Ser mais para os jovens

Fabio Paulo Belli

inspirações da pedagogia inaciana no contexto da especialização em juventudes, religião e cidadania

Este relato é uma partilha, iluminada pela minha caminhada como membro de uma Comunidade de Vida Cristã, de experiências no contexto da coordenação de um curso de especialização sobre a temática ‘juventudes’. Ele não tem como propósito oferecer um exemplo, um modelo ou algo do gênero, a respeito de como aplicar a pedagogia inaciana em alguma realidade, neste caso, na coordenação e direção de espaços educativos. Isto porque a complexidade e a dinamicidade da realidade colocam desafios que demandam respostas diferentes para tempos diversos. Este é, aliás, um dos elementos levados em conta na pedagogia inaciana.[1]

O correto discernimento dos sinais dos tempos exige de nós uma disposição de espírito que ultrapasse uma mentalidade de aplicação de modelos prontos, descolados da experiência concreta, que se impõe, inevitavelmente. Digo isso porque a riqueza da espiritualidade e da pedagogia inacianas prestam-se a uma pluralidade de recepções que, ao contrário de promover relativização da experiência de Inácio, a desorientação e a frouxidão em relação ao método, nos colocam no caminho do discernimento, próprio da criatividade e do vigor do Espírito. Neste sentido, Pe. Luiz Fernando Klein, importante referência nos estudos sobre a pedagogia inaciana, ressalta:

Graças à sua longa tradição, e ao dinamismo espiritual que a mantém atualizada, a Pedagogia Inaciana oferece hoje não um método, nem uma receita, mas um enfoque e um estilo educativo característico. Este afirma o potencial da pessoa, a sinergia da comunidade que está sintonizada com os mesmos valores, a convicção de que as pessoas e as estruturas podem mudar.

Pe. Luiz Fernando Klein,SJ [2]

Assim, tomemos este texto pelo que ele de fato é: um relato de experiências vivenciadas no contexto da coordenação de um espaço educativo, em uma faculdade católica, com alunos e alunas jovens-adultos. Saliento que o Projeto Pedagógico do Curso não faz referência à pedagogia inaciana, nem o corpo docente recebeu alguma orientação no sentido de transmitir inacianidade em sua atividade docente, tampouco a instituição onde o curso se desdobrou é jesuíta.[3] Por isso, o relato diz respeito primeiramente à minha experiência, como membro de uma Comunidade de Vida Cristã (com a qual partilhei os desafios da missão assumida) e aprendiz dos caminhos propostos por Inácio, e às inspirações inacianas que permearam a comunidade de aprendizagem.[4]

quero ser uma pessoa para os demais!

O curso que coordenei não foi ausente de contradições, conflitos nas relações, experiências difíceis entre os envolvidos no caminho de aprendizagem.[5] Contudo, isso não significa que não pudemos notar o Espírito movendo a todos e todas. Alunas e alunos, professoras e professores, coordenadores, funcionários da instituição, em todos e todas fez-se notar a presença de Deus, impulsionando-nos ao crescimento no Espírito, na consolação e na desolação.[6] Daí que meu relato não é tão somente sobre a minha condução como coordenador. É também sobre isso, já que é o lugar desde onde o Senhor mostrou sua ação entre nós para mim. Porém, é mais sobre as moções do Espírito em cada um e cada uma que se dispôs a caminhar neste processo de aprendizagem e, de maneira mais ou menos tematizada e refletida, disse internamente: “quero ser uma pessoa para os demais!”

Sobre o contexto do curso

Inicio a partilha de minha experiência com um breve histórico que contextualiza o curso. Trata-se da especialização em ‘Juventude, Religião e Cidadania’[7], da Faculdade Católica de Santa Catarina (FACASC), localizada em Florianópolis, Santa Catarina. A FACASC é a instituição responsável pela formação teológica do clero diocesano do Regional Sul 4 da CNBB. As especializações oferecidas pela instituição estão todas sob o guarda-chuva da teologia e, por isso, o caráter humanístico dos cursos é uma das marcas. Naturalmente, tanto o corpo discente quanto o corpo docente também têm presente nos processos educativos a visão cristã que permeia a proposta da instituição. Não é diferente com a Pós em Juventude. Os alunos e alunas que passaram pelo curso são quase todos provenientes das pastorais da Igreja que trabalham com juventudes, particularmente da Pastoral da Juventude. Eles trazem o rosto eclesial das juventudes como uma particularidade enriquecedora dos debates em sala de aula.

Duas turmas, uma iniciada em 2008, em parceria com a Faculdade Jesuíta de Teologia e Filosofia (FAJE), e outra em 2013, da qual fui aluno[8], deram início às reflexões sobre juventudes dentro da especialização da FACASC. Em 2018, iniciamos o processo de revisão do Projeto Pedagógico de Curso. Egressos do curso e docentes das turmas anteriores foram envolvidos no processo de avaliação e propostas de mudanças no Projeto Pedagógico, considerando também as avaliações apresentadas na época do encerramento da turma de 2013. O trabalho de divulgação do curso foi realizado em parceria com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – Regional Sul 4, a Pastoral Juvenil e outras organizações que envolvem a juventude no estado de Santa Catarina. Estávamos no contexto de preparação e realização da XV Assembleia Ordinária dos Bispos por ocasião do Sínodo sobre a juventude, o que demonstrava um novo momento de urgência da temática ‘juventudes’. Tivemos o importante apoio da CNBB Regional Sul 4 que, por meio de bolsas de estudo, financiou em 50% o processo de aprendizagem de mais da metade dos alunos e alunas do curso. Nossas expectativas eram altas.

A constituição de uma comunidade de aprendizagem

O trabalho inicial consistia em encontrar jovens dispostos a acolher a proposta e trilhar o caminho de aprendizagem comum. A Pós em Juventude é organizada em quatro etapas de duas semanas, durante períodos de férias, coincidentes com os calendários escolares. Essa organização visa facilitar a participação das juventudes inseridas nas universidades, principalmente as que residem no território do Regional Sul 4 da CNBB. Muitos jovens precisam se deslocar de suas cidades de origem até Florianópolis, além de se organizarem com estadia e alimentação durante os dias do curso. Meu trabalho como coordenador envolveu também auxílio para estas questões.

Os alunos e alunas inscritos para o curso eram, em sua maioria, envolvidos em atividades pastorais nas comunidades de origem, com vínculos comunitários sólidos, dispostos a partilhar a vida e munidos de espiritualidade cristã sólida. Uma vez recebidos e instalados em Florianópolis, estabeleceu-se, com alguma facilidade, um ambiente de aprendizagem que extrapolou em muito o espaço da sala de aula. Os alunos e as alunas compartilharam a residência de hospedagem[9], rezaram juntos, viveram momentos de lazer comuns, organizaram equipes para preparar as refeições, estabeleceram vínculos de solidariedade em momentos difíceis do curso, formaram uma verdadeira comunidade. Desde a perspectiva inaciana, alunos e alunas sentiram-se encorajados a respeitar e cuidar uns dos outros como amigos e companheiros, no espírito do Evangelho. A comunidade de aprendizagem constituiu-se como lugar favorável à cultura do encontro. O Papa Francisco ressalta a importância de que assim o seja: “A escola é um lugar de encontro. […] E nós hoje precisamos desta cultura do encontro para nos conhecer, para nos amar, para caminhar juntos.”[10].

Este foi o ambiente da primeira etapa, em julho de 2019, e da segunda etapa, em janeiro de 2020. Porém, em 11 de março de 2020, a COVID-19 foi caracterizada pela Organização Mundial da Saúde como uma pandemia e fomos obrigados a experimentar uma nova e desafiante dinâmica no processo de aprendizagem.

Aulas em tempo de pandemia

Não desanimeis diante das dificuldades apresentadas pelo desafio educativo! Educar não é uma profissão, mas uma atitude, um modo de ser; para educar é preciso sair de si mesmo e permanecer no meio dos jovens, acompanhá-los nas etapas de seu crescimento, pondo-se ao seu lado. Dai-lhes esperança, otimismo para o seu caminho no mundo.

Papa Francisco (Respostas às perguntas dos representantes das escolas dos Jesuítas na Itália e na Albânia, em 07/06/13)

A pandemia de COVID-19 levou as instituições de ensino a suspenderem a maior parte das atividades acadêmicas presenciais previstas para o primeiro semestre de 2020, ocasionando um período de impossibilidade de acesso presencial às estruturas das instituições e exigindo um complicado processo de adaptação da rotina, tanto das atividades de estudo, quanto dos afazeres da vida cotidiana. As aulas previstas para julho de 2020, terceira etapa da Pós em Juventude, foram suspensas, na expectativa de que pudéssemos nos encontrar presencialmente em janeiro de 2021. A decisão pelo adiamento da etapa (e, portanto, pela não realização das aulas em modo remoto) foi tomada após longo processo de discernimento entre alunos e coordenação do curso.

Os próprios alunos iniciaram um diálogo, elencando os prós e contras do modelo remoto. Pesou bastante, para a decisão favorável à espera pelo momento de melhores condições sanitárias, o entendimento dos alunos e das alunas de que o curso perderia em qualidade se a comunidade de aprendizagem não pudesse encontrar-se presencialmente, seja para os momentos de aula, seja para as partilhas que aconteceriam durante os momentos de lazer, de refeições e de encontros de debates informais, frequentes nos lugares em que os alunos e as alunas ficavam hospedados. Ressoou para mim a implícita afirmação: “queremos aprender em comunidade!”

Tendo esperado por mais um semestre, chegamos, à época, ao entendimento de que o melhor seria continuar com os estudos apenas com algumas disciplinas, na expectativa de que, com o posterior fim da pandemia, pudéssemos voltar às aulas presenciais em julho de 2021. Isto principalmente porque algumas disciplinas da grade curricular do curso têm caráter mais prático, como, por exemplo, a disciplina ‘Juventude, espiritualidade e violência’, na qual, conduzidos pela experiência de Pe. Vilson Groh, atuante há muitos anos nas periferias de Florianópolis, os alunos e as alunas seriam levados, como em outras turmas, para conhecer os projetos sociais e a realidade de comunidades empobrecidas de Florianópolis. Infelizmente, diferentemente do que esperávamos, a pandemia não cessou e seus efeitos continuaram, de modo que foi inevitável organizar as próximas etapas do curso todas em modo remoto. Alunos e alunas precisaram ajustar suas rotinas, em casa e no trabalho, para poderem acompanhar as aulas. Foi também uma oportunidade para vivenciar uma experiência de discernimento e adaptação, característica da pedagogia inaciana, conforme evidencia Gabriel Codina: “La toma de decisiones se realiza sobre la base de um proceso permanente de discernimiento y de adaptación a las circunstancias. La reflexión y la evaluación forman parte de este proceso.”[11] Perdemos o presencial, mas pudemos experimentar um novo modo de aprender e de nos relacionar.[12]

Docentes com espírito inaciano

O paradigma inaciano de educação desafia o corpo docente a conhecer o histórico de seus alunos e como esse histórico afeta seu aprendizado. O paradigma lembra o corpo docente de que é fundamental construir uma prática reflexiva onde os alunos tentem dar sentido ao seu aprendizado e, em seguida, passem para a ação com base no que aprenderam e avaliem o sucesso da ação para transformar suas vidas. Além disso, a pedagogia inaciana, impulsionada e guiada pela espiritualidade inaciana, sempre viu a pessoa humana no contexto de seu destino eterno, foco central de seu empreendimento, insistindo no cuidado individual e na preocupação com cada pessoa em sua integralidade (cura personalis). Por isso, o docente é chamado a olhar com amorosidade diferencial para o seu discente, preocupado com oferecer elementos para sua transformação como pessoa para os demais. O Papa Francisco, em discurso a professores e educadores, elucidou:

Podemos perguntar-nos: quem é o próximo para o professor? O “próximo” são os estudantes! É com eles que transcorre os seus dias. São eles que esperam a sua guia, orientações, respostas – e, antes ainda, boas perguntas!

Papa Francisco[13]

Nesta direção, gostaria de dedicar algumas linhas ao protagonismo exercido pelo corpo docente do curso. De modo especial e, considero eu, com a devida justiça, à “samaritanidade” (cf. Lc 10,25-37) com a qual agiram as professoras do curso. Com tranquilidade afirmo que, não fosse a sensibilidade e o olhar amoroso delas, alunos e alunas teriam sido deixados caídos pelo caminho. Apenas para ilustrar, uma das professoras, preocupada com o andamento das aulas, entrou em contato comigo após o primeiro dia de aulas de sua disciplina, com as seguintes palavras: “prof. Fabio, acordei pensando nas aulas. Você acha que está tudo bem? Os alunos receberam bem o dia de hoje? Estão tranquilos? Fiquei preocupada com eles”. Manifestações semelhantes e até mais intensas do que esta, que denotam uma responsabilidade quase filial pelos alunos e pelas alunas, foram frequentes por parte das professoras, sobretudo.

As professoras foram verdadeiras orientadoras de vida, companheiras de aprendizagem dos educandos, testemunhas dos valores que transmitiram. Desde antes de as aulas iniciarem, no convite para lecionar, passando pela preocupação com o conteúdo das disciplinas e pelo processo avaliativo, tudo foi permeado pela atenção e amorosidade das professoras com os alunos e as alunas.

Tendo em vista que, na proposta inaciana de educação, o contexto é, ao mesmo tempo, um ponto de partida para iniciar qualquer processo pedagógico e uma referência orientativa para a aprendizagem, professores e professoras eram informados sobre a quantidade de alunos e alunas, a origem deles, as diferentes áreas de formação e a atuação pastoral. Pude acompanhar, em alguns momentos, o cuidado que as docentes tinham em gerar processos de escuta durante as aulas. Mas, sem dúvida, o mais belo do processo, foram os contatos extraclasse que as professoras, livremente, proporcionaram aos alunos e às alunas. Em momentos de dificuldades, tanto da comunidade de aprendizagem, quanto dos discentes individualmente, professoras estavam prontas para ouvir estudantes a respeito das perguntas e preocupações sobre o significado da vida, para compartilhar suas alegrias e suas tristezas e para ajudá-los em seu crescimento pessoal e nas suas relações interpessoais.[14]

Avaliar

La PI persigue la excelencia no sólo académica sino humana. Se propone la formación de líderes competentes, desarrollando todas las cualidades de la persona para emplearlas no en la competitividad sino en el servicio, y capacitándolos para convertirse en agentes multiplicadores de cambio. En su compromiso de fe, se espera que los estudiantes se “señalen” en su seguimiento de Cristo.

Codina, 2007

Evitando um enfoque utilitário, focado apenas em desempenho acadêmico e na produção de conteúdos, detenho-me agora, brevemente, nos frutos que o caminho gerou. Aliás, mesmo do ponto de vista avaliativo, entendo que o mais importante é o caminho do que os resultados obtidos. Por isso, não faria sentido focar apenas em dados como a quantidade de alunos e alunas que concluíram o curso ou a contribuição do curso em termos de inserção profissional, ainda que também isso tenha sua importância, como passos do caminho. Na perspectiva da formação integral e principalmente da pedagogia inaciana, parece-me que a pergunta seria pelo quanto o curso foi capaz de transformar os alunos e alunas (também os professoras e professoras, coordenadores, corpo técnico-administrativo) em mais “pessoas para os outros” ou em pessoas mais “conscientes, competentes, compassivas e comprometidas”, segundo expressão do Pe. Peter-Hans Kolvenbach.

Evidentemente, não há como mensurar muito objetivamente o crescimento dos membros da comunidade de aprendizagem como ‘mais para os demais’. O que podemos ilustrar é o quanto o caminho na Pós em Juventude favoreceu uma participação ativa dos jovens na Igreja, na comunidade local e na sociedade, no serviço para os outros. Por graça divina, os que a nós chegaram para fazer o caminho de aprendizagem já amavam as juventudes e estavam a serviço delas em suas comunidades. A comunidade educativa possibilitada pela Pós em Juventude foi uma oportunidade para aprofundar experiências e reflexões que os jovens já vinham fazendo em suas comunidades de origem. Desde esta perspectiva, é animador notar nas partilhas dos alunos e das alunas, ao final do curso, o sempre maior encantamento pelas juventudes. Tive a oportunidade de ler todos os trabalhos de conclusão de curso dos concluintes, além de orientar a redação do trabalho de duas alunas. Ficou evidente o crescimento na qualidade dos discursos elaborados pelos alunos e alunas, a ampliação do conhecimento a respeito da própria realidade na qual eles estão envolvidos (periférica, rural, universitária, etc.) e o desejo de transformação do mundo em um lugar mais justo e solidário para as juventudes.

Nossa expectativa e nosso trabalho seguem na direção da proposição e da formação de uma nova turma do curso, que acontecerá após um processo de discernimento e avaliação. Somos movidos pela convicção da Igreja, que faz opção preferencial pelos jovens, sobretudo pela juventude empobrecida, desde Puebla. Que o Senhor continue nos inspirando na missão de ‘formar homens e mulheres para as juventudes’.


Notas

[1] Para reflexões mais completas sobre a pedagogia inaciana, ver amplo material disponível em: https://pedagogiaignaciana.com/biblioteca-digital/biblioteca-general

[2] KLEIN, Luiz Fernando. A pedagogia inaciana tem algo a dizer ao mundo de hoje? 2015. Disponível em: https://pedagogiaignaciana.com/biblioteca-digital/biblioteca-general?view=file&id=2050:a-pedagogia-inaciana-tem-algo-a-dizer-ao-mundo-de-hoje&catid=8

[3] Sobre este ponto, vale a reflexão de Codina: “Ignaciano y jesuítico no se correlacionan de la misma manera. En lo jesuítico se sobreentiende la inspiración ignaciana, mientras que lo ignaciano no siempre comporta una vinculación con la Compañía. En el mapa de la educación, centenares de instituciones proyectan un rostro ignaciano –más que jesuítico–, mostrando así que se puede asumir una orientación ignaciana sin tener necesariamente que implicar a la Compañía.” (CODINA, Gabriel. Pedagogía ignaciana. In: DE CASTRO, José Garcia (dir.). Diccionario de Espiritualidad Ignaciana. Bilbao-Santander: Mensajero-Sal Terrae, 2007. p. 1426-1430. Disponível em: https://s3.amazonaws.com/omeka-net/42521/archive/files/d854e96977c3743d7ec9c84755448802.pdf?AWSAccessKeyId=AKIAI3ATG3OSQLO5HGKA&Expires=1649289600&Signature=LOhg03djyH6smUhuCKk5V1tZ3wA%3D). Como ex-aluno da FACASC, desde a extensão, passando pela graduação, até a pós-graduação, percebi elementos de inacianidade na instituição, os quais não estiveram ausentes no curso que coordenei.

[4] Não quis usar aqui o conceito ‘comunidade educativa’, visto que a articulação deste, parece-me, exigiria maior explicitação do paradigma inaciano na condução do curso. Para uma reflexão sobre o conceito ‘comunidade educativa’, ver KLEIN, Luiz Fernando (org.). Educação jesuíta e pedagogia inaciana. São Paulo: Loyola, 2015. Especialmente p. 21-27; 266-267.

[5] Estas contradições, no entanto, não serão objeto do meu relato, seja para preservar os envolvidos nos processos, seja para enfocar na esperança e nos frutos gerados pelo Espírito, na consolação e na desolação. Isso empobrece, em parte, minha partilha, uma vez que as experiências de desolação não constarão explicitamente no escrito. Vale dizer, em um contexto de pandemia, de desistências de alunos, de conflitos entre a comunidade discente e entre discentes e professores, a desolação bateu à porta frequentemente. Mais em evidência esteve, porém, a solidariedade entre os alunos e as alunas, o cuidado exercido por professoras e professores para além das burocracias do curso, o diálogo e a sensibilidade da comunidade de aprendizagem, e o desejo sincero de mediar os conflitos.

[6] cf. EE 320.322.

[7] Doravante ‘Pós em Juventude’

[8] Os frutos da experiência vivida em 2013-2014 certamente foram úteis à condução da turma de 2019-2021, na medida em que proporcionaram a percepção das potencialidades e fragilidades do curso. Minha turma foi um espaço privilegiado de partilha de vida e de fé, de avaliação de práticas pastorais, de considerações críticas sobre modelos eclesiais, de críticas sociais desde a experiência cristã, apenas para ilustrar alguns elementos da rica vivência na comunidade de aprendizagem constituída à época.

[9] A maior parte dos alunos ficou hospedada em uma casa de formação (um seminário diocesano). Ali eles organizaram as refeições, servidas tanto para os que estavam estabelecidos na casa, quanto para os demais alunos e alunas, e para professoras e professores que eram convidados a participar das refeições depois das aulas. Sem dúvida a experiência de comunhão de mesa, perdida com a pandemia, foi crucial para enriquecer a experiência educativa.

[10] Papa Francisco. Discurso aos estudantes e professores das escolas italianas. 10 mai. 2014. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2014/may/documents/papa-francesco_20140510_mondo-della-scuola.html

[11] CODINA, 2007.

[12] Interessante notar que, dos Trabalhos de Conclusão de Curso, dois trataram diretamente da temática da pandemia e sua relação com a educação, e outros três tocaram no assunto em algum momento dos textos. Tornou-se um tema emergente, para o qual os alunos e as alunas não ficaram alheios.

[13] Papa Francisco. Discurso à União Católica Italiana de Professores, Dirigentes, Educadores e Formadores. 14 mar. 2015. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2015/march/documents/papa-francesco_20150314_uciim.html

[14] KLEIN, 2015, p.57.


Fabio Paulo Belli é leigo, pertencente à Comunidade de Vida Cristã (CVX), comunidade Nova Aliança, Caçador (SC). Doutorando em Filosofia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Coordenou a especialização em Juventude, Religião e Cidadania da Faculdade Católica de Santa Catarina (FACASC)

Imagem: Azulejo de Ligia de Medeiros.

Comunidade de Vida Cristã (CVX) Espiritualidade cristã Juventudes Leigas e leigos

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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.

2 comentários Deixe um comentário

  1. Que bonito ver a aplicação da experiência de discernimento espiritual na vida prática, em prol da juventude! Obrigada por investir nela e por compartilhar!

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  2. Que bênção e riqueza da experiência e partilha efetuada. Demos graças a Deus, por todos que se deixam tocar por Seu Amor incondicional, e vão ressignificando suas vidas em “ser para os outros”.
    Gratidão!

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