Retiro do Advento & Natal — semana introdutória

É tempo de progresso. Se o Senhor está vindo, apressemo-nos em encontrá-lo. Avancemos em direção a ele, que vem ao nosso encontro.

Introdução

O Sagrado Tempo do Advento que vamos iniciar, como uma pessoa que fala, assim nos exorta: “Levantem a cabeça e olhem para cima. Está próxima a libertação. Vejam o Filho do Homem vindo numa nuvem com grande poder e glória. Descendentes de Davi, ele vem fazer valer a lei e a justiça na terra. Judá será salvo e Jerusalém terá uma população confiante. Estejam atentos e rezem para poder ficar de pé diante do Filho do Homem, quando ele vier com todos os seus santos. Cuidado! Que seus corações não estejam pesados e façam vocês caírem. É preciso estar de pé quando ele vier. Cuidado então com os excessos da embriaguez e as preocupações da vida! Não tornem elas insensíveis os seus corações. Coração insensível não sente, não se percebe nem percebe os outros. É de pedra. Que Deus lhes conceda poderem crescer no amor fraterno. Procurem ser santos aos olhos de Deus. Não fiquem parados. Façam progressos.”

Assim começamos o Tempo do Advento, olhando para frente e olhado para cima. Advento significa vinda, chegada. A vinda que esperamos é o retorno daquele que foi elevado para o céu e virá do mesmo modo como foi visto partir para o céu. Boas orientações nos são dadas pelos textos sagrados lidos, proclamados e rezados nesta liturgia. Sugestões práticas em relação a comida e a bebida, sugestões práticas também em relação a nossa vida espiritual: a busca da santidade na prática da caridade fraterna.

É tempo de progresso. Progredir significa dar passos para a frente. Se o Senhor está vindo, apressemo-nos em encontrá-lo. Avancemos em direção a ele, que vem ao nosso encontro. Escrevendo aos filipenses, São Paulo mostra ter consciência de que ainda não alcançou Jesus Cristo e sabe que não é perfeito, mas vai prosseguindo para ver se o alcança, “pois que também já fui alcançado por Cristo Jesus.”

Textos para a semana

Segunda-feira (25.11)
— Lucas 21,1-4: Viu também uma pobre viúva que depositou duas pequenas moedas.

Esta narrativa de Lucas vem em seguida à advertência de Jesus contra a prática dos escribas. Estes escribas, enquanto fazem questão de ostentar piedade e prestígio, devoram as casas das viúvas. Em continuidade a esta denúncia, segue a narrativa da oferta da pobre viúva. O templo de Jerusalém tinha um anexo, o Tesouro, onde eram guardadas as riquezas e depositadas as ofertas através de pequenas aberturas externas. Jesus, ostensivamente, senta-se diante do Tesouro para observar.


Terça-feira (26.11)
Lucas 21,5-11: Não ficará pedra sobre pedra

Em meio ao barulho do povo no templo, alguns admiram a magnificência da construção. O templo, reconstruído depois do exílio, parece que foi realmente modesto se comparado com o primeiro, construído por Salomão. Contudo, para a época de Jesus, aquele modesto templo do pós-exílio era outra coisa totalmente diferente.

Herodes o Grande, com mania de grandeza por natureza, buscando reconciliar-se com os judeus, havia-se encarregado de remodelá-lo, com ampliações e com soluções que ainda surpreendem a engenharia moderna. Isto para entender por que os visitantes se maravilhavam tanto com aquela obra. Além da magnificência do edifício e a pompa da obra como tal, o templo significava tudo para Israel, não somente por sua convicção de que era o lugar da Presença, lugar onde habitava o Nome de Deus ou sua Glória (Ezequiel 43, 4), mas porque, como estrutura institucional, determinava todos os objetivos políticos, econômicos, sociais e religiosos da nação.


Quarta-feira (27.11)
Lucas 21,12-19: Todos vos odiarão por causa do meu nome. Mas vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça.

Continuamos com as palavras que Jesus começa a dirigir a seus discípulos no versículo 10. Tanto o versículo 10b como 11 são um recurso literário de Lucas, próprio da literatura apocalíptica, e não são para meter medo nem terror, nem são, como certas interpretações fundamentalistas pretendem, um anúncio sobre o fim do mundo.

Uma ordem de coisas que tenha sido construída sobre violência e sangue de inocentes tem de cair, esse sistema carrega em si mesmo a dinamite que terminará por destruí-lo. Isto é o que quer descrever Lucas com estas imagens que, repito, são mais de esperança e de garantia de que algum dia os sistemas injustos terminarão por auto-destruir-se, do que de terror ou medo.

“Antes de tudo isto, vocês serão perseguidos…” (v. 12). Prevê Jesus uma reação violenta por parte das autoridades judaicas (leva-los-ão às sinagogas) e das autoridades romanas (diante de governadores e reis). Por causa de quê? Por estar o discípulo empenhado ativamente na transformação da ordem injusta, anunciando, denunciando e realizando os sinais do Reino, exatamente como fez o Mestre. Daí que quase os mesmos termos que anunciam sua Paixão, anunciam também o caminho de sofrimento para seus seguidores.


Quinta-feira (28.11)
Lucas 21,20-28: Levantai-vos e erguei a cabeça, porque vossa libertação está próxima.

A destruição de Jerusalém pela Babilônia já havia sido interpretada pelo povo judeu como castigo por terem pecado contra Deus. Por outro lado, Ciro da Pérsia, cruel conquistador, foi considerado um messias, escolhido por Deus, por ter feito um acordo para a volta das elites exiladas a fim de reconstruírem Jerusalém. Agora, Jerusalém está prestes a ser destruída de novo. Toda esta violência, que é fruto da ambição e do conflito de poderes, ainda é vista como vontade de Deus. Jesus ofereceu a paz a Jerusalém e ao mundo. Aqueles que a rejeitam caminham para a autodestruição. Os discípulos de Jesus, libertos desta espiral de violência, de cabeça erguida continuam sua missão de anunciar e construir a paz.


Sexta-feira (29.11)
Lucas 21,29-33: “Passarão o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.”

Às vezes, ficamos tão fechados em nós mesmos que o mundo à nossa volta desaparece. Só pensamos em nós. Estamos sempre muito ocupados. Essa concentração poderá ser boa quando estamos trabalhando. Contudo, nunca devemos nos esquecer de que estamos cercados de pessoas que precisam de atenção e merecem ser valorizadas com os nossos “bom dia”, “obrigado”, “desculpe” e “com licença”. Além disso, lembremo-nos de olhar para os outros em casa. Se formos casados, reparamos em nosso cônjuge, em nossos filhos, parentes: estão com saúde? Precisam de carinho, de cuidados? Há alguém que precisa ser ajudado? Esses são os sinais do tempo que nos cercam a todo momento. Há também outros sinais: do bairro, da cidade, do país… Orar é sempre preciso. É como o combustível para o carro: sem ele, não anda. A oração nos faz pensar nos irmãos que devemos amar; faz-nos sair de nós mesmos, doarmo-nos: sermos para os outros. Portanto, nunca deixemos de reservar tempo para a meditação da Palavra de Deus. Jesus disse: “Passarão o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão” (v.33). Essas coisas todas que nos cercam passarão, mas as Palavras do Senhor são eternas. Não voltam sem produzir seu efeito (cf Is 55,11).


Sábado (30.11)
Repetição* ou
— Mt 4, 18-22 – Santo André, Apóstolo

Jesus, no início de sua missão, começou a convidar discípulos para ajuda-lo. Talvez o Mestre não precisasse de alguém para acompanha-lo em seu trabalho, mas Ele nos quis ensinar que devemos ter a humildade de pedir ajuda para trabalharmos em sua Messe. Edifica-nos também a prontidão de São Pedro e também de Santo André – cuja festa é hoje – em aceitarem logo o convite de Jesus para passarem a ser pescadores, não mais de peixes, mas de homens (cf. v.20)! Neste Advento, também somos chamados por Jesus a sermos pescadores de homens pelo exemplo de nossa vida cristã.

Talvez nossa vida não tenha sido até agora assim um exemplo edificante, mas chegou a hora de passar a sêlo. Será nossa pronta resposta ao chamado de nosso Mestre. Caminhar ao lado de nosso Salvador será uma honra para nós, porque Ele vai nos ensinando pelo caminho o plano dele para nossa vida espiritual. Abramos, pois, nosso coração à sua Palavra e sejamos dóceis ao seu chamado. Abandonemos aqueles empecilhos que Ele e nós bem conhecemos e, com sua graça, diremos “sim” ao seu convite. Dessa maneira, estaremos nos preparando para um Santo Natal.  

* repetição: Outra possibilidade para a oração do último dia desta semana e também das próximas, é não rezarmos a partir de um texto novo, mas voltar aos momentos em que sentimos maior consolação ou maior desolação nas orações de cada dia, lembrando-nos de que “não é o muito saber que satisfaz a pessoas, mas o saborear internamente, com fé, o que o Senhor nos revelou” (EE 15).


Grupo de partilha das orações da semana: Você já se organizou em grupo, com outros participantes do Retiro do Advento & Natal, para partilhar a vida e a oração pessoal da semana? A partilha da oração pessoal em grupo e com um acompanhante faz parte da dinâmica do Retiro do Advento & Natal, que é uma modalidade dos Exercícios na Vida Cotidiana.


ImagemLuís Henrique Alves Pinto