Haja luz para esse tempo da pandemia!

Joana Eleuthério

Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós. Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais, mas vós me vereis; porque eu vivo, e vós vivereis.

João 14,18-19

“Depois de vinte séculos, por que nos paralisa o medo do futuro?”

José Antonio Pagola

Meu querido Jesus, não acredito que a pandemia seja um castigo, pela forma irresponsável com que recebemos a missão do cuidado pela Criação, da qual deveríamos ser como o melhor dos “jardineiros de Deus“.

Da confiança irrestrita na tecnologia e nas ciências, em tempos do antropoceno, fomos a nocaute na luta contra um ser minúsculo e invisível. O coronavírus aparece-nos como belas coroas de luzes coloridas nas ilustrações dos textos que tratam dele e ocupam todos os leitos das UTIs dos hospitais e enterram os milhares de mortos em valas comuns, de forma desumana, indigna e solitária. Por que os governos investem tanto em armamentos bélicos e não fazem a opção pela vida verdadeira?

Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.

João 8,12

Meu Jesus, como Simeão, sei que o nosso Pai enviou à terra o seu único Filho, como a Luz para iluminar as nações e nos tirar das trevas do mundo. É pela esperança e pela oração que alimento a minha fé no futuro, apesar das terríveis notícias e estatísticas de todas as noites. O convite que a Trindade amorosa nos faz é para transitar pelo caminho da vida, da vida verdadeira – sem confinamento, mas com alegria, compaixão, liberdade e solidariedade. Pelo Espírito Santo, a sua presença nos fortalece, sua Luz produz discernimento e esperança que nos torna ousados, confiantes em poder levar adiante o projeto do Reino de Deus, aqui e agora para o cumprimento das promessas de Deus, Pai rico em misericórdia. Que os nossos pesquisadores e cientistas acolham essa Luz para que o trabalho deles chegue à vacina para essa cruel enfermidade.

O Espírito nos faz lembrar o que será. Nas trevas em que muitas vezes andamos tateando, é fogo que abrasa, ilumina e aquece.

Raymond Gravel

Toda a minha esperança é assistir os cientistas, os políticos, os sacerdotes, os poderosos e afortunados darem uma trégua em suas disputas e elegerem a prioridade para esse momento. Unidos, fazendo opções éticas para realmente cuidarem do bem comum e do Jardim de Deus – com investimentos em infraestrutura e pesquisas científicas, educação e dedicação social atenta às periferias, onde pessoas pobres, marginalizadas, esquecidas e desprezadas pelas nossas sociedades morrem ainda mais abandonadas. Sonho em ver os donos do mundo deixando-se tocar pela Luz e pela Paz da Trindade Amorosa para fazerem o que devem fazer: “Amai-vos uns aos outros como vos amei.” E amar é cuidar.

Como aprofundar o empenho de pessoas, grupos, igrejas, movimentos sociais, instituições, organizações de base, governos e autoridades internacionais – num mutirão global pelo cuidado com a nossa ‘casa comum‘?

Alfredo J. Gonçalves

O Covid-19 conduziu-nos ao isolamento, à quarentena e permitiu-nos redescobrir formas criativas de como ‘cuidar do nosso jardim’. Neste sentido, temos as propostas feitas pelo Papa como o Sínodo da Amazônia, ainda acontecendo em meio a este caos pandêmico. Assim, podemos observar que também outros documentos trazem questões básicas relacionadas ao cuidado, que são fundamentais e proféticas – a Laudato si’, a Economia de Francisco etc. Assim, não é sem razão que confio e espero “os novos céus e uma nova terra, nos quais habitarão o direito e a justiça”, conforme a promessa que nos foi dada.

Nessa vida confinada e no isolamento social, me lembro de Etty Hillesum, com seu corpo jovem capturado em Auschwitz, sentindo-se belamente livre como ela narra em seus diários.

Todas as paisagens estão dentro de mim. Há igualmente lugar para tudo. Em mim há a Terra e também o céu.

Etty Hyllesum

Unindo-me ao mundo inteiro e ao Papa Francisco neste dia 14 de maio, dedicado à oração e ao jejum e à invocação a Deus pela humanidade atingida pela pandemia, também repito a oração que o papa fez hoje ao final da missa na Casa de Santa Marta:

Que Deus detenha esta tragédia, que detenha esta pandemia. Que Deus tenha piedade de nós e que cesse também as outras pandemias tão ruins: a da fome, a da guerra, a das crianças sem instrução. E peçamos isso como irmãos, todos juntos. Que Deus nos abençoe a todos e tenha piedade de nós.

Brasília, 14 de maio de 2020


Joana Eleuthério é graduada em Letras. Servidora pública aposentada da Secretaria de Estado de Economia do Distrito Federal – Escola de Governo do Distrito Federal (EGOV).
Inaciana, avó e mãe, caminha pelas estradas de Jesus, de Santo Inácio e de Santa Teresa de Ávila, por onde tem se inserido na Comunidade do Centro Cultural Brasília (CCB/Jesuítas). Muito grata pela caminhada realizada até aqui.

Todos os textos de Joana [clique aqui]

Imagem: Roberto Linsker — Índia, 1996.

Ecologia Espiritualidade cristã

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Caminhante sem nenhuma linearidade e com variados interesses – uma buscadora incansável.

1 comentário Deixe um comentário

  1. Apesar do pânico, a pandemia veio unir os seres, tínhamos esquecido das coisas simples da vida: sentar tomar um café, ouvir o outro, ajudar um vizinho, lavar as mãos, se cuidar… simplesmente orar…
    Então vamos agradecer e refletir, temos ainda muito a aprender.
    Obrigada, não conhecia o blog.

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