Governança ambiental
Luiz Fernando Krieger Merico
Mística do século XXI — programa nº22
Reflexões a partir das encíclicas
Laudato si’ e Fratelli tutti
Além da dimensão ética e espiritual que cada um de nós deve incorporar para acelerar a transição para a sustentabilidade, como viemos refletindo nos últimos programas, é importante traduzir nossas vontades em processos práticos de mudança que visem ao fortalecimento de uma melhor governança ambiental. Vimos que a construção de uma sociedade global sustentável não é considerada algo prioritário o suficiente para mudar hábitos de consumo, gerar decisões governamentais ou alterar investimentos privados.
O fundamentalismo do crescimento econômico como um fim e a qualquer custo tem nos tornado seres pouco pensantes, pouco inteligentes e tremendamente perversos com os filhos e filhas atuais a da Terra e com os que estão por nascer. Mas mesmo assim não nos desanimemos, devemos considerar que a transição para uma sociedade sustentável é possível, pois já foram realizados avanços e temos que reconhecê-los. Ao mesmo tempo é necessário, sempre e a cada momento, percebermos os desafios que nos são colocados e como respondemos a eles. A encíclica Laudato Si, trata deste assunto em seu capítulo 5.
Neste momento precisamos transformar nosso discurso em efetiva governança ambiental. Precisamos urgentemente construir pontes de governança ambiental entre a sociedade civil, todos os níveis de governo, o setor privado e a academia. Ou seja, fortalecer governanças múltiplas, redes de governança, que ocupem os vazios deixados pelos Estados-nações e facilitem e acelerem a transição para uma sociedade mais sustentável. Governança são as estruturas e os processos pelos quais a sociedade materializa a repartição de poder. Inclui legislações, regulamentações, negociações, mediações, resoluções de conflitos, eleições, protestos e outros modos de tomada de decisões. Não pode, portanto, ser vista como assunto exclusivo de governos, mas como fruto das interações entre muitos atores, incluindo setor privado, sociedade civil, academia etc. A ausência de um processo de governança ambiental é um dos sinais mais inquietantes do momento histórico que vivemos.
Há um amplo debate na sociedade sobre o tema da sustentabilidade, mas os reflexos em ações práticas são poucos. Poucas políticas públicas são de fato efetivas para a reorientação da sociedade no sentido de incorporar os limites que os ecossistemas apresentam; poucas são as mudanças efetivas no comportamento do consumidor e poucas são as mudanças efetivas no processo produtivo. Isto tudo acontece em meio à crescente ampliação de evidências científicas das consequências das alterações ambientais locais, regionais e globais. Mas, se o fortalecimento da governança ambiental é tarefa de toda a sociedade, por que o conjunto de evidências de alterações e degradação da natureza e dos processos naturais não se reflete em ações práticas, ou seja, em uma melhor governança ambiental? Essa questão é fundamental e exige de cada um de nós um considerável esforço para ser respondida.
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Encíclicas ecofraternais do Papa Francisco
Laudato si’, sobre o cuidado da casa comum (2015)
Fratelli tutti, sobre a fraternidade e a amizade social (2020)
Luiz Fernando Krieger Merico é graduado em Geologia (UFPR), mestre em Análise Ambiental (UNESP), doutor em Geografia (USP), possui aperfeiçoamento no Schumacher College (Inglaterra) em Economia Ecológica. É autor do livro Mística do século XXI: Guia de Oração com as encíclicas Laudato Si’ e Fratelli Tutti (e-book).
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IGNATIANA é um blog de produção coletiva, iniciado em 2018. Chama-se IGNATIANA (inaciana) porque buscamos na espiritualidade de Inácio de Loyola uma inspiração e um modo cristão de se fazer presente nesse mundo vasto e complicado.