Rezar com o Presépio (IV)

Osmar Ferreira

Terra Boa

Iniciaremos nossa oração hoje com um livro antigo chamado Deuteronômio. Ele nos ensina que ser fiel à nossa promessa com Deus nos traz coisas boas para todo mundo.

Vamos ler um trecho muito especial, Deuteronômio 8, 6-9.

Observe os mandamentos de Javé seu Deus para você andar nos caminhos dele e o temer. Olhe! Javé seu Deus vai introduzir você numa terra boa: terra cheia de ribeirões de água e de fontes profundas que jorram no vale e na montanha; terra de trigo e cevada, de vinhas, figueiras e romãzeiras, terra de oliveiras, de azeite e de mel; terra onde você comerá pão sem escassez, pois nela nada lhe faltará.

Dt 8,6-9

A Terra Boa tem riachos e fontes. Em alguns presépios, vemos uma fonte que flui pelos rochedos, um riacho ou um poço. Água, algo essencial para a vida.

Nessa terra boa, há trigo e cevada: comida para as pessoas e para os animais. Haverá pão em abundância. É sempre bom lembrar que Belém é “terra do pão”.

Pare e pense um pouco sobre essas promessas. Esse lugar cheio de coisas boas é um local específico no mapa, ou é um lugar que construímos quando escolhemos seguir o Senhor?

Na sua carta sobre o presépio[1], o Papa Francisco lembra uma frase bonita dita por Santo Agostinho em um dos seus sermões:

«Deitado numa manjedoura, torna-Se nosso alimento».

Jesus é alimento. Quando Ele está perto, nós nos sentimos satisfeitos de uma maneira especial. Lembra do primeiro milagre de Jesus, quando transformou água em vinho? Foi como um sinal de que algo novo e alegre estava começando.

E você se lembra da história dos pães que se multiplicaram? Isso foi um jeito de Jesus dizer que Ele mesmo seria como alimento para nós, especialmente na Eucaristia e na partilha de nossos dons.

Depois que Jesus ressuscitou, Ele apareceu aos amigos na beira da praia. E o que Ele fez? Preparou peixe na brasa e pão para eles. Isso mostra que Jesus gosta muito de estar conosco compartilhando seus dons, Ele nos lembra sempre do amor sem fim de Deus.

Os elementos mencionados em Deuteronômio são muito importantes para as pessoas e animais naquela região. As sete espécies nem sempre aparecem nos presépios, mas podemos criar modos de elas fazerem parte de nossa preparação para o Natal.

Essas coisas estão presentes em momentos alegres nas nossas vidas. Já reparou que as bolas de Natal têm o formato de romãs? E os bolos, roscas e panetones são feitos de trigo, alguns têm uvas passas, figos e tâmaras?

Ao longo da história, fomos encontrando maneiras de usar esses símbolos importantes da festa que foi anunciada aos nossos pais e mães de maneiras que fazem sentido para nós hoje.

Em uma história antiga, na Bíblia, no livro chamado Segundo Samuel, Davi estava muito feliz porque levou algo muito especial para Jerusalém, a Arca do Senhor. Para celebrar, ele deu para todas as pessoas um pedaço de pão, um bolo de tâmaras e um doce de uvas passas (2 Sm 6,19).

Outra vez, em uma história que Jesus contou, um homem bom, ajudou alguém que estava ferido e abandonado na estrada. O samaritano teve compaixão, cuidou dos ferimentos da pessoa e até usou óleo e vinho para ajudar a sarar as feridas (Lc 10,30-37).

A água, o pão, o vinho e o azeite estão presentes na celebração de alguns sacramentos. O Papa Bento XVI [2] sintetizou os significados dessas matérias assim:

A água é elemento básico e condição fundamental de toda a vida, é o sinal essencial do Batismo.
O pão faz referência à vida quotidiana. É o dom fundamental da vida de todos os dias.
O vinho recorda a festa, o primor da criação, em que se pode ao mesmo tempo expressar de modo singular a alegria dos redimidos.
O azeite possui um amplo significado. Serve de nutrimento, medicamento, embelezador, adestra para a luta e dá vigor. Os reis e os sacerdotes são ungidos com este óleo, que assim torna-se sinal de dignidade e responsabilidade e ainda da força que vem de Deus.

Agora, vamos imaginar a cena:

Na nossa oração de hoje, vamos prestar atenção ao gosto e ao cheiro, sem esquecer dos outros sentidos.
No presépio, podemos colocar esses elementos conforme nossa criatividade sugerir.

Com tantas opções para a oração, é bom escolher um elemento, o que mais gosta ou considera importante. Se tiver tempo, ore separadamente com cada elemento, especialmente ao usá-los. Por exemplo, ao beber um copo d’água, agradeça, saboreie e pense na escassez de água para algumas pessoas, além de refletir sobre como usamos a água todos os dias, no banho, ao lavar as mãos e a louça. Em resumo, ore de forma simples no seu dia a dia.

Santo Inácio de Loyola, em seus Exercícios Espirituais escreveu:

O que sacia e satisfaz a pessoa não é o muito saber, mas o sentir e saborear as coisas internamente.

Exercícios Espirituais, 2

Na oração, não é preciso ter pressa. Pare onde você acha mais proveitoso. É como numa refeição: se colocarmos muitas coisas no prato e comermos rapidamente, não conseguiremos sentir o sabor dos alimentos.

Lucas descreve a presença de pastores de modo bem simples:

Naquela região havia pastores, que passavam a noite nos campos, tomando conta do rebanho.

Lc 2,8

Em nosso presépio interior, imaginamos estar na cena, sentados com um dos pastores perto da fogueira, compartilhando um copo d’água e um pedaço de pão. Deixe sua imaginação voar e veja se há algo em seu alforge para dividir com eles. Aceite com alegria o que for oferecido, talvez uma caneca de leite quente, com mel, nesta noite fria de vigília. Os pastores, cuidando das ovelhas, ainda não sabem da grande notícia que logo será anunciada. Aproveite cada alimento partilhado com reverência e humildade.

Leia novamente a passagem de Deuteronômio 8, 6-9. Leia vagarosamente, saboreando cada palavra. Sem pressa, pare nas palavras que mais chamam atenção.
Agradeça a Deus por este momento de oração.


[1] Carta Apostólica Admirabile signum, n. 2. Aqui o texto foi parafraseado em estilo simplificado.

[2] BENTO XVI. Homilia na Santa Missa Crismal (2010)


[1] Carta encíclica Laudato Si’, Papa Francisco (2015), sobre o cuidado da casa comum.


Rezar com o Presépio

Ignatiana Visualizar tudo →

IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.

3 comentários Deixe um comentário

Deixe um comentário