Retiro Quaresmal 2024 — Semana IV

É preciso que o Filho do Homem seja levantado.
Assim, todo aquele que nele acreditar, nele terá a vida eterna.
4º Domingo – Dia 10.03
Jo 3, 14-21
…para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.
Estamos na metade da Quaresma, no domingo da Alegria… Uma parada diante da cruz, não somente do instrumento do suplício e da tortura, mas da cruz como instrumento de salvação… A cruz já transformada pela Páscoa… A cruz que fala do Amor louco de Deus e da sua vitória sobre as forças do mal… A cruz como uma árvore, uma árvore sobre a qual Jesus morre e sobre a qual renasce o primeiro nascido dentre os mortos. Uma árvore que dá fruto; a árvore da vida nova. Mas como pode ser esse domingo de alegria, sendo que São João afirma que a cruz é necessária para a salvação? “É preciso que o Filho do Homem seja levantado. Assim, todo aquele que nele acreditar, nele terá a vida eterna” (Jo 3,14-15). Mas o que fazer para experimentar a Alegria de ser salvo?
O trecho do evangelho de João que temos hoje é a continuação do encontro com Nicodemos, onde Jesus tinha dito a esse notável juiz que, para entrar no Reino dos céus, seria preciso renascer de novo: “Eu garanto a você: se alguém não nasce do alto, não poderá ver o Reino de Deus” (Jo 3,3). E aí Nicodemos não entende o que Cristo lhe diz. O que é renascer? Esse novo nascimento? Ele diz a Jesus; “Como é que um homem pode nascer de novo, se já é velho? Poderá entrar outra vez no ventre de sua mãe e nascer?” (Jo 3,4). Jesus salienta: “Ninguém pode entrar no Reino de Deus, se não nasce da água e do Espírito” (Jo 3,5). E ele acrescenta: “Quem nasce da carne é carne, quem nasce do Espírito é espírito” (Jo 3,6).
No fundo, esse diálogo com Nicodemos nos leva a entender o evangelho de hoje. Renascer da água e do Espírito é nascer de Deus; ter necessidade dele. Então, a primeira atitude a ter para experimentar a Alegria da salvação é, primeiro, saber-se limitado e ter a humildade de reconhecer nossa necessidade de Deus. É o que o evangelista João chama de se aproximar da luz: “Mas, quem age conforme à verdade, se aproxima da luz” (Jo 3,21). Se nós cremos somente em nós mesmos, em nossas forças, em nossas capacidades e em nossas virtudes, sofremos de egocentrismo e de orgulho, e isso deveria bastar para nos julgar nós mesmos. Como Deus pode fazer alguma coisa por alguém que não precisa de nada: “Quem acredita nele, não está condenado; quem não acredita, já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho único de Deus” (Jo 3,18).
Não é esse mesmo orgulho que o autor do segundo livro das Crônicas detectou no povo de Israel e que o conduziu ao Exílio? “Javé, o Deus de seus antepassados, enviou seus mensageiros, uns após outros, pois queria poupar o seu povo e a sua habitação. Mas eles caçoavam dos mensageiros de Deus, levavam na brincadeira suas palavras, zombavam dos profetas” (2 Cr 36,15-16). Hoje ainda, será que nós vivemos frequentemente como se nós não precisássemos de nada? Pode ser que estejamos reagindo a más interpretações de Deus? Um Deus autoritário? Um Deus que julga? Que proíbe? Que condena? Em vez de um Deus que ama e que perdoa gratuitamente?
É por isso que nos falta humildemente olhar para a cruz; ela nos revela nossa fé e nossa falta de fé. Em outras palavras, levantar os olhos e olhar a cruz é ver a verdade sobre nós mesmos, sobre nossos limites e nossas fragilidades. Contemplá-la é ousar crer que para ela Cristo pode nos curar, nos salvar. Não por nada que são João faz o paralelo de Cristo na cruz como essa lenda da serpente de bronze levantada no deserto para que os israelitas que se faziam morder pela serpente pudessem recobrar a saúde olhando-a e contemplando-a. No fundo, é preciso olhar o mal em plena luz, para poder ficar curado.
Segunda-feira – Dia 11.03
Jo 4, 43-54
Vai, teu filho está vivo.
O ser humano está sempre á procura da fé. Um homem odiado pelos judeus por ser pagão, um membro da família real, por estar serviço dos não menos odiados da casa real de Herodes. Dirige-se a Jesus e faz o pedido da cura do filho. O centro da narrativa está nos verbos “crer” e “vi ver”. Observa-se nesse relato um progresso na fé por parte do Pai, de uma confiança em que Jesus possa curar o seu filho, fé na Palavra de Jesus, fundada unicamente em sua autoridade.
O relato nos mostra que a confiança total em Jesus faz milagres. Ter fé significa aceitar a Jesus com todos os riscos que isso possa acarretar.
E há ainda outra característica, a fé nos abre para o diálogo e nos dá a certeza de que Jesus está no meio de nós, construindo conosco a história de nossas vidas.
O oficial crê na Palavra de Jesus. A sua fé é confirmada pelo milagre, anunciado a eles pelos servos que lhe vêm ao encontro. A fé desse oficial passa por toda a família.
Terça-feira – Dia 12.03
Jo 5, 1-16
Levanta-te e anda.
O doente ficou curado e liberto pela ação de Jesus. O aspecto importante dessa cura é que Jesus toma a iniciativa, diante da passividade desse enfermo.
Muitas vezes, a severa interpretação de costumes e leis nos faz perder a oportunidade de ficar livres dos males que nos afetam. A atitude de Jesus manifesta sua constante iniciativa de salvar o que estava perdido. Para Deus sempre há uma possibilidade de libertação. Aqueles que preferem ficar à margem perdem a possibilidade de um encontro salvador com Deus.
A libertação de Jesus consiste em uma total renovação de nosso ser à imagem do Criador. É por essa razão que ele não fica satisfeito apenas com a libertação do paralítico. Essa libertação é somente parte de uma salvação maior. Encontrando-o mais tarde no Templo, Jesus chamou-o para uma conversão dos pecados, a fim de que a libertação pudesse ser autêntica.
Quarta-feira – Dia 13.03
Jo 5, 17-30
Tudo o que o Pai faz, o Filho também o faz.
O texto de hoje narra as obras do Pai (Deus) e do Filho (Jesus Cristo). É a primeira parte da resposta de Jesus sobre a cura realizada em dia de sábado. A grande tese é esta: “Meu Pai continua agindo até agora, e eu ajo também”. A resposta de Jesus se dá mediante três temas: a dependência de Jesus ao Pai; a sua igualdade com o Pai; a apresentação da temática das coisas futuras.
A Lei de Deus é a expressão de sua vontade, que deve ser compreendida, acolhida e vivida. Cristo garante que tudo passa; só o amor, que é Deus, permanece!
A Lei é um instrumento pedagógico para ajudar o homem a viver o amor. Por isso, o respeito à Lei de Deus nos torna cidadãos de seu Reino.
A nossa vida é assim: se deixarmos Deus agir, ficaremos admirados das novidades em nosso mundo. Ao chamar Deus de Pai, Jesus revela estar unido a ele, realidade que também é nossa.
Quinta-feira – Dia 14.03
Jo 5, 31-47
O testemunho a favor de Jesus.
A narrativa do evangelho de hoje apresenta as testemunhas de Jesus. Diante do decreto da morte promulgado pelas autoridades judaicas, aparecem as testemunhas que depõem a favor de Jesus: João Batista, o Pai, a Escritura.
Jesus reconhece em João Batista uma testemunha da verdade. Ele afirma, porém, que o testemunho mais autorizado é dado por sua divindade.
Esse testemunho é o que o Pai dá ao Filho pelas obras que este realiza. O testemunho da verdade de Jesus é, antes de tudo, o próprio Jesus nas obras que realiza. São obras de poder e de amor, obras de sabedoria e de santidade que ultrapassam as possibilidades de um homem.
Por essas obras, o Pai dá testemunho de Jesus, isto é, designa-o a nossa confiança. Esse testemunho ó o que Cristo dá a si mesmo. Testemunha por sua Palavra e reivindica por seus comportamentos uma autoridade divina.
Sexta-feira – Dia 15.03
Jo 7, 1-2.10.25-30
Não é este a quem procuram matar?
Querem matar Jesus e sua hora se aproxima. Tudo, porém, acontecerá quando chegar a sua ora. Quem é Jesus? É o Messias esperado? 0 Ungido de Deus, ninguém saberá de onde vem, diziam os judeus. Sabiam de onde vinha Jesus, conheciam sua origem, era um deles. Ao menos assim pensavam, mas, na verdade, não sabiam de onde ele nem quem o tinha enviado. Ele não veio por conta própria. Veio daquele que o enviou e que eles não conheciam. Verdadeiro homem, eles o conheciam em sua humanidade, pois foi para isso que ele se encarnou. Verdadeiro Deus, só pode ser conhecido pela revelação, pelo que ele diz de si mesmo, pela interpretação que faz das Escrituras Sagradas, pela fé. Quando chegar a sua hora, tudo será novo e terá início o que é definitivo. Com ele ressuscitado, participaremos então da sua divindade. A hora, porém, ainda não chegou.
Sábado – Dia 16.03 – Repetição
A oração de cada sábado consiste no exercício chamado de repetição. Trata-se de aprofundar aquilo que rezei durante a semana. Santo Inácio diz: Não é o muito saber que satisfaz a pessoa, mas o sentir e saborear as coisas internamente [EE 2]. Por isso não é apresentada uma nova matéria de oração para este dia. Faço, pois, a oração, a partir do texto ou moção que mais me consolou ou que mais me desolou na semana que passou.
Retiro Quaresmal 2024
Proposta ⁃ Preparação ⁃ Semana I ⁃ Semana II
Semana III ⁃ Semana IV ⁃ Semana V ⁃ Semana Santa
Material produzido pelo Pe. Luís Renato Carvalho de Oliveira, SJ.
Obs.: Os comentários bíblicos das semanas são extraídos do Diário Bíblico – Editora Ave Maria e outras fontes.
Ilustrações: Luís Henrique – Varginha – MG. A arte da capa é de autoria de Pe. Luís Renato, SJ.

