Retiro Quaresmal 2022 — Terceira semana

« Um homem havia plantado uma videira na sua vinha, e, indo buscar fruto, não o encontrou… »

3º Domingo – Dia 20.03

Lc 13, 1-9

Senhor, deixa-a ainda este ano… caso contrário, mandarás cortá-la.

Os evangelhos de Mateus e Marcos falam de uma figueira que é símbolo de Israel; enquanto o evangelho de Lucas (o texto de hoje) diz ser a mesma árvore símbolo de todos os homens.

O evangelista Lucas retrata Jesus como sendo paciente e impaciente ao mesmo tempo. Impaciente ao esperar nossa conversão, nossa mudança de coração e de vida. Paciente e compreensivo, por outro lado, porque sabe como esperar e como repetir, de vez em quando, seu chamado para que mudemos nossas vidas. Em suma, Jesus pede e compreende ao mesmo tempo. O tempo parece ser longo, tanto para nós como para a figueira estéril, mas no final do túnel há a certeza de que o fim virá e acontecerá o julgamento. É o mestre da síntese humana e cristã, tanto em suas palavras como em suas ações.

No caminho da vida, há acontecimentos trágicos. Mas não significa que suas vítimas são mais pecadoras que os outros. Ao contrário, são convites abertos para que se pense no imprevisível dos fatos e na urgência da conversão, e para que se construa a nova história. Jesus utiliza no contexto da época em que esteve entre nós. Uma desgraça não é sinal de castigo divino para os que são atingidos por ela, mas um apelo à conversão para os sobreviventes. Somos todos pecadores e Deus espera frutos de nossa vida. Concluindo, devemos afirmar que Deus tem uma imensa paciência com cada um de nós, e espera a conversão de cada filho seu. Assim sendo, cabe-nos a pergunta: “eu tenho paciência com os que me são difíceis?”

Graça a pedir:
Dá-nos, Senhor, a graça da conversão, para que tenhamos mais paciência com a gente mesmo e com os outros nossos irmãos e irmãs.

Segunda-feira – Dia 21.03

Lc 4, 24-30

Nenhum profeta é bem recebido em sua pátria.

Jesus, logo no início da sua missão, visitou seus patrícios da aldeia de Nazaré, onde ele viveu cerca de trinta anos, e foi por eles rejeitado. Na narração feita por São Mateus, lê-se: Todos diziam admirados: “Donde lhe vem esta sabedoria e esta força miraculosa? Não é este o filho do carpinteiro? Não é Maria sua mãe? Não são seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs não vivem todas entre nós? Donde lhe vem tudo isso?” (Mt 3, 54-56). Infelizmente, os judeus tinham como certo que o Messias, quando viesse à terra, seria um rei forte, cheio de poder, que marcharia à frente de um poderoso exército. Assim, também tinham a ideia de que ele teria uma corte, com seus ministros à frente com toda a pompa, revestidos de preciosos trajes, com vistosos e luxuosos tecidos… Ora, Jesus não se apresentou desse modo, mas como aquele que veio trazer alegria, presença, proximidade, convivência, humanismo, conforme ele leu a seu próprio respeito no Livro de Isaías (61, 1ss). Mais tarde, o Messias ensinar-nos-ia que ele está onde dois ou três estiverem reunidos em seu nome: Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou no meio deles (Mt 18, 20).

Terça-feira – Dia 22.03

Mt 18, 21-35

Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim?

Este capítulo, que é um discurso de Jesus, tem como temática geral a eclesiologia, ou seja, a comunidade (Igreja). Aqui o autor é bastante realista sobre a comunidade cristã, pois aborda a temática da fraqueza humana.

A grande pergunta que se faz é: “quantas vezes devo perdoar?” A mesma pergunta é feita a Jesus, e ele a responde em dois momentos:

  1. Jesus retoma o canto de vingança de Lamec (Gn 4, 24). O perdão não tem limites. O perdão não deve ser metido pela quantidade de vezes… Só o perdão pode salvar a vida da comunidade que se comprometeu com a justiça;
  2. Jesus exemplifica isso na parábola lida por nós no evangelho de hoje. A exigência do perdão se dá na medida em que cada um perdoa de coração o seu irmão. Esse tempo litúrgico da Quaresma é um tempo de conversão.
Quarta-feira – Dia 23.03

Mt 5, 17-19

Não vim para abolir a Lei ou os Profetas, mas para levá-los à perfeição.

Esta é a plenitude que devemos trilhar para conseguir superar o legalismo e os formalismo da lei antiga, que era imposta pelos doutores da lei e pelos escribas.

A expressão Eu, porém, lhes digo, vem interiorizar a lei que será escrita não em tábuas de pedra, mas no coração dos homens. Desse modo, a nova lei discernirá o mal pela sua raiz, no coração, e não apenas quando se manifesta.

Conforme a doutrina dos fariseus, o homem deve praticar as boas obras para tornar-se justo diante de Deus e, dessa forma, alcançar a salvação. Embora a lei tenha saído na casuística e na artimanha dos detalhes imprescindíveis, Jesus propõe uma vivência da lei a partir do coração em sua plenitude. Os ensinamentos da lei e dos profetas não devem estar contidos numa longa lista de preceitos, mas assumidos a partir do coração, como expressão da vontade de Deus.

Quinta-feira – Dia 24.03

Lc 11, 14-23

Todo o reino dividido contra si mesmo será destruído e seus edifícios cairão uns sobre os outros.

Estar com Jesus significa render-se ao ideal de justiça, paz e fraternidade. Quem não colabora com essa tarefa coloca obstáculo à missão. Jesus, ao expulsar o demônio, mostra que a libertação dos endemoninhados é o sinal messiânico, por excelência, da chegada do Reino de Deus.

Para alguns, a expulsão dos demônios é sinal suficiente para reconhecer Jesus e seu futuro Reino. Para outros, o mesmo sinal tem um efeito contrário: eles não creem, e chegam a acusar o Mestre de estar possuído pelo demônio.

Às vezes, um mesmo testemunho pode aproximar ou distanciar alguém da fé, dependendo da atitude de seu coração. O poder de Jesus contra os demônios vem de Deus, é sinal da sua presença; presença que procura criar novas relações entre os homens, construindo assim a nova sociedade.

Sexta-feira – Dia 25.03

Lc 1, 26-38

Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua Palavra.

Não há outro dia na Liturgia que possa ser comparado ao anúncio celebrado hoje. Alguém poderia indagar: “E a Páscoa?”. Sim, é verdade, a Páscoa é a nossa certeza da ressurreição. Mas, para quem acreditou até o fim na Anunciação do anjo, a Páscoa seria uma consequência lógica: não seria possível que a morte prendesse para sempre o Filho de Deus. Ao tomarmos a sério e com profundidade o anúncio do anjo, descobrimos que nada pode nos afastar de Deus. Ele veio morar conosco, “armou sua tenda entre nós”. Desde que o anjo nos anunciou a vinda do “Emanuel”, tudo mais é uma espera confiante. Quem crê que Deus está presente sabe que a morte “não terá a ultima palavra”. Nós cremos e confiamos que o Menino Deus está conosco e que nem a morte, nem a vida nos poderão separar o seu amor.

Sábado – Dia 26.03 – Repetição

A oração de cada sábado consiste no exercício chamado de repetição. Trata-se de aprofundar aquilo que rezei durante a semana. Santo Inácio diz: Não é o muito saber que satisfaz a pessoa, mas o sentir e saborear as coisas internamente [EE 2]. Por isso não é apresentada uma nova matéria de oração para este dia. Faço, pois, a oração, a partir do texto ou moção que mais me consolou ou que mais me desolou na semana que passou.

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Quinta semana | Semana Santa

Material produzido pelo Pe. Luís Renato Carvalho de Oliveira, SJ, disponível no portal dos Jesuítas Brasil

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