Salvação para todos e todas

Simone Furquim Guimarães

A leitura do Evangelho hoje é Mt 9,14-17. O texto informa que Jesus faz refeição na casa do cobrador de imposto chamado Mateus; e a refeição acontece em dia que eles deveriam estar em jejum, segundo a prescrição da Lei dos judeus.

O Evangelho de Mateus foi escrito em torno do ano 80 a 90 d.C, para uma maioria de cristãos, vindos do judaísmo e também de religiões consideradas pagãs. Nesta diversidade, os judeus entravam em conflito com os pagãos porque estes não seguiam os rituais judaicos.

Diante desses conflitos, o evangelista quis mostrar à comunidade, que no tempo de Jesus, ele não se prendia aos rigorismos da Lei – como faziam os fariseus e até os seguidores de João Batista faziam – porque para Jesus o importante é a pessoa humana; é a vida em primeiro lugar! Estar ali, na casa de Mateus, o cobrador de impostos – aquele que sempre fora excluído da religião por ser considerado impuro – era motivo de festa, exigia refeição, comensalidade.

A comunidade mateana compreendeu que Jesus representava a Nova Aliança entre Deus e o povo. E, numa metáfora já utilizada no Antigo Testamento, Jesus é o noivo. Não há motivo para jejum; pelo contrário, deve haver festa, refeições com celebrações diante da “Boa Nova” do noivo, anunciando a salvação para todos e todas.

Para criticar a visão dos judeus diante da Lei de Deus, Jesus usa a seguinte metáfora: “não se põe vinho novo em odres velhos, senão os odres se arrebentam, o vinho se derrama e os odres se perdem”. Ou seja, Jesus vai dizer que eles são como odres velhos, pois são fechados em suas tradições antigas e engessadas. Enquanto eles estiverem com suas concepções antigas sobre a Lei de Deus (formalismos rituais e doutrinários) não poderão se renovar; são incompatíveis com a Boa Nova, a novidade mostrada por Jesus, o vinho da Nova Aliança. Nesta Nova Aliança, Jesus desconstrói a leitura e percepção fundamentalista sobre Deus e seu projeto para dar pleno cumprimento à Lei (cf. Mt 5,17).

Devemos trazer essa questão para nossa realidade hoje, pois ainda sofremos com os fundamentalismos religiosos. Muitas lideranças religiosas resgatam as atitudes rigoristas dos fariseus e doutores da Lei do tempo de Jesus; muitos usam a Bíblia, sobretudo o Antigo Testamento, para justificar atitudes de exclusão e várias outras violências contra a pessoa humana.

Oremos para que nós, em nossas comunidades, estejamos abertos à Boa Nova de Jesus, numa atitude de vida completamente nova para acolher a novidade do Reino dos Céus. Amém!


Ouça no Podcast Ignatiana [link]

Simone Furquim Guimarães é mestre em Teologia na linha bíblica. Tem experiência na área de Leitura Popular da Bíblia no Centro de Estudos Bíblicos (CEBI/Planalto Central).


Esta reflexão bíblica foi originalmente apresentada no Programa de Justiça e Paz, produzido pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que vai ao ar todo sábado, às 11:00, na Rádio Nova Aliança.

Desde outubro de 2020, também disponível no podcast Ignatiana.

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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.

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