Igreja: Mãe de todos e todas
Uma reflexão sobre sinodalidade e inclusão a partir do pontificado de Francisco
Pamella Barbosa
Nestes quase 12 anos de pontificado do Papa Francisco, testemunhamos um grande mover do Espírito Santo, que tem direcionado a Igreja para a promoção da vida plena, por meio do cuidado com os filhos e filhas de Deus e com a nossa casa comum.
Ancorada na Palavra de Deus, a Igreja, corpo místico de Cristo, é sinal de unidade no mundo. Em Cristo, sua cabeça, todos os cristãos estão unidos nesse corpo. “É na Igreja, em comunhão com todos os batizados, que o cristão realiza sua vocação”[1].
Papa Francisco, em seu ministério como sumo pontífice, tem consolidado uma eclesiologia fundamentada na unidade e na comunhão do povo de Deus, dando especial protagonismo ao laicato.
Esse corpo de Cristo é formado por diversos membros, dotados de grande diversidade de carismas e dons, que enriquecem e fortalecem a missão da Igreja de anunciar a Boa Nova para toda a humanidade, cumprindo a ordem de Jesus: “Ide por todo o mundo e proclamai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). “Por isso, a Igreja não pode ser uniforme; deve ser diversa, mas unida nesta harmonia sobre o fundamento de Jesus Cristo”[2]
A diversidade da Igreja é composta por pessoas únicas, com suas características próprias, indivíduos diferentes em suas singularidades e habilidades, que foram modelados por Deus, à sua imagem e semelhança, em Seu infinito amor.
O respeito às identidades e diversidades, por meio do acolhimento e da inclusão, é a via que deve ser buscada na Igreja para valorização e reconhecimento das vivências e expressões humanas em suas multiplicidades e complexidades. “A Igreja é chamada a ser sempre a casa aberta do Pai”[3].
“Todos são convidados”[4] para a construção do Reino de Deus e ninguém pode ser impedido de dispor de seus dons nessa missão. “Somos todos chamados pelo Senhor, chamados porque amados”[5]. Por isso, limitar a atuação de pessoas LGBTQIAPN+ na Igreja, é ceifar a missão dada por Deus a cada filho e filha, cuja vocação é amar e servir, “anunciando Cristo pelo testemunho da vida e pela palavra”[6]
Papa Francisco reitera que “na Igreja, ninguém é supérfluo. Ninguém é supérfluo. Há espaço para todos. Assim como nós somos. Todos nós.”[7]. E essa é a riqueza da Igreja: compreender a importância de cada pessoa na missão. Unidade na diversidade. Caminhar juntos. Isso é sinodalidade.
E a eclesiologia de Francisco ensina que “Igreja deve ser sinodal porque cada um de nós tem os próprios carismas a serviço da unidade da Igreja. Não devemos assustar-nos com as diferenças: aliás, assustar-nos quando alguém deseja tornar tudo igual: não, isto não é bom, não é Igreja.”[8]
A Igreja na atualidade enfrenta desafios para pastorear uma sociedade diversa, mas não deve se esquecer que, por sua concepção, é a mãe de todos e todas. “Essa é a Igreja, a Mãe de todos. Há espaço para todos”[9]. E, por esse motivo, ninguém pode ser excluído em razão da identidade de gênero e/ou orientação sexual.
O Papa reitera o apelo para acolher as pessoas LGBTQIAPN+ na Igreja. “É evidente que hoje a questão da homossexualidade é muito forte, e a sensibilidade a esse respeito muda de acordo com as circunstâncias históricas. Acompanhar as pessoas espiritualmente e pastoralmente requer muita sensibilidade e criatividade. Mas todos, todos, são chamados a viver na Igreja”.[10]
Só uma Igreja que ama, respeita e acolhe a todas as pessoas sem distinção, pode atender ao chamado de Cristo de ser sal e luz no mundo. “Caminhar juntos é a via constitutiva da Igreja; a cifra que nos permite interpretar a realidade com os olhos e o coração de Deus”[11].
É urgente e imprescindível que a Igreja seja sinodal e se abra à participação de todos e todas na missão de evangelizar, voltando-se para inclusão, comunhão e cuidado. Ninguém pode ser impedido de servir.
Pamella Barbosa é leiga católica, advogada, bancária e teóloga. Mestra em Teologia Bíblica, é graduada em Teologia e Direito, com foco em temas como diversidade, inclusão e teologia queer. Pertence à Rede Brasileira de Teólogas e à Rede Nacional de Grupos Católicos LGBT.
Notas
[1] CATECISMO da Igreja Católica. SP: Loyola, 2000. N.º 2030.
[2] Papa Francisco, 2017. Diversidade na harmonia. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/cotidie/2017/documents/papa-francesco-cotidie_20171109_diversidade-na-harmonia.html. Acesso em 13/10/23.
[3] Evangelii Gaudium. A alegria do Evangelho sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. Exortação Apostólica. SP: Loyola, 2013. N.º 47.
[4] Papa Francisco, 2023. Acolhimento a “todos”. Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2023-08/papa-francisco-encontro-jesuitas-lisboa-civilta-cattolica.html. Acesso em 13/10/23.
[5] Papa Francisco, 2023. JMJ Lisboa. Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2023-08/papa-francisco-cerimonia-acolhimento-jovens-jmj-lisboa-2023.html. Acesso em 14/10/23.
[6] CATECISMO, 905.
[7] Papa Francisco, 2023. JMJ Lisboa. Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2023-08/papa-francisco-cerimonia-acolhimento-jovens-jmj-lisboa-2023.html. Acesso em 14/10/23.
[8] Papa Francisco, 2017. Diversidade na harmonia. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/cotidie/2017/documents/papa-francesco-cotidie_20171109_diversidade-na-harmonia.html. Acesso em 13/10/23.
[9] Papa Francisco, 2023. JMJ Lisboa. Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2023-08/papa-francisco-cerimonia-acolhimento-jovens-jmj-lisboa-2023.html. Acesso em 14/10/23.
[10] Papa Francisco, 2023. Acolhimento a “todos”. Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2023-08/papa-francisco-encontro-jesuitas-lisboa-civilta-cattolica.html. Acesso em 13/10/23.
[11] Papa Francisco, 2023. A sinodalidade na vida e na missão da Igreja. Disponível em: https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/cti_documents/rc_cti_20180302_sinodalita_po.html#A_sinodalidade_express%C3%A3o_da_eclesiologia_de_comunh%C3%A3o. Acesso em 15/10/23.
Imagem: Di Cavalcanti (1897-976). Maternidade, 1949. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
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Advogada por formação, bancária por profissão e teóloga por paixão.
Mestra em Teologia Bíblica.
Especialista em Teologia Bíblica, em Direito Civil e Direito Processual Civil e em Gestão Empresarial e Estratégica.
Graduada em Teologia e em Direito.
Pesquisadora nas áreas de Bíblia, Diversidade e inclusão, teologia inclusiva, Fé e LGBT+ e teologia Queer.
Membra da Rede Brasileira de Teólogas e da Rede Nacional de Grupos Católicos LGBT.
Musicista e cerimonialista.
