Formação do homem novo
Pe. Haroldo J. Rahm, SJ

Julho com Inácio de Loyola
Décimo nono dia
As graças extraordinárias que Inácio recebeu nessa época não só iluminaram o seu espírito, como modificaram algumas coisas em suas atitudes. Poderíamos dizer que puseram mais equilíbrio e bom senso no seu comportamento. Devemos reconhecer que a ausência dessas duas qualidades não raro torna a religião ridícula, senão repulsiva, para pessoas de má formação e sentido crítico.
Inácio se torna mais sociável, conversa com as pessoas. Como é seu costume, observa-se. Quer recuperar, à custa do sono, o tempo perdido em tratar com os outros. Ademais, é ao deitar-se que lhe vêm as melhores inspirações. Mas ele reconhece o engano.
De súbito pus-me a duvidar que esses conhecimentos espirituais fossem do bom espírito, e cheguei à conclusão, comigo mesmo, que mais valia renunciar a eles e dormir durante o tempo do sono. O que fiz.
Autobiografia, 26
Recomeça a comer carne, trata melhor de sua pessoa e de sua saúde, corta as unhas e o cabelo, “após ter começado a ser consolado por Deus e ter visto o fruto que eu produzia nas almas ao ocupar-me delas”.
Essas mudanças têm uma razão de ser. Primeiramente, é consolado por elas, embora Inácio saiba por experiência que nem toda consolação vem de Deus. É necessário, portanto, discernimento e a ajuda de outrem, possivelmente de um confessor esclarecido.
Outra razão é o fruto apostólico que vai colhendo em seu trato com o próximo. E nessa mudança que se opera nele, se manifesta o homem novo de Manresa, um homem disposto a associar-se plenamente aos desígnios de Deus, com Cristo, para a vitória de sua Igreja.
Nas decisões de Inácio há quatro elementos que deseja inculcar também aos seus exercitantes: a inspiração divina, o discernimento, a confirmação da Igreja por um seu representante e finalmente a decisão, que deve ser coisa muito pessoal. Nada se impõe na espiritualidade inaciana, como em toda espiritualidade autêntica: tudo deve partir de dentro.
Baseado nessa visão das coisas, Inácio se decide e se orienta. Deseja ajudar os outros, ser também ajudado. “… Eu estava desejoso de me entreter sobre coisas espirituais e achar pessoas capazes de ter comigo essas conversas”. Precisa comunicar-se, pois contemplou o amor trinitário comunicando-se a toda criatura em movimento contínuo, como também o apostolado de Cristo no Evangelho, todo de comunicação. Na Eucaristia ainda se comunica a seu povo que caminha para o Pai, povo que necessita de militantes para ser levado a Cristo, e com Cristo vencer o inimigo de Deus e da Igreja.
Também eu, Senhor,
quero ser apóstolo, quero trazer outros ao seu seguimento. Dá-me os meios de o realizar, e que nada em mim possa causar a alguém o afastamento dos teus caminhos.
RAHM, Haroldo J. Inácio de Loyola: um leigo de oração. São Paulo: Loyola, 1989. 68 p. p. 43-44.
JULHO COM INÁCIO DE LOYOLA
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