Retiro Quaresmal 2022 — Quinta semana
« Nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar. »
5º Domingo – Dia 03.04
Jo 8, 1-11
Mulher, onde estão os que acusavam? Ninguém te condenou?
Neste relato Jesus mostra que a comunidade é lugar de perdão, de misericórdia e não de julgamento e condenação. Segundo a lei judaica, a mulher adúltera deveria ser condenada à morte. Jesus está sempre junto do pecador: sabe compreendê-lo e amá-lo. Jesus descobre, no meio da miséria moral, a capacidade de crer e amar, talvez abafada pela mediocridade daqueles que condenam a mulher, projetando sobre ela seu próprio pecado. Para Jesus, como para todo cristão, sempre há possibilidade de perdão, de conversão, pois Ele veio para salvar, não para condenar.
Devemos entender que não basta ser observante da lei para ser justo perante Deus. Muitas vezes, habituados com nossa situação de cristãos, não percebemos a necessidade de rever nossas posições e descobrir a novidade revelada por Jesus. A falsidade, a malícia e a superficialidade de nossas vidas fazem que nos ocultemos sob máscaras de bondade, marginalizando aqueles que classificamos como indignos de conviver conosco.
A impressão de que somos melhores desencadeia uma falsa ideia de nós mesmos e o consequente desprezo dos preferidos de Deus. Lançar pedra nos outros é cômodo: pode dar a sensação de que nada temos a justificar. No final da narrativa, inicia-se o diálogo entre Jesus e a mulher. Não é um diálogo de acusação, mas uma oferta de vida: Eu também não te condeno. Pode ir e não peques mais. É evidente que Jesus não aprovou o pecado, mas demonstrou que não destrói o mal eliminando quem o cometeu. Jesus veio salvar os pecadores e não condená-los. Ele rompe os moldes estabelecidos pelo puritanismo da época, deixa que a mulher saia livremente, concedendo-lhe a vida. olhar para o outro com tal sentimento de posse e que Ele nos ensine o amor que deixa livre, e só por isso é amor.
Graça a pedir:
Dá-nos, Senhor, a graça de reconhecer nossas fraquezas e ajudar na construção do reino com nosso testemunho de amor.
Segunda-feira – Dia 04.04
Jo 8, 12-20
Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não andará nas trevas, mas terá a luz do mundo.
Jesus disse aos fariseus o motivo de não o aceitarem: Vós julgais segundo a aparência; eu não julgo ninguém (v.15). Pode ser isto também que esteja dificultando o reconhecimento da face de Nosso Senhor, por nossa parte, nas pessoas que ele nos manda todos os dias. Infelizmente, muitas vezes nós julgamos as pessoas somente pelo aspecto externo com que se apresentam – bem-vestidas, falando bem; ou, intimamente, ficamos com “um pé atrás” com pessoas malvestidas, que não sabem se expressar bem. São Tiago nos pergunta, descrevendo imagens parecidas, e conclui: Não é verdade que fazeis distinção entre vós e que sois juízes de pensamentos iníquos? (Tg 2, 2-4). Eu não julgo ninguém, disse Jesus!
Terça-feira – Dia 05.04
Jo 8, 21-30
Eu tenho muitas coisas a dizer e julgar a respeito de vocês.
À medida que se aproxima a paixão de Jesus, seu drama torna-se mais agudo. O diálogo entre Jesus e os fariseus é truncado. Não flui, porque os fariseus não se abrem à verdade, não tem disposição para acolher Jesus, o enviado do Pai. Permanecem surdos ao ensinamento dele, impenetráveis à proposta de vida nova. Instalam-se nas trevas do pecado, porque se recusam aceitar a luz divina. O drama de Jesus terminará na cruz, quando se revelará sua divindade com toda a força: “Quando levantarem o Filho do Homem, saberão que eu sou”. Mesmo
encontrando muitos corações de pedra, não é inútil o discurso de Jesus, que insiste em reafirmar sua total sintonia com o Pai. Não foram palavras jogadas ao vento, já que muitos acreditaram nele.
Quarta-feira – Dia 06.04
Jo 8, 31-42
Em verdade, em verdade vos digo: todo homem que se entrega ao pecado é seu escravo.
O desejo de ser livre está no íntimo de cada ser humano. O encontro e a aceitação da Verdade tornam a pessoa livre. Jesus apresenta-se como a Verdade que devolverá a cada um de nós a possibilidade de ser livre, que é condição dos filhos de Deus.
A afirmação fundamental do texto é: faz-se necessária a passagem de uma fé inicial entusiasmada, que aceita Jesus como Messias, profeta, a uma autêntica e adequada confissão da fé cristã, que reconhece Jesus como Filho de Deus. Isso se expressa nos lábios de Jesus quando afirma a necessidade de permanecer em suas palavras, de chegar a descobrir a verdade completa para chegar à liberdade, onde está a verdade pura. A adesão a Jesus não é feita somente de palavras. Ela exige prática, que pressupõe uma ruptura com o que não está a serviço da vida. É isso que as autoridades religiosas não admitem.
Quinta-feira – Dia 07.04
Jo 8, 51-59
Se alguém guardar a minha palavra, não verá jamais a morte.
Jesus é acusado de idólatra, blasfemo e de estar possuído pelo demônio. A resposta consiste na revelação que se centraliza no aspecto da vida. Jesus recebeu do Pai o poder de dar a vida. Aceitá-lo é aderir à vida, superar a morte. Os judeus, uma vez mais, não compreendem, e entendem a vida física, pois o que Jesus está afirmando é a sua superioridade sobre Abraão e os profetas. A reação dos judeus supõe a convicção de que ninguém poderia ser superior a Abraão e aos profetas.
Os judeus conhecem o Deus do Antigo Testamento. Ignoram, não conhecem o Deus revelado em Jesus, assim como sua última palavra dirigida aos homens. No final do texto há um desfecho no qual os judeus entendem estar Jesus se proclamando em igualdade a Deus, e pretendem punir essa blasfêmia como manda a Lei.
Sexta-feira – Dia 08.04
Jo 10, 31-42
Tenho-vos mostrado muitas obras boas da parte de meu Pai. Por qual dessas obras me apedrejais?
O texto de hoje apresenta dois grupos com duas atitudes diferentes diante de Jesus: os que creem e os que não creem. Aqueles que não acreditam em Jesus, além de não crerem,
tentam lapidá-lo, porque ele teria blasfemado ao declarar-se Filho de Deus. Diante dessa atitude, Jesus responde com dois argumentos: o primeiro citando a Escritura, mais concretamente o Salmo 82; e o segundo, pedindo que acreditem ao menos nas obras – só assim compreenderão a mútua imanência entre Ele e o Pai, e deduzirão, com certeza, a igualdade com o Pai.
O mistério de Cristo não pode ser interpretado pelos parâmetros estreitos de nossa mentalidade, condicionada pelas diversas limitações de nossa realidade humana. É pela fé, pela atitude de diálogo e de busca, que se pode obter o encontro com Cristo.
Sábado – Dia 09.04 – Repetição
A oração de cada sábado consiste no exercício chamado de repetição. Trata-se de aprofundar aquilo que rezei durante a semana. Santo Inácio diz: Não é o muito saber que satisfaz a pessoa, mas o sentir e saborear as coisas internamente [EE 2]. Por isso não é apresentada uma nova matéria de oração para este dia. Faço, pois, a oração, a partir do texto ou moção que mais me consolou ou que mais me desolou na semana que passou.
Proposta | Primeira semana | Segunda semana
Terceira semana | Quarta semana
Quinta semana | Semana Santa
Material produzido pelo Pe. Luís Renato Carvalho de Oliveira, SJ, disponível no portal dos Jesuítas Brasil
