O que me fez doutora?

Luana Arpini

Ao meu Eu Profundo,
a todos que contribuíram nesse processo
e a quem mais interessar.


Ah! Uma vida bem vivida…

Um dia, um edital. Uma oportunidade inesperada e improvável.

Em um dos períodos de maior sofrimento existencial, mergulhada na obscuridade e sem uma mínima faísca de esperança, desistir era a única opção.

Era 2021, um ano ainda assombrado pela pandemia e sem muitas expectativas de um futuro promissor.

Em cada etapa: desafios, superação, incertezas, motivação e persistência.

O resultado? Primeiro lugar — êxtase e decepção!

São quatro anos por vir. E como? Ciclos de árduas lutas, frustrações, contentamento, satisfação, perda e recuperação da fé, encontros e desencontros, e um misto de sentimentos indescritíveis.

Vivenciei inúmeros tropeços, incontáveis quedas, choros inconsoláveis — fracassos, injúrias, súplicas, tratamentos, cirurgias, internações, luto — transformações e orações.

Juntamente, encontrei: Deus, benfeitores espirituais, família, amigos, pacientes, alunos, muitos conhecidos e desconhecidos também; almas, anjos; animais, natureza; amizades verdadeiras, felicidade genuína, espiritualidade efetiva, amor incondicional, acolhimento, fraternidade, justiça, compaixão, contemplação, admiração, paz interior, força e luz.

Ajuda. Muita ajuda, de todos os seres e lugares!

Apenas um sentimento? O mais sublime: gratidão, eterna gratidão!

Já se passaram os (in)findáveis quatro anos de correria, abnegação, intensa produtividade, dores e aflições inenarráveis, conquistas, conhecimentos e reconhecimentos inimagináveis.

E reflito:
Vitória? Superação? Talvez.
Aprendizado? Com certeza!
Treino de consciência, de resiliência e aperfeiçoamento da maturidade? Também!

E o saldo? Sempre positivo!

Foram quatro anos intensos! Os mais complexos de que me recordo ter experienciado. Tenho absoluta certeza de que alcancei muito além do que presumi. E de que a vida será sempre uma montanha-russa, um relevo acidentado ou uma roda-gigante. Nada sabemos sobre o amanhã.

Sigo o caminho com sonhos, mas sem planejar demais. A vida me mostrou que é muito dinâmica e que nada temos a perder. Tudo conflui para o grande Ser em contínua formação que somos — lapidados gradativamente nas intempéries, na servidão, nos estudos, nos caminhos tortuosos trilhados.

Escolhi viver um momento de cada vez: entregar, confiar, aceitar e agradecer, sem deixar de me responsabilizar pela parte que me cabe neste mundo.

O que me fez doutora?

Não, não foi o doutorado acadêmico. Este contribuiu, e muito!

Mas essencial mesmo foi (e sempre será) toda a vivência e a reflexão dos momentos vividos — antes, durante, e também daqueles que ainda estão por vir.

O processo é contínuo; não acaba com a obtenção do grau acadêmico.

Percebo-me doutora?
Ainda não. Tenho muito por viver, aprender e evoluir.


Texto da página de agradecimento da tese de doutorado, defendida em 5 de agosto de 2025, no Programa de Saúde Pública e Meio Ambiente, Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Luana Arpini é capixaba, nutricionista, docente, pesquisadora e atua no Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória, em Vitória/ES.

Imagem: Lígia de Medeiros. Moça na poltrona estofada.

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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.

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