Luiz Fernando Krieger Merico

Corre o ano de 2024. Muitos profetas da atualidade já anunciaram a iminência de profundos problemas causados pela irresponsabilidade humana. O atual papa, Francisco, anuncia a necessidade da fraternidade humana como modo de vida – sua bela encíclica Fratelli Tutti – e a necessidade de radical mudança no estilo de vida para não destruir a fina e tênue capa de sustentação de vida no planeta – sua bela encíclica Laudato Si’. A ciência vem anunciando e demonstrando que o rumo que seguimos como humanidade, como civilização, é em direção a um grande precipício. As mudanças ambientais que eram anunciadas para 2040 ou 2050, ocorrem agora, porque os modelos científicos, apesar de representarem nossa melhor capacidade de observação e monitoramento, ainda não conseguem captar todos os componentes da intrincada teia da vida do lindo planeta Terra.

As consequências de nossas irresponsabilidades se anteciparam muito – vejamos as ondas de calor, as chuvas desastrosas, os tufões, as secas, a desertificação… tudo acorre já, agora, e a tendência é de uma piora significativa nas condições de sustentação da civilização. Ao lado disso é crescentemente propagado um deus que não existe – um deus excludente, racista, maldoso, destruidor da natureza, ganancioso e violento. Este deus que não existe penetra com velocidade, nas mais variadas camadas sociais. Temos um templo dedicado a este falso deus praticamente em cada esquina de nosso e de outros países. A cultura do ódio, da violência e da ignorância, ganha contornos de aprovação religiosa e assumem um ativo papel de freio a qualquer atitude de transformação em direção à solidariedade dentro de nossa espécie e solidariedade com as outras espécies de vida no planeta.

Frente a acelerada antecipação dos fenômenos ambientais e climáticos que vem destruindo a possibilidade de sobrevivência de nossa sociedade atual e futura, cabe apenas a antecipação de nossas respostas a esta realidade. Radicalizar nossa pregação de um mundo de irmãos, como nos indica a Campanha da Fraternidade deste ano, fragilmente e timidamente assumida por muitos cristãos. Radicalizar nossa pregação de uma verdadeira revolução nos processos de produção e consumo, permitindo gerar emprego, renda e prosperidade sem destruir a base de recursos que nos mantém. Sabemos como fazer tudo isto. Temos informação suficiente para fazer tudo isto. Temos tecnologia suficiente para fazer tudo isto. Lamentavelmente falta-nos coragem de propagar a boa-nova. Falta-nos comprometimento e ardor missionário. Falta-nos assumir o protagonismo da defesa dos que não tem voz, incluindo os que não tem voz porque ainda não nasceram.

Busquemos forças e inspiração no salmo 17:

Na minha angústia, invoquei o Senhor, gritei para meu Deus; de seu templo ele ouviu a minha voz, e o meu clamor em sua presença chegou aos seus ouvidos.

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Luiz Fernando Krieger Merico é graduado em Geologia (UFPR), mestre em Análise Ambiental (UNESP), doutor em Geografia (USP), possui aperfeiçoamento no Schumacher College (Inglaterra) em Economia Ecológica. É autor do livro Mística do século XXI: Guia de Oração com as encíclicas Laudato Si’ e Fratelli Tutti (e-book).

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