Retiro do Advento & Natal — Oitava de Natal

Nazaré é a escola em que se começa a compreender a vida de Jesus…
Introdução
Nazaré é a escola em que se começa a compreender a vida de Jesus, é a escola em que se inicia o conhecimento do Evangelho. Aqui se aprende a observar, a escutar, a meditar e a penetrar o significado tão profundo e misterioso desta manifestação do Filho de Deus, tão simples, tão humilde e tão bela. Talvez se aprenda também, quase sem dar por isso, a imitá-la.
Aqui se aprende o método e o caminho que nos permitirá compreender facilmente quem é Cristo. Aqui se descobre a importância do ambiente que rodeou a sua vida, durante a sua permanência no meio de nós: os lugares, os tempos, os costumes, a linguagem, as práticas religiosas, tudo o que serviu a Jesus para Se revelar ao mundo. Aqui tudo fala, tudo tem sentido. Aqui, nesta escola, se compreende a necessidade de ter uma disciplina espiritual, se queremos seguir os ensinamentos do Evangelho e ser discípulos de Cristo. Quanto desejaríamos voltar a ser crianças e acudir a esta humilde e sublime escola de Nazaré! Quanto desejaríamos começar de novo, junto de Maria, a adquirir a verdadeira ciência da vida e a superior sabedoria das verdades divinas!
Proposta da oração: Domingo da Sagrada Família
Leio o texto de Lc 2, 41-52.
Estamos aqui apenas de passagem e temos de renunciar ao desejo de continuar nesta casa o estudo, nunca terminado, do conhecimento do Evangelho. No entanto, não partiremos deste lugar sem termos recolhido, quase furtivamente, algumas breves lições de Nazaré.
Em primeiro lugar, uma lição de silêncio. Oh, se renascesse em nós o amor do silêncio, esse admirável e indispensável hábito do espírito, tão necessário para nós, que nos vemos assaltados por tanto ruído, tanto estrépito e tantos clamores, na agitada e tumultuosa vida do nosso tempo. Silêncio de Nazaré, ensina-nos o recolhimento, a interioridade, a disposição para escutar as boas inspirações e as palavras dos verdadeiros mestres. Ensina-nos a necessidade e o valor de uma conveniente formação, do estudo, da meditação, da vida pessoal e interior, da oração que só Deus vê.
Uma lição de vida familiar. Que Nazaré nos ensine o que é a família, a sua comunhão de amor, a sua austera e simples beleza, o seu caráter sagrado e inviolável; aprendamos de Nazaré como é preciosa e insubstituível a educação familiar e como é fundamental e incomparável a sua função no plano social.
Uma lição de trabalho. Nazaré, a casa do Filho do carpinteiro! Aqui desejaríamos compreender e celebrar a lei, severa mas redentora, do trabalho humano; restabelecer a consciência da sua dignidade, de modo que todos a sentissem; recordar aqui, sob este teto, que o trabalho não pode ser um fim em si mesmo, mas que a sua liberdade e dignidade se fundamentam não só em motivos econômicos, mas também naquelas realidades que o orientam para um fim mais nobre. Daqui, finalmente, queremos saudar os trabalhadores de todo o mundo e mostrar-lhes o seu grande Modelo, o seu Irmão divino, o Profeta de todas as causas justas que lhes dizem respeito, Cristo Nosso Senhor.
A Sagrada Família é a primeira de tantas outras famílias santas. O Concílio recordou de que a santidade é a vocação universal dos batizados (LG 40). Como no passado, também na nossa época não faltam testemunhas do “evangelho da família”, mesmo que não sejam conhecidas nem proclamadas santas pela Igreja…
A Sagrada Família, imagem modelo de toda a família humana, ajude cada um a caminhar no espírito de Nazaré; ajude cada núcleo familiar a aprofundar a própria missão civil e eclesial, mediante a escuta da Palavra de Deus, a oração e a partilha fraterna da vida! Maria, Mãe do amor formoso, e José, Guarda e Redentor, nos acompanhem a todos com a sua incessante proteção.
Sagrada Família de Nazaré, rogai por nós!
Textos para a semana
Segunda-feira (30.12)
– Lucas 2, 36-40: “O menino crescia e tornava-se forte…”.
Precisamos de homens como Simeão e mulheres como Ana, da tribo dos que estão reconciliados com sua própria vida; pessoas com uma presença benevolente e carinhosa para tudo o que lhes rodeia. Com olhos expandidos por dentro, eles puderam perceber a salvação de um modo muito diferente do que haviam imaginado. O gesto de Simeão nos é proposto a todos, e todos os dias: bendizer a vida nova nos outros. Seu cotidiano, no Templo da vida, tem a marca do bem-dizer ou do mal-dizer, da gratidão ou da queixa…?
Terça-feira (31.12)
– João 1, 1-18: “No princípio era a Palavra…”.
“A Palavra se fez carne e habitou entre nós”: nisto consiste a salvação que Deus nos concede, em Jesus, seu Filho cuja Encarnação celebramos. João não narra a cena do presépio, mas recorda a encarnação do logos, uma palavra grega que, segundo os comentadores Juan Mateos e Juan Barreto, “significa ao mesmo tempo palavra e projeto: é palavra que tem conteúdo, o projeto divino, e que o executa. A Palavra é, portanto, o projeto criador enquanto formulado e, consequentemente, executado”. Em Jesus, portanto, está a plenitude do projeto criador de Deus. Por isso, o princípio do Gênesis ficou para trás e João pode narrar um novo princípio, aquele que acontece em Jesus. Mas esse projeto não é apenas formulado ou proposto, mas já realizado. Por isso, ao celebrar o Natal, celebramos também a integralidade da vida, do ensinamento, do testemunho de Jesus, que são já a realização do projeto do Pai, plenamente concluído no mistério Pascal.
Quarta-feira (01.01)
– Lucas 2, 16_21: “Maria conservava todas essas palavras, meditando-as no seu coração.”
Ao meditarmos sobre o nascimento de Jesus, chama-nos a atenção a pressa dos pastores em acolher a notícia que lhes tinha sido dada por um anjo: Não temais, eis que vos anuncio uma Boa-nova que será alegria para todo o povo: hoje nasceu na cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: achareis um recém-nascido envolto em faixas e posto numa manjedoura (Lc 2, 10-12). Eles decidiram ir imediatamente até Belém para ver o que tinha acontecido. Essa decisão é graça de Deus e consequência da boa vontade daqueles homens de irem até a gruta onde estavam o Menino Jesus, Nossa Senhora e São José. Poderiam ter se desculpado de não irem porque tinham de fica juntos às ovelhas, porque não tinham o que lhe oferecer, etc. Mas não: decidiram-se e foram. Acolhamos, também nós, a voz do Espírito Santo e, quando ele nos mostrar nosso dever, peçamos que nos dê sua força, para nos decidirmos a fazê-lo o quanto antes. O “deixar para depois” pode ser sinônimo de “nunca”.
Quinta-feira (02.01)
– João 1, 19-28: “Eu batizo com água; mas no meio de vós está aquele que vós não conheceis, e que vem depois de mim.”
Este foi o testemunho de João, quando os judeus enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para perguntar: ‘Quem és tu?’ João confessou e não negou. Confessou: ‘Eu não sou o Messias’. Eles perguntaram: ‘Quem és, então? És tu Elias?’ João respondeu: ‘Não sou’. Eles perguntaram: ‘És o Profeta?’ Ele respondeu: ‘Não’. Perguntaram então: ‘Quem és, afinal? Temos que levar uma resposta para aqueles que nos enviaram. O que dizes de ti mesmo?’ João declarou: ‘Eu sou a voz que grita no deserto: ‘Aplainai o caminho do Senhor`’ – conforme disse o profeta Isaías. Ora, os que tinham sido enviados pertenciam aos fariseus e perguntaram: ‘Por que então andas batizando, se não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?’ João respondeu: ‘Eu batizo com água; mas no meio de vós está aquele que vós não conheceis, e que vem depois de mim. Eu não mereço desamarrar a correia de suas sandálias.’ Isso aconteceu em Betânia além do Jordão, onde João estava batizando.
Sexta-feira (03.01)
– João 1, 29-34: “Eu vi o Espírito descer, como uma pomba do céu, e permanecer sobre ele.”
João Batista soube reconhecer o Filho de Deus porque estava atento a todos os sinais do Espírito Santo! Assim, ele pôde dar testemunho de que Cristo é verdadeiramente o Filho de Deus e o Cordeiro que seria imolado para tirar o pecado do mundo. Se estivermos atentos ao Espírito Santo nós também perceberemos os sinais de Deus para a nossa vida e, com certeza, teremos mais fé e convicção do Seu grande amor para conosco. João era um homem como nós, todavia, soube compreender a sua missão e cumpri-la sem titubear. O Espírito Santo também descansa sobre nós e nos motiva a desempenhar a nossa missão aqui na terra e dar testemunho de que Jesus Cristo é o Filho de Deus, o Cordeiro que veio para tirar o pecado do mundo. O nosso testemunhar deve estar baseado na nossa vivência diária e na nossa intimidade com o Espírito Santo, pois é Ele quem nos revela Cristo e confirma as obras que em nós serão realizadas. A maior obra é a Salvação que Ele veio nos trazer. Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo e já nos retirou do estado de escravidão, por isso, hoje somos Suas testemunhas! – O que você tem percebido na sua vida como sinal de Deus por meio do Espírito Santo? – Você é uma pessoa convicta em relação à presença de Deus no seu caminho ou tem duvidado da ação do Espírito Santo na sua vida?
Sábado (04.01)
Uma boa repetição* da semana ou
– João 1, 35-42: Jesus perguntou: “O que estais procurando?”
Seguir Jesus não depende apenas da motivação e do exemplo de outrem, mas é preciso tomar consciência do que buscamos quando manifestamos o nosso desejo de segui-lo: “Voltando-se para eles e vendo que o estavam seguindo, Jesus perguntou: ‘O que estais procurando?’” Esta é a primeira palavra de Jesus no evangelho de João; uma pergunta que se torna chave de leitura para todo o evangelho, pois corrige a generalidade do seguimento e exige o compromisso com todas as consequências de quem optou livre e conscientemente por Jesus. Esta pergunta aparecerá em dois outros contextos no evangelho de João, em momentos de encontros decisivos com Jesus: quando os soldados vão prendê-lo no horto (Jo 18,5.7) e, na manhã da ressurreição, no encontro com Madalena (Jo 20,15). Tomar consciência do que buscamos, confrontando-o com o que encontramos, é a condição necessária para assumir a vocação com perseverança e fidelidade, pois quando não sabemos o que buscamos, nunca seremos capazes de testemunhar que encontramos.
* Repetição: Outra possibilidade para a oração do último dia da semana é não rezarmos a partir de um texto novo, mas voltar aos momentos em que sentimos maior consolação ou maior desolação nas orações de cada dia.
Retiro do Advento e Natal 2024
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Imagem: Luís Henrique Alves Pinto
