Retiro do Advento & Natal — terceira semana

O mesmo Espírito que desceu sobre Jesus no batismo também está sobre nós, confirmando —ou não — nossa vida e nossa missão.
Introdução
Ao orar os textos propostos para a Terceira Semana, devemos estar atentos às orientações dadas no início deste Retiro do Advento.
Rezando os textos da liturgia estamos em comunhão com a Igreja que reza também na expectativa de acolher mais uma vez nosso Salvador, o Emanuel. Podemos a cada dia acolher e “saborear” no coração a riqueza e a beleza que trazem em si. Orando-os assim, eles enriquecerão e fecundarão mais nossa vida espiritual e apostólica.
Pois o mesmo Espírito que desceu sobre Jesus no batismo também está sobre nós, confirmando ou não nossa vida e nossa missão.
Preparemo-nos para acolher com “ânimo e liberalidade” a proposta desta semana.
Dada a importância dos rituais para o encontro com Deus na oração, voltamos a insistir na sua prática. No início do tempo reservado para a oração, devemos ler o texto proposto para a oração. Se ela for feita de manhã cedo, o texto deve ser lido na noite anterior antes de dormir. Assim, o conteúdo do texto surgirá no nosso pensamento ao acordar de manhã.
No início do tempo reservado para a oração, devemos praticar estas cinco recomendações de Santo Inácio:
- fazer a oração preparatória;
- imaginar o cenário;
- pedir a graça que desejo receber;
- conscientizar-me de que estou na presença de Deus, meu Criador e meu Pai que me olha com um olhar carregado de ternura;
- fazer um gesto de adoração e de louvor, inclinando meu corpo diante de Deus, ou fazendo uma genuflexão, ou prostrando-me no chão, ou outro gesto pelo qual expresso meu amor e meu louvor a Deus.
Proposta da oração: 3º Domingo do Advento
Preparação: Tomo consciência de que estou na presença de Deus e de que Ele deseja encontrar-se comigo. Sinta-se acolhido e envolvido em seu amor e sua ternura. Preparo meu coração para este encontro. Para isso “é preciso vestir o coração”. O texto proposto para nossa oração de hoje traz um forte apelo de conversão, ilustrado pelo exemplo da pregação do Batista no Jordão e o desejo de mudança de seus ouvintes. É interessante atentar para o fato de que todos lhe perguntavam, “o que devemos fazer?”. Com autoridade de profeta, João dizia categoricamente o que cada um deveria fazer, partindo de sua realidade. Tal como os ouvintes no Jordão, cada um de nós temos uma vereda, na vida, a endireitar. O que devo fazer?
Graça: Senhor na expectativa de ser nova criatura “dá-me um coração grande para amar, dá-me um coração forte para lutar”.
Leio o texto de Lc 3, 10-18 uma, duas ou mais vezes e, depois fecho a Bíblia.
Textos para a semana
Segunda-feira (16.12)
— Mateus 21, 23-27: “Com que direito fazes isso? Quem te deu essa autoridade?”
Neste Natal, o Menino Jesus deseja limpar o templo do nosso coração. O que Ele encontrará sujo? Logo de saída, previne-nos de que aquilo que sai da boca provém do nosso coração, porque é dele que saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as impurezas, os furtos, os falsos testemunhos, as calúnias (cf Mt 15, 18-20). Podemos enganar as pessoas sobre o que se passa em nosso coração a respeito delas ou de outros irmãos, mas não a Deus, que tudo vê dentro de nós. Como canta o salmista: “Senhor, vós me perscrutais e me conheceis, sabeis tudo de mim, quando me sento ou me levanto”. Sl 138 (139). Por isso, o Senhor nos diz: “O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração e o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, porque a boca fala daquilo de que o coração está cheio” (Lc 6,45). Peçamos ao Menino Jesus a sinceridade.
Terça-feira (17.12)
— Mateus 1, 1-17: “Jacó gerou José, o esposo de Maria”.
Na sua genealogia (Mt 1,1-17), Mateus situa Jesus na linha davídica por “José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, chamado o Cristo” (Mt 1,16). Ao chamar Jesus de Cristo, como o faz Mateus, José não pode engendrar Jesus, porque o Cristo é engendrado pelo Espírito Santo na Páscoa. Mas por que José? José é um personagem bíblico importante. Segundo Mateus, esse José, esposo de Maria, é filho de Jacó (Mt 1,16), assim como o José do Antigo Testamento, que era chamado de homem dos sonhos (Gn 37,5), também era filho de Jacó. Podemos pensar que Mateus copiou do patriarca ancestral seu personagem José a quem é anunciado três vezes em sonho: o nascimento de Jesus (Mt 1,20), a fuga para o Egito (Mt 2,13) e o retorno do Egito (Mt 2,19.22), tanto mais que o José do Antigo Testamento viveu e desempenhou um papel importante junto ao Faraó do Egito
Quarta-feira (18.12)
— Mateus 1, 18-24: “Ela dará a luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus”.
José é convidado a se tornar pai, a se sentir pai de um filho que não vem de seu desejo, de sua decisão, mas somente de Deus: ele será pai de Jesus segundo a Lei e assim será chamado por seus conhecidos que não conhecem a profundidade do mistério (cf. Lc 4,22). José deve exercer sua qualidade de filho de Davi sobre aquele que é o Filho de Davi prometido e aclamado (cf. Mt 21,9).
Diante desse relato de milagre, os homens e as mulheres de hoje são tentados a ficar hesitantes, a lê-lo como um mito, mas, com um olhar puro, devemos chegar a entender aquilo que ele quer comunicar em profundidade à nossa fé. Mais do que a forma narrativa, devemos captar a intenção do evangelista, que é esta: fazer com que o leitor compreenda que só Deus poderia nos dar um homem como Jesus, que foi Deus quem o enviou; se Jesus era na forma de Deus e se despojou com a humanização (cf. Fl 2,6-7), então ele é verdadeiramente fruto da vontade de Deus e do consentimento da humanidade a esse “maravilhoso intercâmbio” (antífona das primeiras e segundas Vésperas da solenidade de Maria Santa Mãe de Deus, 1º de janeiro) nessas núpcias. Como dizer que Jesus estava em relação com Deus, que era a presença de Deus entre as pessoas? A unção do Espírito Santo que fecunda o ventre de Maria parece ser um relato adequado para fundamentar a fé.
Quinta-feira (19.12)
— Lucas 1, 5-25: “Ele reconduzirá muitos do povo de Israel ao Senhor seu Deus.”
Zacarias emudeceu, já não podia falar. Emudeceu admirado pelo que ia acontecer e emudeceu penalizado pela fé que não mostrou. Para que falar, quando podia contemplar? Falou quando o menino nasceu. Pôde então, cheio de alegria, proclamar a glória do seu Deus. Bendito seja o Senhor Deus de Israel.
Sexta-feira (20.12)
— Lucas 1, 26-38: “Não tenhas medo, Maria! Encontraste graça junto a Deus.”
Mais de uma vez o oráculo ressoou pela voz dos profetas, até que veio o anjo Gabriel anunciar a Maria que os tempos eram chegados. Cheia de fé, a Virgem acreditou, e em seu seio realizou-se a concepção tão desejada do Verbo eterno de Deus. Submeteu-se as leis do nascimento humano, aquele por quem todas as coisas foram feitas; enquanto a Mãe futura do seu próprio Criador sentia crescer nela o fruto das suas entranhas. Na verdade, para Deus nada é impossível. Mistério inefável!
Sábado (21.12) – Repetição
Preparação: Como temos feito nas semanas anteriores, nesta também propomos uma repetição no sábado. Esta consiste em, já na preparação remota, reler os apontamentos da semana. Parar naquele ponto que foi mais marcante, que mais me interpelou ou também naquele que tive mais resistência. Estes pontos serão minha matéria para oração de hoje.
Ou
— Lucas 1, 39-45: A Palavra de Deus é cumprida.
O encontro de Maria com sua prima Isabel foi de grande profundidade. João, no seio de sua mãe, percebeu a presença de Jesus. E Isabel, descobrindo que Maria estava cheia de graça, proclamou-a abençoada.
Isto tornou-se possível porque Isabel estava com o Espírito Santo e foi este quem a inspirou para compreender tais coisas.
Frequentemente, esquecemos a ação do Espírito na evangelização. Ele é o único que abre nossos corações para o conhecimento de Jesus, já presente em meio a nós.
Retiro do Advento e Natal 2024
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Imagem: Luís Henrique Alves Pinto
