso limitar drasticamente seu uso. Temos que começar imediatamente por proibir o plástico de um só uso, como vem sendo feito em muitos países, inclusive na América do Sul. Plástico de um só uso são as bolsas plásticas distribuídas amplamente pelo comércio, e as garrafas de água de plástico, para citar dois exemplos.

Em nível internacional, neste momento se negocia um grande acordo global sobre a contaminação por plásticos. Quatro rodadas de negociação já foram feitas e se espera que a quinta – a ser realizada em novembro na Coréia do Sul – possa adotar um grande tratado internacional sobre os plásticos, que aborde todas as etapas do ciclo de vida dos plásticos e que limite o seu uso. O acordo terá também partes obrigatórias aos países para prevenir e mitigar os impactos na saúde humana e no ambiente por este terrível contaminante.

Perdemos o controle sobre a produção e consumo destes materiais. Somos hoje a sociedade do plástico: olhe ao seu redor, observe suas compras e seu cotidiano com atenção que você verá a gigantesca e insana montanha de plásticos que passa por nós diariamente. Veja a quantidade de embalagens que poderiam evitar o plástico e que poderiam ser substituídas por outros materiais degradáveis, como papel. Sem falar que todos nós podemos ir ao supermercado com nossas sacolas reutilizáveis, sem necessidade de incentivar o uso de mais sacolas plásticas.

É importante perceber também que a reciclagem deveria ser uma destinação extrema, última. Antes disso, temos que recusar – evitar mesmo, dizer não ao plástico desnecessário; temos que reusar o mais que pudermos, evitando a geração do lixo; redesenhar os produtos e embalagens para não precisar do plástico; reparar os produtos e evitar tudo que é descartável. Só depois de tudo isso é que deveríamos pensar em reciclar, se não conseguimos recusar, reusar, redesenhar, reparar. Atenção: reciclar não é solução. Cada vez que reciclamos, os plásticos, que estão misturados em muitos tipos, voltam com um uso de qualidade inferior, necessitando de plástico virgem para fazer produtos iguais aos anteriores. Apesar disso, é melhor reciclar do que simplesmente descartar os produtos. Precisamos mesmo é de uma economia mais circular.

No parágrafo 21 da encíclica Laudado Si’ podemos ler o seguinte:

A Terra, nossa casa, parece transformar-se cada vez mais num imenso depósito de lixo.

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Luiz Fernando Krieger Merico é graduado em Geologia (UFPR), mestre em Análise Ambiental (UNESP), doutor em Geografia (USP), possui aperfeiçoamento no Schumacher College (Inglaterra) em Economia Ecológica. É autor do livro Mística do século XXI: Guia de Oração com as encíclicas Laudato Si’ e Fratelli Tutti (e-book).

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