Retiro Quaresmal 2024 — Semana V

Então, eles se aproximam de um dos seus discípulos, Filipe, e lhe pedem: « QUEREMOS VER JESUS ».
5º Domingo – Dia 17.03
Jo 12, 20-33
Quem ama sua vida irá perdê-la…
Jesus, ao se aproximar a festa da Páscoa, entra em Jerusalém em meio aos gritos que o proclamam como Aquele que vem em nome do Senhor e Rei de Israel (cf. Jo 12, 12-14), mas esse seu sucesso junto ao povo desperta a constatação dos fariseus: “Todo mundo (ho kósmos) vai atrás de Jesus, segue-o!” (Jo 12, 19). Agora, a decisão de condenar Jesus à morte foi tomada, e ele sente que o círculo dos inimigos se estreita ao seu redor, e que aquela Páscoa será a sua “hora” tantas vezes anunciada. Por outro lado, a afirmação dos fariseus encontra uma clara ilustração no pedido de alguns dos presentes em Jerusalém para a festa: alguns gregos, isto é, pertencentes aos gentios, não circuncidados e, portanto, pagãos. Eles querem conhecer Jesus, porque ouviram falar dele como mestre de autoridade e profeta capaz de operar sinais.
Então, eles se aproximam de um dos seus discípulos, Filipe (proveniente de Betsaida da Galileia, cidade habitada por muitos gregos, assim como seu nome é grego), e lhe pedem: “Queremos ver Jesus”. Mas isso não era algo fácil, porque encontrar pagãos, impuros, por parte de um rabino, não estava de acordo com a Lei e não respeitava as regras de pureza. Filipe, hesitante, vai informar isso a André, o primeiro chamado ao seguimento (cf. Jo 1, 37-40); depois, juntos, os dois decidem apresentar a demanda a Jesus. E como ele responde? O quarto Evangelho não diz, mas testemunha algumas palavras decisivas, uma verdadeira profecia que Jesus faz sobre aquela hora, a hora da sua paixão e morte, revelada como glorificação.
Acima de tudo, Jesus diz que o pedido para o ver por parte dos pagãos é sinal e anúncio da hora que finalmente chegou, a hora em que o Filho do homem é glorificado por Deus. No início do Evangelho, em Caná, Jesus havia dito à sua mãe: “Minha hora ainda não chegou” (Jo 2, 4), e, em seguida, inúmeras outras vezes essa hora privilegiada é evocada como hora próxima, mas que ainda não chegou (cf. Jo 4, 21-23; 5, 25; 7, 30; 8, 20). Agora, diante desse pedido, Jesus compreende e, portanto, anuncia que sua morte será fecundo, fonte de vida inaudita: a sua glória será glória de Deus. Para expressar isso, Jesus recorre ao relato do grão de trigo que, para se multiplicar e dar fruto, deve cair na terra e depois apodrecer, morrer, caso contrário, permanece estéril e sozinho. Aceitando apodrecer e morrer, o grão multiplica sua vida e, portanto, atravessa a morte e chega à ressurreição.
Sim, parece paradoxal, mas – como Jesus esclarece – “quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna”, porque o apego à vida é o que impede de pôr a própria vida a serviço dos outros. Para Jesus, a verdadeira morte não é a física, aquela que os homens podem provocar, mas é precisamente a recusa de gastar e dar vida pelos outros, o fechamento estéril sobre si mesmo; ao contrário, a verdadeira vida é o ápice de um processo de doação de si.
A história do grão de trigo é a história de Jesus, mas também a do seu servo, que, justamente seguindo Jesus, conhecerá a paixão e a morte assim como seu Senhor, mas também a ressurreição e a vida para sempre. Não é só Jesus que será glorificado pelo Pai, mas também o discípulo, o servo que, seguindo o seu Senhor, se torna seu amigo. A esse respeito, com grande fé, um Padre do deserto chegava a afirmar com ousadia: “Jesus e eu vivemos juntos!”.
O que, então, Jesus promete aos pagãos para ver? Sua paixão, morte e ressurreição, seu abaixamento e sua glorificação, a cruz como revelação do amor vivido até o fim, até o extremo (cf. Jo 13, 1). A cada discípulo, proveniente de Israel ou dos gentios, no visível é dado ver o invisível; seguindo Jesus com perseverança, aonde quer que ele vá, é dado contemplar na sua morte ignominiosa a glória de quem dá a vida por amor.
De acordo com o quarto Evangelho, aqui é antecipada aquela convocação dos gentios, aquela reunião que acontecerá quando Jesus for elevado na cruz. Os profetas haviam anunciado a participação dos gentios na revelação feita a Israel, e esta hora está prestes a chegar, porque Jesus oferece a sua vida “para reunir os filhos de Deus que estavam dispersos” (Jo 11, 52).
Segunda-feira – Dia 18.03
Jo 8, 1-11
Jesus disse à mulher adúltera: nem eu te condeno. Vai, e de agora em diante não peques mais.
Os escribas e fariseus, na intenção de pegar Jesus em contradição sobre a sua pregação, apresentam-lhe uma mulher apanhada em adultério, que, segundo a lei de Moisés estava condenada a morte.
Na expectativa de poderem desmascarar Jesus no templo, diante da multidão, seus interlocutores lhe perguntaram: “Que dizes tu a isso?”. Jesus disse-lhe: “Quem de vós estiver sem pecado atire a primeira pedra”. A moral da história – ninguém teve coragem de atirar a primeira pedra. Ele, que podia, não o fez porque é a misericórdia.
O homem é um ser a se realizar, cada homem traz dentro de si um projeto de transformação de vida. Isto dar-se-á a cada dia, na medida em que a pessoa souber transformar-se para tal libertação.
Terça-feira – Dia 19.03
Mt 1,16.18.21.24a
Não sabíeis que eu devo estar naquilo que é de meu Pai?.
“Teu pai e eu estávamos angustiados à tua procura.” São José, o pai na Sagrada Família, homem justo, agraciado com revelações em sonhos. Sua missão não foi fácil, mas houve sempre um anjo por perto para orientá-lo. Era conhecido como carpinteiro. Pelo mais, pouco sabemos de sua vida e nada de sua morte. Existe uma devoção a São José da Aparição, não por ter ele aparecido, mas pelo anjo que lhe apareceu diversas vezes em sonhos. Na França, conserva-se o relato de uma aparição de São José em 1660.
Quarta-feira – Dia 20.03
Jo 8, 31-42
Jesus disse: Se permanecerdes na minha Palavra, sereis meus verdadeiros discípulos.
O desejo de ser livre está no íntimo de cada ser humano. O encontro e a aceitação da verdade tornam a pessoa livre. Jesus apresenta-se como a verdade que devolverá a cada um de nos a possibilidade de ser livre, que é condição dos filhos de Deus.
A adesão a Jesus não é feita somente de palavras. Ela exige prática, que pressupõe uma ruptura com o que não está a serviço da vida.
O quarto evangelista, o Evangelho do Jo, fala frequentemente dos judeus que acreditam em Jesus, da multidão. Muitos acreditam nele. Tratam-se de pessoas entusiasmadas com Jesus e com o movimento criado em torno de sua pessoa. Entusiasmo inicial sempre é fácil, mas permanecer nem sempre é fácil.
Quinta-feira – Dia 21.03
Jo 8, 51-59
Se alguém guardar a minha palavra jamais provará a morte.
Mais uma vez Jesus afirma que ele é o “Eu sou”. “Antes que Abraão existisse, “Eu sou”, diz ele aos que o ouvem. Eu sou o quê? Perguntaríamos nós a procura de um complemento do verbo. Não há, porém, complemento. Tudo está completo na expressão que afirma simplesmente que ele é, que ele é a existência, que ele é, enfim, a vida. E a discussão é feita na proximidade de sua morte. Querem apedrejá-lo pela blasfêmia de se fazer igual a Deus. “Quem tens a pretensão de ser?”, perguntaram. E com razão! Afinal, quem é esse Jesus de Nazaré? Mesmo se for o Messias, como pretende se identificar com Deus? Pouco a pouco vamos percebendo E descobrindo que ele já existia antes que qualquer coisa tivesse o seu princípio. É um caminho de fé, não dado a todos. O que é dada a todos é a caridade com que são tratados pelos que têm fé.
Sexta-feira – Dia 22.03
Jo 10, 31-42
Procuravam prender Jesus.
Aqueles que não creem em Jesus tentam lapidá-lo porque ele teria blasfemado ao declarar-se Filho de Deus. O mistério de Cristo não pode ser interpretado nas estreitas medidas de nossa mentalidade, condicionada pelas diversas limitações de nossa realidade humana. É pela fé, atitude de diálogo e busca, que se pode obter o encontro com Cristo.
As autoridades judaicas rejeitam Jesus, as suas obras e o próprio Pai, que enviara o seu Filho. Diante disso, procuram prender Jesus outra vez, mas ele escapou de suas mãos.
Esse texto nos faz refletir sobre a “verdadeira liberdade”. Nem sempre somos capazes de suportar a verdade. De algum modo desejamos destruir aquilo que nos incomoda na tentação de ficar com a nossa verdade.
Sábado – Dia 23.03-Repetição
A oração de cada sábado consiste no exercício chamado de repetição. Trata-se de aprofundar aquilo que rezei durante a semana. Santo Inácio diz: Não é o muito saber que satisfaz a pessoa, mas o sentir e saborear as coisas internamente [EE 2]. Por isso não é apresentada uma nova matéria de oração para este dia. Faço, pois, a oração, a partir do texto ou moção que mais me consolou ou que mais me desolou na semana que passou.
Retiro Quaresmal 2024
Proposta ⁃ Preparação ⁃ Semana I ⁃ Semana II
Semana III ⁃ Semana IV ⁃ Semana V ⁃ Semana Santa
Material produzido pelo Pe. Luís Renato Carvalho de Oliveira, SJ.
Obs.: Os comentários bíblicos das semanas são extraídos do Diário Bíblico – Editora Ave Maria e outras fontes.
Ilustrações: Luís Henrique – Varginha – MG. A arte da capa é de autoria de Pe. Luís Renato, SJ.

