Uma partilha de oração – Pentecostes 2020
Joana Eleuthério
Pentecostes acontece em nossa vida quando estamos lá embaixo, na fossa das fossas, super deprimidos e aparece uma força que não sabemos de onde vem. Levantamos e resolvemos enfrentar.
J. B. Libânio*
“O jejum tem virtudes profundas. Não é à toa que é praticado em todas as grandes tradições religiosas. E agora as medidas impostas pelas autoridades civis privaram milhões e milhões de convivas deste alimento essencial que é o pão da vida. Esta privação coletiva era um sinal claro de Deus. Ou então Deus nunca se manifesta. Se somos cristãos, essa fome teria que ter aumentado em nós para que entrássemos melhor em seu mistério.” Jean-Pierre Denis
O que é que pode nos tornar mais livres nessa espécie de suspensão do tempo, neste confinamento em função da pandemia da Covid-19? A liberdade, certamente, não é fazer ‘o que nos dá na telha’, como diz o velho ditado. Jesus entende de liberdade e soube ser verdadeiramente livre frente aos farisaísmos encontrados em seu caminho. A sua missão centrou-se em nos oferecer a libertação.

A afirmação de Jean Pierre Denis no primeiro parágrafo — “agora as medidas impostas pelas autoridades civis privaram milhões e milhões de convivas deste alimento essencial que é o pão da vida. Esta privação coletiva era um sinal claro de Deus. Ou então Deus nunca se manifesta” está martelando em minha cabeça desde que li o texto no dia 28 de maio. Mas então nos vem o dia de Pentecostes e hoje tivemos nossa partilha, que nos disse das delicadezas do Espírito, que são a autêntica expressão da delicadeza do amor da Trindade por nós. Penso e creio mesmo que a abertura e a acolhida da ação do Espírito Santo em nossa vida é um caminho bastante seguro para a verdadeira liberdade.
No contexto do parágrafo e da citação no início deste texto, pergunto-me: será que o Amor de nosso Deus Pai-Mãe está a nos fazer refletir sobre a nossa fome do Pão da Vida? Seria um puxão de orelhas, uma chamada para nos fazer acordar para a nossa missão diante desse enorme adoecimento do Planeta?
O Papa Francisco disse-nos: “Deus não quis a nossa vida por engano, obrigando-se a si mesmo e a nós a duras noites de angústia. Ao contrário, criou-nos porque nos quer felizes. É o nosso Pai, e se nós aqui e agora experimentamos uma vida diversa daquela que Ele desejou para nós, Jesus garante-nos que o próprio Deus realiza o seu resgate. Ele trabalha para nos resgatar.”
Nunca acreditei no Deus que castiga, mas acredito no Deus quer nos auxiliar em nosso discernimento, por meio do dons de seu Santo Espírito — sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus.
Voltando-me à inquietação que a afirmação do autor acima provocou em mim, pergunto-me — Deus não nos deixou privados do pão espiritual, que são a abundância desses sete dons, por que nos privou do substancial Pão da vida, que é o alimento sagrado que Jesus nos deixou na Sagrada Ceia?
Se Deus não nos enviou a pandemia, como castigo, pode, no entanto, ter lançado mão de uma consequência dela para nos levar a uma profunda reflexão. J.B.Libânio disse no texto já citado acima: “Surge o verdadeiro temor de Deus, não o medo de Deus. Temor significa perceber a paciência infinita de Deus que nos lembra que por esse caminho não seremos felizes. Volte, refaça sua vida, recrie sua existência! É Pentecostes!”
Cabe-nos, pois, refletir e nos perguntar? Por que caminhos estivemos andando que nos desviaram do caminho que nos leva à felicidade que Deus nos criou para que a vivamos? Que caminho ou quais caminhos devemos tomar ou construir, passada essa terrível pandemia, contribuindo para a saúde da humanidade e do planeta onde vivemos?
Só a verdade constrói e humaniza a vida. A verdade não é senão o amor e o cuidado com a vida, com a natureza, com nossos irmãos e nossas irmãs, como foi a verdade que Jesus viveu com seus apóstolos e vive entre nós – suas seguidoras e seguidores deste século XXI. Alguém disse na partilha hoje pela manhã: “acolhemos o Espírito quando acolhemos a Vida” — quando eu estreei cheia de insegurança no Zoom,aplicativo que veio como uma benção em meio ao isolamento social.
A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, assim também eu os envio.
João 20,21
Caras amigas e caros amigos de trilha, peçamos a graça do verdadeiro discernimento para que possamos ordenar nossos afetos e escolher ações e atitudes a favor da Vida. Essa é a nossa primeira missão de batizadas e batizados.
* LIBANIO, J. B. Os Dons do Espírito Santo no nosso cotidiano, in O Pão Nosso de Cada Dia – Subsídio Litúrgico Catequético Diário – Ano XV, nº 173, pp 121.
Joana Eleuthério é graduada em Letras. Servidora pública aposentada da Secretaria de Estado de Economia do Distrito Federal – Escola de Governo do Distrito Federal (EGOV).
Inaciana, avó e mãe, caminha pelas estradas de Jesus, de Santo Inácio e de Santa Teresa de Ávila, por onde tem se inserido na Comunidade do Centro Cultural Brasília (CCB/Jesuítas). Muito grata pela caminhada realizada até aqui.
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Imagem: Cerezo Barredo,CMF
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Caminhante sem nenhuma linearidade e com variados interesses – uma buscadora incansável.