Até breve, meu irmão!
Denise
Alexandre era uma criança linda, com um cabelo perfeito, ondulado. Seu sorriso largo deixava seus olhinhos verdes todo puxadinhos. Lia muitos gibis e livros, tocava piano, adorava pegar jacaré e toda vez que entrava no mar de Cabo Frio gostava de chutar água nas suas irmãs. Era fera no Atari e no fliperama e adorava cachorros. Uma vez, pegou uma cachorrinha perdida e doente na rua e cuidou dela até seu dono aparecer. Acabou ganhando uma pincher de dia das crianças e era o dono oficial dela lá em casa, a Sarita, que ele tanto gostava.
Adolescente, lia jornais além dos livros, jogava War, já pensou em ser padre, mas gostava mesmo é de passar horas conversando com os amigos e ouvindo música no seu quarto e gravar as melhores nas fitas cassete. Filmava casamentos e aniversários, com uma câmera gigante daquelas de colocar no ombro, a última tecnologia da época, com a qual ele já ganhava um dinheirinho.
Sempre muito estudioso, já se interessava por política, mas também sabia aproveitar a vida. Saía com os amigos no seu XR3 prateado com teto solar acelerando pelas ruas de BH. Já praticou karatê, natação, basquete e Aikidô.
Jovem, ele mostrou que também era eclético: fazia aula de polo aquático e deixou de lado seu querido tarol pra tocar pandeiro num grupo criado por amigos, que era pura diversão, chamado Engana Samba.
Nascido em Juíz de Fora para surpresa de muitos, ele cresceu em Belo Horizonte, mas depois morou em São Carlos, na Eslovenia, na França e finalmente Brasília, cidade que escolheu e o acolheu para criar raízes com sua bela família. Curioso e explorador que sempre foi, Xande também já abriu caminhos em Fortaleza, Rio Pomba, São Paulo e em tantos outros lugares pelo mundo por onde passou. Conheceu muitos países, mas sempre me falava da beleza natural única do Rio de Janeiro.
Aos 53 anos, meu irmão mais velho é ainda muito novo, e sempre cumpriu seu papel de primogênito perfeitamente, dando conselhos preciosos, que foram determinantes em momentos cruciais da minha vida..
Quando eu era adolescente, Xande dizia: quando vc for dar um fora num menino que gostar de você, seja gentil, converse e explique direitinho.
Quando éramos jovens em busca de sucesso profissional, ele me disse: Se vc quer mesmo sair de BH pra trabalhar numa TV nacional, tem que perder o sotaque mineiro. Tratei de entrar numa fonoaudióloga e o conselho dele deu muito certo!
Já adultos, quando contei que eu estava apaixonada por um suíço, ele tratou de ligar rapidinho por Skype, na época, pra entrevistar em francês esse estrangeiro e ter certeza de que ele era um bom rapaz. E depois, quando o então novo namorado me chamou pra morar com ele em Genebra, meu irmão protetor deixou seu lado explorador falar mais alto e me deu aquele empurrãozinho provocador: vai logo antes que ele desista!
Há exatamente 1 ano atrás, fizemos uma viagem juntos a Ouro Preto. Quando Alexandre viu minha filha falando francês, me puxou a orelha: vc tem que falar com ela só em português. Olha Xande, infelizmente vc não viu a Juliette esse ano mas seu conselho deu certo de novo: ela agora fala português perfeitamente. Mais uma vez obrigada por esse excelente conselho.
Alexandre sempre teve essa força serena. Com muita doçura, até na voz e no gestual, ele sabia mostrar com firmeza valores e visões do mundo muito sólidos.
Quando minha mãe adoeceu, em 2020, eu e Alexandre passamos outros bons momentos juntos. Dessa vez eu é que mostrava pra ele os caminhos pra subir montanha em Belo Horizonte e espairecer um pouco
naquela realidade dura. Um reencontro acolhedor. A preocupação dele com a saúde dela e o empenho dele pela sua recuperação eram constantes.
Alexandre era uma pessoa que queria transformar pra melhor a vida das pessoas. Ele também sempre foi pra nós um exemplo de fé e de proximidade com Deus. Quando minha filha nasceu, ele fez questão de ir visitá-la em Genebra e foi o primeiro da minha família a conhecê-la. No batismo dela, ele resolveu tudo da celebração: o padre, a capela, as músicas e os músicos, né, João e Davi? Tudo perfeito!
Quando nossa avó materna já estava no fim da vida, em 2023, tivemos outro momento de grande cumplicidade. Fomos visitá-la juntos no hospital e Alexandre lembrou um caso engraçado dela durante uma viagem à Suíça, colocando açúcar no vinho caro. A vovó suspirou forte brava com a piada dele e naquele contexto triste, conseguimos rir muito juntos, assim como quando éramos crianças, poucos dias antes dela partir.
Alexandre que sempre teve sede de conhecimento e uma energia intelectual acentuada, nos últimos anos, mostrou que tinha sede de viver e de cuidar também do corpo: fazia de tudo para ter um estilo de vida saudável com um objetivo claro: viver mais e melhor.
Estava meditando, comendo bem, remando, treinando na academia, era muito presente na igreja, catequisava crianças… e ele virou até meio maratonista depois dos 50! Aquele sorriso puro de infância na linha de chegada da meia maratona mostra o quanto ele estava feliz e realizado com essa conquista pessoal.
Xande, desde que você foi pro hospital, dia 20 de junho de 2025, fiquei totalmente perdida. É como se nossas vidas, junto com a sua, estivessem em suspensão. Durante todo esse tempo, tudo o que eu queria era poder te ligar e te pedir um conselho, saber o que você achava disso tudo o que está acontecendo… Saber como estava vivendo essa experiência.
A sensação que tenho é que você fez de tudo pra ficar. Com toda sua paixão pelos seus meninos, seu amor pela Mi, seu carinho e cuidado com meus pais e nossa família, senti que você queria mais tempo aqui conosco e lutou a cada dia pra ficar mais um pouquinho e foi se despedindo aos poucos.
Mas você não é de viver pela metade e Deus tem planos maiores pra você. Sei que você estará muito bem por onde quer que vá, pois é uma pessoa verdadeiramente boa e iluminada, que só deseja o bem a cada um que cruza seu caminho.
Você, que sempre esteve tão presente por mensagens ao telefone, não responde mais. Seus votos a cada aniversário dos familiares e amigos não se fazem mais presentes ultimamente. Você, que era sempre o primeiro a responder nos grupos, agora se calou, deixando um silêncio profundo em nossas vidas.
Sabe, fica aquela vontade de ter tido mais um tempinho, uma última conversa. De poder te agradecer por tudo e dizer que te amamos demais mesmo… muito mais do que poderíamos imaginar… ou até que poderíamos demonstrar. Mas você sempre foi muito discreto, né? E foi, do seu jeitinho, partindo assim rapidinho mas de mansinho, silenciosamente, sem fazer alarde…
Então me contento agora a reler todas as mensagens que trocamos recentemente. E fico lembrando que você, assim como nossa mãe, adorava tirar fotos de todos os momentos especiais e foi até o fotógrafo oficial do meu casamento civil. Você fez essas fotos com tanto amor, entrega e responsabilidade, como tudo o que vc faz na vida!
Assim como nosso pai, você foi sempre tão comprometido com sua família e seu trabalho… Quando conversamos sobre as ideias pra logomarca da sua nova empresa, vc me contou dos valores que você preza : honestidade, conhecimento, confiança, efetividade, relações de longo prazo… e pensando bem, esse valores te representam perfeitamente, com seu jeitinho único de ser, doce e sempre bem certinho.
Xande, Ale, Barra, Zé, Testa… saiba que você fez plenamente sua parte aqui como só você sabe fazer. Você sempre foi um super irmão e um pai e marido tão dedicado à sua família maravilhosa… Sua generosidade foi marcante na criação de João e Davi. Com sua presença intensa, você transmitiu só bons valores aos seus filhos, esses meninos tão especiais, tão bem educados e admirados por todos nós…
Saiba que você sempre estará presente conosco quando ouvirmos uma música que nos faz lembrar você, ou então quando passarmos pela ponte que você adorava em Brasília, a Honestino Guimarães. Ou ainda quando comermos uma pacoquinha, uma torta de amendoim, uma ambrosia ou um sorvete no Mi Garba em Belo Horizonte. Lembrarei de você até quando alguém me responder rapidamente com um simples: legal, massa ou então com aquele seu típico: é fantástico!
E pode ter certeza que vou continuar sorrindo cada vez que eu abrir uma maçaneta usando um papel pra não sujar as mãos ou abrir uma garrafa da cerveja Leffe. Brindarei à sua saúde e à sua nova vida que começa no plano espiritual.
E se você me permite, hoje sou eu quem te dará um conselho. Vá em paz, meu irmão, siga seu caminho de luz e amor. Você deixou só lembranças lindas aqui na terra, e pode ir tranquilo que você cumpriu muito bem sua missão em todos os sentidos. Você cuidou muito bem de todos nós e os meninos continuarão muito bem cuidados com a Mi, sob sua supervisão lá de cima: vocês 4 estarão juntos sempre.
De todo jeito, um dia nós todos iremos nos encontrar de novo, mais cedo ou mais tarde. Tentarei levar na mala pra você uma bisnaga francesa bem crocante como vc já me pediu, um protetor solar Vichy que você sempre me encomendava e os chocolates Lindt que vc adorava. E quando chegarmos lá em cima, você poderá nos mostrar mais uma vez o caminho, nos acolher como sempre fez, e nos explicar dessa vez sobre como é a vida após essa passagem inevitável.
Somos gratos por termos tido a honra de ter vivido ao seu lado. E até no momento de sua partida você e sua família nos ensinam muito, sobre fé, união, generosidade, amor. Obrigada por tudo, irmão. Te amo muito!
Meu irmão Alexandre é o primeiro neto que levará nosso beijo as nossas duas avós. Alexandre Barra Vieira parte ao pôr do sol do dia 12 de agosto de 2025, deixando por aqui um vazio enorme no coração de sua grande companheira de vida Michelle, por quem ele sempre foi apaixonado, os amores da sua vida João e Davi, seus amados pais Ana Lúcia e Paulo Roberto, suas irmãs Letícia e eu, Denise, seus cunhados, sobrinhos e afilhados queridos. E sua sogra dona Maze, sua segunda mãe, seus tios, primos e uma legião de amigos. Sem esquecer da Pérola, a cachorrinha de quem ele sempre cuidou tão bem, que também sentirá falta de sua companhia diária.
Pra finalizar, um PS pra você Xande: Como sei que você não é fã de chatgpt, não usei nem pra mudar uma vírgula, viu? Escrevi essas palavras com a alma já transbordando de saudade.
Sua irmã Denise
ALEXANDRE BARRA
☆ 21 de fevereiro de 1972
† 12 de agosto de 2025
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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.
