Testemunho profético do Padre Júlio Lancellotti coloca oprimidos no centro da política
Guilherme C. Delgado
Dois testemunhos públicos recentes do Pe. Júlio Lancellotti (SP-capital) incomodaram setores ultraconservadores da comunidade judaica e ultradireitistas da Câmara Municipal de São Paulo:
- a presença do Pe. Júlio em manifestação pública em defesa do povo palestino (04/11/2023), com sua fala de denúncia ao genocídio praticado pelo governo de Israel contra a população de Gaza, sem deixar de condenar as ações terroristas do Hamas contra judeus, respondendo posteriormente aos críticos;
- a iniciativa da Câmara de Vereadores de São Paulo de protocolar uma CPI municipal contra o trabalho do Pe. Júlio Lancellotti de assistência aos moradores de rua, incluindo drogados da Cracolândia.
‘Moradores de Rua’ em São Paulo em números crescentes, como também em quase todas as grandes cidades brasileiras, incluindo Brasília-DF, são manifestações expressivas da desumanização da vida urbana, clamando por soluções políticas. Mas como em muitos lugares o Poder Público se omite, banaliza ou ‘naturaliza’ a questão, a ação pastoral das Igrejas ou da sociedade civil organizada se fazem presentes; provocando a ira de ultradireitistas, como a do vereador paulistano Rubinho Nunes (União Brasil), que com a criação da referida CPI pretende pelo bombardeio ostensivo ao Pe. Júlio Lancellotti atingir de fato às vítimas assistidas – os moradores de rua-, ao invés de cuidar das suas dores.
O primeiro caso citado, da denúncia contra o povo palestino em Gaza, passados mais de três meses de bombardeios diários, com mais de 22 mil mortos até final de dezembro, número muito maior de feridos e desaparecidos nos escombros; temos uma situação trágica de genocídio que o mundo inteiro testemunha, cuja denúncia profética, desde o início, não apenas do Pe. Júlio, mas também do jornalista judeu Breno Altman, valeram-lhes retaliações e perseguições que continuam até o presente. O passar do tempo e o tamanho da tragédia vão impondo uma realidade cruel de ‘limpeza étnica’ incompatível com a vida civilizada, que infelizmente revelam cristalinamente o conteúdo da denúncia, cujo objetivo era precisamente evitá-la.
O segundo caso – dos moradores de rua-, que a ultradireita pretende converter em uma espécie de Gaza interna de nossa triste realidade urbana, oferecendo o Pe. Júlio em holocausto aos ídolos da morte, é de tamanha estupidez política, que tudo indica estaria provocando efeitos eleitorais adversos aos seus promotores, ao contrário do que imaginaram originalmente.
Registre-se com merecido mérito a atitude do Cardeal Arcebispo de São Paulo – D. Odilo Scherer, de franca solidariedade ao trabalho do Pe. Júlio Lancellotti, fato que deixa em completo isolamento grupos que dentro da Igreja Católica preferem se omitir ou silenciar.
Registre-se ainda a solidariedade pública do Papa Francisco, que por meio de homilia e também de telefonema privado ao Pe. Júlio manifesta sua solidariedade ao trabalho de proteção humana e de profecia, ora sob questionamento.
Temos na presente conjuntura, que é de recesso político dos Poderes Públicos, uma ação pública profética em palavras e atos assistenciais tendo em vista levar a justiça aos que mais dela necessitam. E esta é a própria essência da verdadeira política. Isto tem força comunicativa que transcende às frágeis figuras humanas que as encarnam, ainda mais submetidas aos agravos e retaliações ideológicas a que estão sobrecarregados.
Finalmente, para nos situar didaticamente no objeto próprio desta coluna, que trata mensalmente dos temas relacionados à política nacional – trazer ‘Moradores de Rua’ no Brasil e martirizados pelo genocídio em Gaza (Oriente Médio) para o centro da política brasileira-, não como criminosos, como querem os totalitários, mas como vítimas inocentes da história, é papel dos profetas modernos, que sem medo às retaliações enfrentam situações aparentemente insolúveis e conseguem com o tempo alcançar soluções políticas condizentes.
Em política externa o próprio Chanceler brasileiro já se manifesta oficialmente (06/01/2024) pela condenação internacional à emigração forçada da população de Gaza; e em política interna o principal fato a comemorar é aparente desmoralização precoce da CPI municipal contra o Pe. Júlio, pelo que revela a própria imprensa paulista, fato político nacional da maior relevância.
Guilherme Delgado é doutor em economia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Imagem em destaque: Lígia de Medeiros
Guilherme Delgado Política Padre Júlio Lancellotti política nacional
Ignatiana Visualizar tudo →
IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.

Linda e belas palavras Proféticas, seguiremos lutando para um mundo de igualdade Social e Humanitária!
Denis Cristiano da Silva
Servo da Comunidade Recomeçar, que tem como trabalho na sociedade acolher irmãos que estão em Situação de Vulnerabilidade e que querem sair dos Vícios seja do Álcool ou das Drogas ou qualquer outros vícios, através da Acolhida, Evangelização e Ressocialização .!!
Seguiremos em Frente nessa luta mesmo sabendo que podemos perder, Força, Foco e Coragem E Jesus Cristo na Frente..
CurtirCurtir