Mirar o céu… Desde a terra

Regina Carvalho

Restituí-me a alegria da salvação, e sustentai-me com uma vontade generosa.

Sl.50, 14

Caro leitor, neste texto apresento singelas reflexões me arriscando a cada dia a “subir nos ombros do gigante” chamado Santo Inácio de Loyola para sentir e viver a fé cristã católica com a Igreja Católica. Jesus faz o convite a segui-lo para todo ser humano. Santo Inácio aceitou de forma determinada e eu também desejo seguir a Jesus, com meus passos lentíssimos.

Ante a vida de Santo Inácio me pergunto: Como uma enfermidade iluminou a vida de Inácio? Foi atingido por uma bala de canhão; dois livros piedosos: A Vida de Cristo, de Ludolfo da Saxônia; e Flos Sanctorum (compilado da vida de Santos), e por meio de tais leituras Deus atraiu o coração de Inácio transformando-o em um seguidor obediente, que buscou em tudo a maior gloria de Deus – AMDG – ad majorem Dei gloriam.

Chama-me atenção Inácio ser suscitado por Deus em um momento em que o Cristianismo na Europa estava em convulsão com a reforma protestante e o rompimento do Rei Henrique VIII, da Inglaterra, com a Igreja Católica.

E assim pergunto: Os desafios da Igreja Católica da época de Inácio são iguais aos dos dias de hoje? Vejamos nas mídias contemporâneas ataques a Igreja Católica e não se assemelham com as daquela ocasião?  Por isso, diante destes questionamentos voltei até o início de Inácio, e fui ajudada pela Carta do Padre Adolfo Nicolas, sj, Da distração à dedicação: um convite ao centro, publicada no blog https://ignatiana.blog/2020/05/26/centro/.

Na carta o Padre Nicolas faz algumas perguntas: O que perdemos? Onde nos equivocamos? Entendemos mal nossa chamada para renovação? Estamos sem rumos?  E respondeu com o que chamou de volta aos “Clássicos”: Inácio de Loyola, Francisco Xavier, Teresa D’Ávila, São João da Cruz.

Inácio tinha vida de oração e teve por objetivo a salvação de sua alma e do outro. E hoje? Será que oramos? Será que temos o mesmo objetivo? Será que a distração contemporânea é o ativismo?

Na atualidade voltar-se para as obras sociais tornou-se “palavra de ordem”, mas será que são frutos de orações?  E aqui trago parte da reflexão do Padre Adolfo Nicolas na carta citada:

Durante um bom número de anos estivemos divididos em nossas congregações religiosas – incluindo a nossa Companhia – entre os do setor social e os da educação; entre os que servem aos pobres e os que servem à elite. Justificamos – ou tentamos justificar – as eleições teologicamente, sem dar-nos conta de que se tratava, realmente, de uma operação ideológica. Que distração! Nem sempre entendemos que uma opção preferencial pelos pobres era uma opção de amor, a partir do coração, desde dentro, como quando Jesus sentiu compaixão pelas multidões pobres. Uma opção pelos pobres não se pode “exigir” aos demais, porque tem que vir do coração. Sem essa ideia importante, traduzimos “opção preferencial” como “obrigação moral” e nos sentimos justificados ao exigir isso de todos, sob a ameaça de considerá-los menos cristãos, menos comprometidos, menos evangélicos. Quando levamos isso ao extremo, sequer podíamos tratá-los como irmãos e irmãs; eram traidores da causa do Evangelho.

Esta ponderação do Padre Adolfo vem ao encontro de partilhas que ouvi por ocasião de acompanhamento dos EEEE, que trago aqui.

Certo dia um grupo de cristãos católicos se dirigiram, em um domingo, a comunidade carente para levar cestas básicas. Chegando lá com os alimentos fizeram a distribuição, cantaram, dançaram, e em determinado momento foram abordados por um senhor que os questionou: Estamos sem Eucaristia há 3 semanas, e temos crianças que ainda não foram batizadas; será que na próxima vez que vocês vierem poderiam trazer um sacerdote? 

Outra partilha ouvida: fiéis leigos foram a uma comunidade de religiosas e chegando lá as religiosas disseram que desejavam erguer uma capela. Então, os leigos logo se prontificaram em colaborar com a construção do templo, e foi então que as religiosas lhes disseram: Primeiro vamos rezar para ouvir ao Espírito Santo se Ele deseja que seja erguida.

Estas partilhas provocaram-me os questionamentos: as obras sociais propostas são frutos de oração ou de ideologia? Ou a troca do amor ágape pela filantropia humanística?


Regina Carvalho é leiga, casada, pertencente à Comunidade de Vida Cristã (CVX), CVX São José, Brasília (DF).

CVX: Uma Vocação

Imagem: Lígia de Medeiros. Onda sonora. Azulejo.

Comunidade de Vida Cristã (CVX) Espiritualidade cristã

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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.

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