Rezar uns pelos Outros…
Joana Eleuthério
Jesus é quem docemente ‘nos’ conduz à plenitude da fé. O cenário é o mesmo em Mateus 9,2, a propósito do paralítico de Cafarnaum. Significa que, frente aos nossos problemas, podemos e devemos contar com a fé dos outros. Assim como também eles devem poder contar com a nossa fé.
Marcel Domergue
Negra noite da pandemia,
do distanciamento social
e da proximidade virtual …
— como possibilidade real.
Amigos desaparecem sem adeus
Quem sobreviverá?
Quem pagará essa conta?
— futuro sombrio, feito de ausências.
Do sumiço inesperado e dolorido
do susto de saber que a pessoa se foi
e que não mais a encontraremos,
nasce o medo de novas ausências
nas mensagens, chamadas de vídeo…
Nenhuma possibilidade de reencontro
no pós-pandemia – buraco no coração.
— como ver novas todas as coisas em Cristo?
Vejo pessoas zombando dos cuidados sanitários recomendados
Outras se acostumando, relaxando e achando tudo normal…
Sem a eucaristia por mais de um ano,
me sinto frágil, triste e angustiada …
As vacinas chegaram e
já se vê bons resultados,
mas ainda não tem para todos.
E há gente que nem quer se vacinar,
mas acredita no kit covid.
— como ajudar os excluídos de tudo?
Há gente que morreu por falta de oxigênio,
por falta de vagas, por falta de medicamentos
necessários para intubação e muitas outras faltas…
Há profissionais da saúde dando o sangue
na tentativa de salvar vidas e amenizar a dor.
Nas periferias, há muita gente, muitas famílias
que despencaram do subemprego ao desemprego.
— como salvar essas vidas famintas?
Ouvi-nos, Deus da compaixão, do amor e da fidelidade.
Queremos amar como Jesus nos amou …
Não nos detivemos perante os teus apelos constantes, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente.
Papa Francisco no silêncio Praça São Pedro totalmente vazia
Pai, a desesperança quer tomar conta
de nossa vida, de nossa fé, de nosso amor…
Precisamos ser perdoados, perdoadas
pela nossa imensa fraqueza a nos abater.
Rezemos e supliquemos uns pelos outros, pelos inimigos.
Não só por nós, pelos amigos ou por nossa família.
Oremos por todos os falecidos e seus familiares.
— Como rezar pelo irresponsável desgoverno que temos?
“Pai nosso!” – foi Jesus que nos ensinou
a pedir o pão e o perdão para todos e todas.
Em meio a essa grande tristeza e desencanto,
ouço Jesus, enfático: “Amem-se uns aos outros … Amem-se!
Como vos amei e como meu Pai e eu nos amamos.”
A forte presença do Espírito Santo é o cumprimento
da palavra de Jesus: “Estarei convosco todos os dias.”
Para nosso Deus, o Deus da misericórdia, o Deus da vida,
nem a morte nem a tristeza terá a última palavra.
— a Ressureição resgatará todo mundo?
Deus não violenta a dignidade nem a liberdade do ser humano,
Ele ama-o e acolhe-o, na sua ampla e doce hospitalidade.
São tantas perguntas sem respostas,
tantos mistérios a desvendar e a nos desafiar…
Passada a pandemia, temos de nos tornar gente do bem,
pessoas realmente muito melhores do que antes.
O Espírito Santo nos dá coragem e sabedoria…
Antes de mais nada, devemos fazer uma boa análise
do caminho que fizemos até aqui. Seremos honestos?
— Os sentimentos de preocupação e compaixão sobreviverão?
Senhor, falhamos em nossa corresponsabilidade diante da Vida
Distraídos, não contribuímos no cuidado fundamental
nem prestamos atenção à direção do sopro do Espírito …
Rezar não basta, pedir perdão não basta.
De novo, pergunto: Senhor, o que espera que façamos agora?
Depois de um ano de pandemia, das quarentenas e máscaras,
há o risco de cairmos na rotina da indiferença, outro vírus destruidor.
— Meu Pai, quando mesmo a pandemia vai passar?
Devemos mudar nosso estilo de vida consumista e egoísta
para proteger nosso futuro – da humanidade e da Terra
com toda a sua diversidade.
A Mãe Terra não nos ataca, mas nos deu uma grande lição
O confinamento – oportunidade para ver o planeta regenerar-se
sem os nossos excessos e para refletirmos sobre nossos erros.
Em nossa esperança de cada dia nos livraremos de
ameaças semelhantes ao vírus e de atitudes de desamor e egoísmo
Cuidemos da urgência de toda fome dos empobrecidos e da
importância de construirmos relações novas – com a natureza
e entre nós: sonhemos como a Fratelli Tutti nos propõe:
— sonhemos com a fraternidade sem fronteiras, pelo nosso futuro.
Na impotência experimentada diante
de tantas calamidades inaceitáveis
de tantas dores e fragilidades, veio
a certeza de que podemos e devemos rezar
uns pelos outros, em todo tempo e lugar.
Ouvir Tiago 5:16, é algo que nos conforta:
“Confessem os seus pecados uns aos outros
e orem uns pelos outros para serem curados.”
Boff já nos perguntou: que Terra vamos construir
juntos depois da pandemia? — tudo está interligado.
Precisamos de um novo começo, do sabor de novidade,
não dá para fazer remendos, improvisações…
A vida comunal precisa ser recuperada com urgência.
Que o Espírito Santo nos torne servos úteis para que
a Trindade Santa possa atuar entre nós e por meio de nós.
— Nossa Senhora e São José, rogai por todos e pela Terra!!
“Porque sois tão medrosos?
— Ainda não tendes fé?”
Meu Jesus, a tempestade ainda está aí,
Mas agora somos náufragos…
No meio do bonito oceano, teimosamente
mantivemos a esperança nadando sem rumo
e nos dispersando em meio às altas ondas…
O mundo não se percebe no mesmo barco
ainda há discussões e polêmicas inexplicáveis
— Agora, a fome e o vírus disputam quem mata mais.
A vacina salva vidas e enriquece os laboratórios
É o fracasso do amor, da ética e da sensibilidade,
as pessoas se dividem em esquerda e direita
e não se dão as mãos para defender a Vida.
Falta zelo pelo bem comum e sobram desfiles de egos e
Idólatras no planalto central no meio dos Três Poderes.
O Brasil naufraga no mar das disputas vazias e sem sentido
— Tira-nos, Senhor, dessa rota de uma catástrofe anunciada.
Rogamos pela humanidade, pela vida, pela Índia, pela África, pela Faixa de Gaza, por todas as regiões em conflito e por todo o Planeta. Envia-nos, Senhor, a sua Paz e o seu Santo Espírito.
— Amém.

Brasília, maio de 2021
Joana Eleuthério é graduada em Letras. Servidora pública aposentada da Secretaria de Estado de Economia do Distrito Federal – Escola de Governo do Distrito Federal (EGOV).
Inaciana, avó e mãe, caminha pelas estradas de Jesus, de Santo Inácio e de Santa Teresa de Ávila, por onde tem se inserido na Comunidade do Centro Cultural Brasília (CCB/Jesuítas). Muito grata pela caminhada realizada até aqui.
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Imagem: Lasar Segall — Pogrom, 1937.
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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.
Esplêndido!
Deus continue te fortalecendo na fé e na habilidade de escrever!
Abraços,
Martha
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Maravilhosa publicação, Joana. Que dom lindo que Deus te deu. Parabéns!!!!
Lu
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