Apóstola dos Apóstolos

Simone Furquim Guimarães

Hoje celebramos a festa de Santa Maria Madalena. A liturgia é Jo 20, 1-2.11-18. No Evangelho, Jesus ressuscitado se apresenta a Maria Madalena. É neste momento que o Evangelho revela o mistério pascal: Jesus vence a morte e ressuscita!

Os quatro Evangelhos nos informam que Maria Madalena foi a primeira receptora da Boa Nova e a primeira Apóstola a anunciar a ressurreição de Jesus. Por este motivo, nos primeiros séculos, as comunidades cristãs consideravam Maria Madalena como Apóstola dos Apóstolos (“apostola apostolorum”).

Ela era venerada, e seu ícone representava-a com um manto azul, simbolizando o poder; vestido vermelho, simbolizando a vida; segurando numa mão um ovo, simbolizando a portadora do anúncio da ressurreição e, na outra mão uma luz, simbolizado a vida. Além de ser a primeira apóstola, Maria Madalena era mestre! Vários ícones a representa com o livro na mão.

Infelizmente a misoginia (aversão à liderança das mulheres) destruiu a imagem de Madalena e a transformou em prostituta pecadora e mulher adúltera. Mas em 2016, o Papa Francisco pede perdão pela interpretação equivocada da igreja e proclama o dia 22 de julho o dia de Santa Maria Madalena, a Apóstola dos Apóstolos.

Após a execução de Jesus de Nazaré, o que aconteceu com os seus seguidores e seguidoras? Alguns fugiram com medo, outros formaram comunidades, conversavam tudo sobre o que Jesus ensinou e dá novo sentido à ideia da ressurreição. Esta foi a comunidade cristã liderada por Maria Madalena.

A leitura de hoje nos diz que não há mais motivo para chorar e procurar por Jesus (v.15); agora é o tempo de alegria para os cristãos. A voz do Senhor é reconhecida; é a voz do pastor. Ele a chama: Maria! Ela então responde “meu grande Mestre, meu Mestre querido”.

O Evangelho nos diz que Maria viu Jesus ressuscitado, mas não deve retê-lo (v.17); isto porque a fé não pode ficar presa ao acontecimento da ressurreição; deve ir além: a fé é compreender que na sua ausência, Ele está presente, como Deus. Em vez de segurar Jesus (v.17), Maria Madalena deve anunciar à comunidade que Jesus “sobe” à glória do Pai. Ele é “Senhor” (v.18).

Nós somos testemunhas desta ressurreição porque carregamos conosco a fé no Cristo libertador! Daquele que ensinou um projeto de inclusão de todos/as na pertença à filiação divina, à salvação, à equidade de gênero, à prática da solidariedade, da justiça social.

A ressurreição continua sendo testemunhada por cada um/a de nós, que temos fé e que vivemos o Cristo encarnado em nosso pensar e agir em nossas vidas, na vida em comunidade e na sociedade, buscando seguir o que Ele nos ensinou, com alegria e sem temor: “Vi o Senhor!”.


Ouça no Podcast Ignatiana [link]

Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).


Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.

Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.

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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.

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